Moléculas quirais – compostos que têm o formato “espelhado” como as palmas das mãos humanas – foram encontradas pela primeira vez fora do Sistema Solar. De acordo com cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) responsáveis pela pesquisa, a descoberta pode ajudar a responder algumas perguntas sobre a origem da vida.
O artigo será publicado na revista “Science”, mas o anúncio da primeira molécula quiral interestelar já ocorreu nesta terça-feira (14) na reunião da Sociedade Astronômica Americana. Esse tipo de molécula domina quase toda a vida na Terra, mas a ciência não sabe exatamente quando, onde e por quê.
Os dois lados das moléculas quirais têm quase as mesmas propriedades físicas, como temperaturas de ebulição e fusão. Os seres vivos, no entanto, “escolhem” um dos lados para realizar os seus processos biológicos. As uvas, por exemplo, sintetizam sempre com a parte “canhota” da molécula de ácido tartárico. Todos os seres vivos usam exclusivamente o lado direito da ribose de açúcar – espinha dorsal do DNA.
Apesar de essa escolha por um lado só ser comprovadamente vantajosa para a evolução, a ciência ainda não descobriu como a vida na Terra escolheu essa lateralidade diante das moléculas quirais em toda a biosfera.
“Homoquiralidade é umas das propriedades mais interessantes da vida”, disse o PhD e professor de química Geoffrey Blake, um dos autores do estudo.
Blake e seus colegas da “National Radio Astronomy Observatory (NRAO)” procuraram uma nuvem chamada Sagitário B2 (N). O projeto, liderado pelo co-autor Anthony Remijan, examinou a estrutura dessa nuvem por meio de um radiotelescópio durante anos. Por lá, eles encontraram o quiral óxido de propileno (CH3CHOCH2).
“É a primeira molécula detectada no espaço que tem a propriedade de quiralidade, se tornando um salto pioneiro à frente na compreensão de como as moléculas prebióticas são feitas no espaço e os efeitos que podem ter sobre as origens da vida”, disse Brandon Carroll, primeiro co-autor no estudo e graduado junto ao grupo de Blake.
Em estudos futuros, esses cientistas esperam determinar se o óxido de propileno na nuvem é mais “destro” ou “canhoto”, e o que poderia apoiar ou desmentir as explicações para a origem da Terra. (Fonte: G1)