A população do município de Tefé, interior do Amazonas, consome quatro vezes mais peixe que a do restante do país. A atividade pesqueira na região do Médio Solimões emprega mão de obra local e movimenta, em média, cerca de dois milhões de dólares por ano. Esses são alguns dos resultados divulgados pelo livro “Estatística do monitoramento do desembarque pesqueiro na região de Tefé – Médio Solimões: 2008-2010”, lançado esta semana pelo Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
O livro, disponível para download, reúne os dados do monitoramento realizado pela equipe do Programa de Manejo de Pesca do Instituto. É o segundo publicado com os resultados da pesquisa sobre a pesca e comercialização do pescado no município. Esse monitoramento é realizado há cerca de 20 anos pela instituição. Tefé é um dos principais municípios da região do Médio Solimões. Localizada a cerca de 550 km de Manaus, capital do Amazonas, a cidade possui população estimada em cerca de 62 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O consumo anual médio de peixe em Tefé foi de 30kg por habitante. Enquanto, no Brasil, o consumo médio anual foi estimado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), referente aos anos de 1996 e 2010, em 7,33kg por habitante. Pollianna Ferraz, técnica no Instituto Mamirauá e uma das autoras da publicação, contou que a predileção pela carne de peixe em Tefé reitera que o consumo do produto na região Amazônica está entre os maiores do mundo. “Aqui, há o hábito cultural de consumir peixe, porque ele sempre esteve em abundância. O acesso fácil faz com que, ao logo de muitos anos, também haja um gosto popular pelo peixe. Além do preço que aqui é muito baixo. E apesar da produção das espécies ser sazonal, o ano todo tem peixe no mercado”, comentou.
O estudo destaca que o alto consumo de peixe na região também pode estar associado à falta de criação animal em larga escala, como carne de boi e de frango, o que torna esses produtos mais caros no mercado local. Na publicação, também estão listadas as 16 espécies preferidas pela população tefeense, com destaque para o jaraqui, em primeiro lugar, seguido do curimatá, do pacu, do aruanã, do acari, do tucunaré e do tambaqui. O peixe com mais alto valor no mercado, neste período, foi o tambaqui, vendido por cerca de US$2,80 o kg. Enquanto outras espécies com preço por kg mais baixo, inferior a US$0,85, tiveram mais alto valor na produção bruta.
O estudo enfatiza que a produção pesqueira desembarcada no município, durante os três anos, foi de mais de sete mil toneladas e que a atividade movimenta em torno de dois milhões e cem mil dólares por ano no município. Outro dado apresentado na publicação é que a maior parte da produção desembarcada no município é oriunda de localidades no entorno das Reservas Mamirauá e Amanã, sendo que a pesca originária das unidades de conservação abastece em apenas 4% a produção local. A canoa com motor rabeta, tradicional na região, é o tipo de embarcação mais utilizada pelos pescadores, com 68% dos registros, e a malhadeira, tipo de rede de pesca, é o apetrecho mais empregado para a pesca, com 47% das respostas.
Pollianna destaca que as informações reforçam para o poder público a importância da pesca para a economia da região, para gerar dados para subsidiar a conservação do recurso pesqueiro e contribuir para a garantia de benefícios sociais para os pescadores. “A pesquisa continuada é importante para ver o antes, o durante e o depois e fazer comparações ao longo do tempo. Tem a questão do Governo poder ver como a produção de peixe é importante para a circulação de dinheiro em Tefé. Como é um ponto da economia muito importante. E outra coisa é, ao longo do tempo, ver como os estoques de determinadas espécies vêm diminuindo ou aumentando, por exemplo”, comentou.
O monitoramento acontece diariamente com a coleta de dados durante o desembarque pesqueiro no porto municipal de Tefé e, desde 2010, também no Frigorífico Frigopeixe. Os pescadores respondem a uma série de questões sobre a produção, como as espécies desembarcadas, a localidade da pesca, os tipos de apetrechos utilizados, o tipo de embarcação, o tamanho da equipe e quantidade de dias para a pesca, entre outras. A maior parte dos pescadores que participaram da pesquisa são associados à Colônia Z4 de Pescadores de Tefé, que conta com cerca de 3.400 pescadores profissionais registrados.
Os dados divulgados pelo livro também demonstram que a quantidade de peixe desembarcada e comercializada no município vem aumentando ao longo dos anos. A produção de 2010 foi 18% maior que a produção média dos outros 18 anos de monitoramento. A equipe associa o aumento ao início da recepção do pescado pelo Frigorífico Frigopeixe. “À medida que aumenta a demanda, os pescadores aumentam o ritmo de pesca. E, em função disso, estamos percebendo um aumento da produção, quando comparado com os anos anteriores”, disse a técnica do Instituto. (Fonte Instituto Mamirauá)