Em julho de 2015, 85 anos depois da descoberta do nono e último planeta orbitando o Sol, a humanidade pela primeira vez pôde ver Plutão de perto. Finalmente o pequeno e longínquo mundo gelado era a estrela do show.
Com o tamanho de um pequeno piano de cauda, a sonda New Horizons, da Nasa, aproximava-se de seu destino depois de uma viagem de nove anos e 5 bilhões de quilômetros. Singrando o espaço a 50 mil km/h, a sonda enviou para a Terra imagens espetaculares e repletas de detalhes.
Em 14 de julho, a New Horizons chegou a 12.500 km de Plutão, a menor distância que qualquer objeto humano alcançou até hoje. E revelou mais do que a missão esperava encontrar, a começar pelas paisagens fantásticas com tons avermelhados, em vez de apenas o gélido cinza.
“Todos pensávamos que (o planeta) seria interessante e esperávamos que fosse diverso. Mas todas as expectativas foram superadas”, diz Bill McKinnon, cientista planetário da Washington University, em St. Louis (EUA) e um dos integrantes da missão New Horizons.
A sonda já transformou o conhecimento da ciência sobre Plutão e a região conhecida como Sistema Solar Exterior, localizada após o cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Os recantos mais remotos poderão ajudar os cientistas a encontrar mais pistas de como o Sistema Solar se formou. “Nós estamos indo aonde nenhum homem foi antes”, celebra McKinnon.
Ainda no início da década de 90, astrônomos começaram a desconfiar de que Plutão não estava sozinho. E descobriram que o Sistema Solar Exterior estava repleto de um “enxame” de pequenos objetos congelados, que foi batizado de Cinturão de Kuiper, uma espécie de anel gelado além da órbita de Netuno.
Em 2005, foi encontrado Eris. Um objeto maior que Plutão e que desafiou seu status de planeta. Plutão, então, poderia ser apenas mais um elemento do Cinturão de Kuiper, e não parte do grupo principal de planetas. Depois de intenso debate, Plutão foi rebaixado, no ano seguinte, à categoria de planeta-anão.
Houve quem lamentasse a demoção, mas a nova classificação foi resultado de um entendimento mais profundo do Sistema Solar Exterior. Em vez de um mundo isolado e na periferia, Plutão passou a ser considerado como o começo de algo novo: um exemplar de uma possível coleção de novos mundos.
Essa visão já tinha entusiasmado a Nasa mesmo antes da decisão de rebaixar Plutão, por sinal, já que a New Horizons foi lançada em janeiro de 2006.
Sondas já tinham visitado todos os outros planetas do Sistema Solar, então a New Horizons poderia preencher uma lacuna na exploração espacial. Mas apesar de toda a experiência de encontro com mundos alienígenas, os cientistas não conseguiam imaginar o que encontrariam em Plutão. Passado mais de um ano desde o encontro com o planeta-anão, a New Horizons já enviou 80% dos dados captados, com o restante esperado para o mês de outubro.
Os cientistas passam seu tempo peneirando esse manancial de informação. E estão convencidos de que se trata de um mundo de variedade e complexidade impressionantes.
“Sabíamos que seria estranho e diferente de tudo o que conhecíamos”, diz Mike Brown, astrônomo da Universidade da Califórnia e um dos descobridores de Eris. “Só não sabíamos o quanto”.
Plutão fica longe, muito longe. Enquanto a luz solar demora apenas oito minutos para chegar à Terra, a viagem para Plutão é de mais de cinco horas. E mesmo assim pouca luz chega até lá: o Sol tem brilho 1.500 vezes menor do que o visto do nosso planeta. Isso faz com que Plutão também seja muito frio: a temperatura média é de 230 graus negativos. Uma superfície tão frígida deveria ser congelada e dormente.
Astrônomos, porém, já sabiam que a superfície de Plutão tinha algum tipo de atividade. O planeta-anão tem variações violentas de temperatura, causando mudanças em sua superfície e sua fina atmosfera.
Mas a New Horizons encontrou uma superfície que superava tudo o que se havia imaginado. Grande parte daquele formato de coração que se destaca nas famosas fotos de Plutão é na verdade uma grande geleira, a maior do Sistema Solar – formada por uma vasta quantidade de nitrogênio congelado.
Além disso, os cientistas agora suspeitam que duas das mais altas montanhas do planeta-anão, os Montes Wright e Piccard, podem até ser vulcânicas, cuspindo formas congeladas de água, metano, nitrogênio e outros.
Diferentemente de outros vulcões gelados do Sistema Solar, como os encontrados em Ganimedes (uma das luas de Júpiter) e na lua saturnina de Enceladus, os vulcões de Plutão são verdadeiras formações montanhosas e mais parecidos com os da Terra. Só que Plutão tem pelo menos uma semelhança intrigante com as luas mencionadas anteriormente: possui um oceano debaixo de sua camada gelada.
A teoria é que, pouco depois de Plutão ter sido formado, elementos radioativos em seu núcleo podem ter derretido um pouco do gelo em volta.
Essa água deveria ter congelado de novo, mas análises feitas por computador sugerem que deveria ter formado um tipo de gelo mais denso e “encolhido” o planeta, deixando como rastros falhas geológicas na superfície. Só que a New Horizons não encontrou nenhum sinal delas.
Muito da evidência ainda é circunstancial. Para ter certeza sobre o oceano, por exemplo, será preciso enviar outra espaçonave a Plutão para estudar do alto o interior do planeta-anão, algo que não deverá acontecer tão cedo. Mas a possibilidade de existência desse oceano sugere ainda que outros objetos do Cinturão de Kuiper também possam tê-los. E isso dará muito mais pistas sobre a formação do Sistema Solar quando novas missões, como a do Grande Telescópio Sinótico, previsto para entrar em operação em 2023, começarem a explorar outras regiões de Kuiper.
A visita da New Horizons a Plutão foi curta, mas a missão continua. Em 1º de janeiro de 2019, a sonda passará por um objeto bem menor do cinturão, chamado MU69. Por ser bem menor que o planeta-anão, MU69 dificilmente terá geleiras ou vulcões, mas promete conter mais secretos sobre o Cinturão de Kuiper e o Sistema Solar.
“Tivemos uma viagem fantástica até os confins do Sistema Solar, mas ainda não terminamos. Plutão pode até ser o último dos planetas mais clássicos, mas ainda há muito o que explorar”, finaliza McKinnon. (Fonte: Terra)