A doença conhecida por ter provocado a morte prematura de poetas e boêmios nos séculos 19 e 20 pode não estar mais presente no cotidiano da classe média brasileira, mas ainda faz muitas vítimas nos grupos sociais menos favorecidos. Um estudo feito por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP avaliou o impacto de diversos fatores socioeconômicos no risco de tuberculose e concluiu que a aglomeração dentro das casas é um dos principais mecanismos que podem explicar a associação entre tuberculose e pobreza.
O estudo, publicado em abril na revista científica “PLOS ONE”, levou em conta os dados de diagnósticos de tuberculose de 5.565 municípios brasileiros em 2010 e os avaliou em conjunto com os dados socioeconômicos desses municípios obtidos no Censo 2010.
É fácil entender esse mecanismo: “As pessoas que estão contaminadas e tossem, espirram ou falam expelem a bactéria no ar e, quanto mais pessoas ao redor, maior o risco de infecção e de desenvolver a doença”, diz a pesquisadora Daniele Maria Pelissari, uma das autoras do estudo.
Estudos anteriores já encontraram uma associação entre a pobreza e a desigualdade social com a tuberculose. “A pobreza determina que as pessoas vivam em ambientes aglomerados, o que aumenta o contato e o risco de tuberculose”, explica a pesquisadora.
Para o médico Fredi Alexander Diaz Quijano, professor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP e um dos autores do estudo, esse achado revela um alvo de intervenção importante capaz de reduzir o efeito da pobreza sobre o risco de tuberculose. “A situação não teria de ser necessariamente resolvida com recursos econômicos, mas corrigindo o modo de vida, a organização intradomicilitar e a estrutura.”
Quijano explica que a associação com a tuberculose começa a aparecer quando existem, em média, duas pessoas ou mais dormindo por cômodo da casa. Iniciativas de estímulo a planejamento de moradias mais adequadas e organizadas de modo a inibir a transmissão da doença podem ter um impacto importante na saúde pública.
Segundo a OMS, o Brasil está em 20º lugar no ranking dos países com maior número de casos de tuberculose no mundo. Em 2015, foram registrados quase 67,8 mil novos casos no Brasil e 4,6 mil mortes pela doença.
No fim de junho, o Ministério da Saúde lançou o Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose que leva em conta a questão dos indicadores socioeconômicos das cidades como norteadores de políticas públicas contra a doença.
Além das políticas públicas, ações individuais também podem reduzir o risco de propagação da tuberculose. “A primeira coisa é não negligenciar o sintoma da tosse. Quando a tosse persiste por três semanas ou mais, é preciso buscar uma unidade de saúde”, diz Daniele.
Uma vez diagnosticado, é importante fazer o tratamento até o final. “O tratamento é longo, demora no mínimo seis meses em casos de tuberculose sensível. Muitos começam a apresentar melhora e abandonam o tratamento, aí desenvolvem formas resistentes da doença.” Segundo a especialista, um tratamento adequado reduz o risco de transmissão da doença a partir de 20 dias.
A tuberculose é uma doença provocada pelo Mycobacterium tuberculosis, o bacilo de Koch. A transmissão pode ocorrer de uma pessoa para outra pelo ar por meio de partículas eliminadas na respiração, espirro e tosse. A doença aparece quando o bacilo chega aos pulmões e provoca uma inflamação nos tecidos à sua volta. Em resposta, o pulmão produz muco, o que leva à tosse.
Os sintomas iniciais são febre baixa, cansaço, mal estar, fraqueza, tosse, dor no corpo, suor noturno e falta de apetite. Ao longo do tempo, o mal estar se acentua, o paciente emagrece e a tosse persiste, podendo ocorrer com sangue. A doença também pode atingir outros órgãos. O diagnóstico é feito com raio-X e exames de escarro.
O tratamento, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), deve ser feito sem interrupção por no mínimo seis meses. A vacina BCG, indicada para bebês e crianças de até 5 anos de idade, previne contra as formas de tuberculose mais graves. (Fonte: G1)