Foi na localidade da Cruz de Pedra, no interior da cidade gaúcha de Rosário do Sul, que pesquisadores encontraram rastros de anquilossauros. Segundo o doutorando em geociências na área de paleontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Heitor Francischini, trata-se da evidência mais antiga da presença destes dinossauros na América do Sul.
De acordo com Francischini, os anquilossauros são um grupo de dinossauros encouraçados, quadrúpedes e herbívoros. Eles surgiram no período Jurássico, há cerca de 200 milhões de anos, mas se tornaram mais comuns no período Cretáceo, entre 145 e 65 milhões de anos atrás.
A descoberta, na verdade, ocorreu em 2014. Foi quando o pesquisador esteve na região para examinar pegadas já existentes, e foi surpreendido.
“Estivemos na região de Rosário do Sul e Santana do Livramento em 2014 para analisar algumas pegadas de dinossauros que já eram conhecidas. Porém, naquele momento nos deparamos com novas pegadas em uma nova localidade”, explica o pesquisador ao G1.
O trabalho gerou um artigo científico publicado na revista Ichnos e cujo resultado foi divulgado no último mês.
O foco da pesquisa de Francischini é sobre icnofósseis, ou seja, evidências não-corporais de dinossauros e outros animais fósseis, ou seja, tudo aquilo que não for o resto do corpo do animal. Por exemplo, pegadas, coprólitos (fezes fósseis) e tocas.
“Em outras palavras, outros vestígios que não ossos, dentes, escamas, conchas e outras partes do corpo dos organismos”, detalha.
Segundo o pesquisador, registros de anquilossauros são muito comuns no Hemisfério Norte, mas bem raros no Hemisfério Sul. Na Bolívia, já havia registros da presença de anquilossauros, em rochas cretácicas.
“No Brasil, até foram propostas algumas evidências, mas depois os pesquisadores viram que se tratavam de outros animais ou não tinham certeza de sua ocorrência”, pondera.
“O registro de Rosário do Sul tem aproximadamente 150 milhões de anos e, por isso, é a evidência mais antiga destes animais para a América do Sul”.
Francischini explica que a região de Rosário do Sul e Santana do Livramento, já para o lado da Fronteira Oeste do estado, é conhecida por possuir pegadas de dinossauros desde 2007. Todos os rastros possuem aproximadamente 150 milhões de anos.
“Porém, podemos encontrar pegadas fósseis em outras localidades do estado. Por exemplo, São João do Polêsine possui um afloramento com pegadas de animais muito pequenos, com aproximadamente 230 milhões de anos”, acrescenta. “Mas as rochas do período Jurássico ocorrem majoritariamente no Oeste. São rochas muito raras no Brasil, então temos sorte de poder trabalhar na região”, acrescenta.
O pesquisador não descarta que haja mais registros de anquilossauros no país, mas a falta de dados impede a confirmação. “Ainda nunca se achou ossos ou dentes destes animais no Brasil”, ressalva. (Fonte: G1)