O desmatamento na Amazônia Legal caiu 21% em um ano, interrompendo uma curva de crescimento após cinco anos. É o que mostram os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), divulgados nesta terça-feira (22) com exclusividade pelo G1.
Entre agosto de 2016 e julho de 2017, período chamado de calendário de desmatamento e utilizado como parâmetro de medição por conta das condições climáticas locais, o desmatamento acumulado na área foi de 2.834 km² – isso equivale, no entanto, a quatro cidades de Salvador em área destruída. Trata-se de um índice menor apenas que o do ano passado (3.580 km²) e retrasado (3.323 km²) na série histórica.
Todos os estados da Amazônia Legal apresentaram queda no total das áreas desmatadas. A maior baixa foi encontrada no Tocantins, onde o desmatamento diminuiu 54%.
Desmatamento acumulado – Mato Grosso e Pará, os “campeões” históricos de desmatamento, também apresentaram quedas, mas seguem com taxas elevadas de áreas destruídas.
No caso de Mato Grosso, a diferença entre os dois anos foi de 15% – passou de 949,3 km² desmatados para 809,6 km². Proporcionalmente, porém, o desmatamento do estado, levando em conta seus vizinhos da região, cresceu. Entre agosto de 2015 e julho de 2016, Mato Grosso foi responsável por 26,5% do desmatamento total da Amazônia Legal. Nos 12 meses seguintes, o percentual subiu para 28,6%.
Já o Pará teve queda tanto no número absoluto de quilômetros quadrados desmatados (31% de queda) quanto na proporção total (passou de 28,8% para 25,2%). Como o estado apresenta números elevados de desmatamento (1.030,3 km² em 2015/2016 e 713,8 km² em 2016/2017), a sua queda é a mais representativa, segundo o Imazon.
“Pará e Mato Grosso sempre foram dois estados que ‘competiam’ para ver quem desmatava mais. São os estados que têm mais atividades que exercem pressão na floresta. Mato Grosso tem histórico de cultivo de grãos e pastagem, e, no Pará, há as obras de infraestrutura, de hidrelétrica, de rodovias”, afirma Antônio Victor, pesquisador do Imazon e um dos coordenadores do Boletim do Desmatamento.
“Como o Pará é um dos estados que historicamente mais desmatam, a sua queda puxou a redução nacional.”
Segundo o pesquisador, como os dados do calendário do desmatamento 2016/2017 foram fechados nesta semana, o instituto ainda não conseguiu fazer um trabalho de análise e em campo para identificar o que motivou as quedas nos estados e na Amazônia Legal como um todo. Por isso, trabalha apenas com as bases estatísticas para indicar as tendências de desmatamento na região.
O monitoramento do Imazon é feito paralelamente ao oficial, que é o do sistema Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal), do Inpe. Os dados oficiais de 2016/2017 ainda não foram divulgados.
As metodologias são distintas (os satélites utilizados para a medição diferem) e os números dos sistemas, por serem gerados com métodos diferentes, não podem ser comparados entre si.
O Imazon utiliza imagens do sensor Modis, que identifica desmatamentos com mais de 10 hectares de tamanho (já considerados grandes desmatamentos). A vantagem, segundo o pesquisador do instituto, é que o sensor consegue contornar bem a cobertura de nuvens, já que disponibiliza imagens diariamente. Já o Prodes utiliza imagens de vários satélites e identifica desmatamentos menores, mas disponibiliza imagens com menos regularidade, o que dificulta a execução de boletins mensais.
Áreas protegidas – Apesar das quedas, o instituto faz um alerta por conta dos altos níveis de desmatamento em áreas protegidas da floresta, algo que já aconteceu no ano anterior, mas se consolidou em 2017. Mais de 20% de todo o desmatamento na Amazônia Legal dos últimos 12 meses foram registrados em áreas de conservação ou terras indígenas. Elas apenas “perdem” para o desmatamento registrado em terras privadas. Em seguida, estão áreas desmatadas em assentamentos.
“Existe no país todo um debate para reduzir áreas protegidas. Está acontecendo uma pressão para que isso ocorra, e essa pressão acontece por meio do desmatamento”, diz Antônio Victor.
Em junho deste ano, o presidente Michel Temer vetou duas medidas provisórias que reduziam áreas protegidas na Amazônia. A Floresta Nacional do Jamanxim, no sudoeste do Pará, seria a mais atingida. Os projetos que saíram do Congresso reduziriam em mais de um terço o tamanho da reserva, de 1,3 milhão de hectares. Em julho, porém, o governo federal mandou para a Câmara dos Deputados um projeto de lei sobre o mesmo tema em regime de urgência. Segundo os ambientalistas, o novo projeto é pior ainda.
Segundo o pesquisador do Imazon, é possível ver a pressão pela diminuição de áreas protegidas de forma gráfica. “Em julho, os pontos de desmatamento se concentraram em uma área mais ao sul da floresta, entre Amazonas e Rondônia, em um cinturão de conservação. Dá para ver que existe uma pressão para esse desmatamento se deslocar e subir para áreas de floresta mais para cima.”
O pesquisador também chama a atenção para os dados isolados de julho, quando 544 km² de desmatamento foram detectados. Isso representa uma alta de 1% em relação a julho de 2016, quando o desmatamento somou 539 km².
No mês, a maior parte do desmatamento ocorreu em áreas privadas (61%). O restante foi registrado em unidades de conservação (22%), assentamentos de reforma agrária (15%) e terras indígenas (2%).
“A maior parte do desmatamento ocorre entre julho e setembro por conta da redução das chuvas, então é a partir de agora que começa a ter mais destruição. A área desmatada de julho deste ano foi basicamente a mesma da de julho do ano passado, então fica aí um alerta para os próximos meses”, diz Antônio Victor. (Fonte: G1)