Governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou oficialmente nesta semana que pretende acabar com o Plano de Energia Limpa (Clean Power Plan), amplamente reconhecido como a legislação fundamental de seu predecessor, Barack Obama, para diminuir a emissão de gases de efeito estufa do país.
O Plano de Energia Limpa foi criado para se tornar uma política-chave no âmbito ambiental, permitindo aos EUA alcançar as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris para limitar o aumento da temperatura global a menos de 2°C.
Nesta terça-feira (10), Scott Pruitt, diretor da Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) assinou um documento que propõe o fim do Plano de Energia Limpa, uma das promessas de campanha de Trump. A medida “facilitará o desenvolvimento dos recursos energéticos dos Estados Unidos e reduzirá cargas reguladoras desnecessárias”, justificou Pruitt em um comunicado. A proposta terá agora que aguardar 60 dias para comentários públicos.
Para Sam Adams, diretor do World Resources Institute (Instituto de Recursos Mundiais) nos EUA, a proposta “ignora completamente a forma como as emissões dos EUA contribuem para os impactos climáticos globais”.
“Após enfrentarmos superfuracões, em parte impulsionados pelo aquecimento dos oceanos, não é hora de recuar no compromisso do país de reduzir os riscos causados pelas mudanças climáticas”, acrescentou Adams.
A rejeição, por Trump, do Plano de Energia Limpa não é surpresa e quase não é novidade para aqueles que vêm acompanhando a reversão de padrões ambientais em geral e, em particular, da proteção do clima pelo presidente americano.
Metade das metas
Numa análise publicada em setembro, o New Climate Institute avaliou que o compromisso para reduzir emissões de estados, cidades e empresas dos EUA atualmente faz com que o país consiga cumprir metade das metas nacionalmente determinadas, definidas no Acordo de Paris.
Até 2025, os esforços de estados, cidades e empresas deverão reduzir as emissões de 12% a 14% em relação aos níveis de 2005. O relatório analisou 342 compromissos de 22 estados americanos, 54 cidades do país e 250 empresas com sede nos Estados Unidos.
Segundo o levantamento, as cidades são as mais ambiciosas e desempenham papel fundamental na implementação de reduções de emissões de gases causadores do efeito estufa.
Por outro lado, os estados também são fundamentais para contribuir com os esforços de reduzir os efeitos do aquecimento global, devido à larga escala de mudanças que podem impulsionar. Os compromissos mais ambiciosos para reduzir as emissões de poluentes foram, no entanto, fechados pelas empresas.
Coalizões-chave desempenham papel ativo
Depois que ficou claro que Trump tinha a intenção de tirar os EUA do Acordo de Paris, várias coalizões se formaram para tentar fazer frente à decisão do presidente americano.
A Aliança Climática dos Estados Unidos inclui Califórnia, Nova York, Colorado e 15 outros estados americanos cujos partidos – usualmente antagônicos – estão trabalhando em conjunto para coordenar ações de redução de emissão de gases poluentes de acordo com as metas estipuladas pelo Acordo de Paris.
Alinhada com essa coalizão, a iniciativa ainda mais ampla We Are Still In (Ainda Estamos Dentro) se formou entre cidades e condados norte-americanos, líderes empresariais e investidores, além de grupos étnicos e universidades. Cerca de 2.300 líderes assinaram a iniciativa até agora.
O ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg e o atual governador da Califórnia, Jerry Brown, respectivamente designados pelas Nações Unidas como enviado especial e conselheiro do clima, também iniciaram a Promessa Americana para o Clima (America’s Pledge) para reduzir as emissões americanas seguindo o Acordo de Paris.
Encarando o futuro
Steve Benjamin, prefeito de Columbia, na Carolina do Sul, e codiretor da campanha Prefeitos pela Energia 100% Limpa, explicou as motivações dos líderes municipais à DW.
Para Benjamin, tudo se resume a pensar no futuro: “É bom para os negócios, é bom para a saúde pública de nossos cidadãos e é a única maneira de podermos entregar para os nossos filhos o mundo que eles merecem – e para os filhos dos nossos filhos.”
Mas a questão continua: a ação local contra os efeitos das mudanças climáticas é suficiente? Ou seja, ela pode compensar a diferença na redução de emissões dos Estados Unidos?
Niklas Höhne, do New Climate Institute, acha que a resposta é um claro “sim” – especialmente quando se consideram as forças do mercado interessadas na expansão de energias renováveis.
Höhne destaca que o estudo do New Climate Institute analisou apenas uma subcategoria de atividades: aquelas que são registradas e facilmente quantificáveis.
“Apenas quantificamos 350 — mas há muito mais [ações de combate ao aquecimento global], na ordem de 2 mil [apenas nos EUA]”, disse o especialista à DW. “Essas [atividades] têm o potencial de fechar a lacuna.”
Fonte: G1