A 23ª sessão da Conferência da Partes (COP 23) terminou na madrugada deste sábado (18) em Bonn, na Alemanha, com a presença de representantes governamentais e independentes dos Estados Unidos e um clamor por mais “mais ambição” dos países no combate ao aquecimento global.
O que se tem até agora é um documento com centenas de páginas, o chamado “Livro de Regras”. Já está praticamente tudo neste texto, mas ainda existem vários pontos que precisam ser costurados, como os critérios para medir a redução das emissões de gás carbônico e de fiscalização dessas metas.
Esse documento preliminar – que estava no topo da agenda desta COP – avançou, mas ainda é “um índice” do que precisa ser feito, de acordo com Tasso Azevedo, coordenador e pesquisador do Observatório do Clima. Os países ainda terão um longo trabalho pela frente até a próxima COP, no ano que vem, quando termina o prazo pra que esse “Livro de Regras” fique totalmente pronto.
“A negociação internacional foi resgatada de uma possível reabertura do racha entre ricos e pobres. Só que, infelizmente, a atmosfera não está nem aí para nossos processos diplomáticos. O que precisamos agora é mais ambição em cortes de emissões e finanças, e isso esteve fora da mesa. Enquanto isso, a janela para prevenir o aquecimento global de 1,5ºC está se fechando rapidamente”, disse Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Segundo os especialistas, a reunião se fixou no debate sobre as responsabilidades dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Márcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, disse que já era previsto que esta seria uma “conferência de transição”.
“Não entregamos uma grande ambição, nem mudamos prazos”, explicou. “Aconteceram alguns avanços, tivemos entendimentos, mas coisas que servem para a bolha dos participantes da conferência, coisas sobre artigos do texto e detalhes, sem mudanças fortes práticas”, explicou.
Presença americana
Os Estados Unidos compareceram à conferência. De acordo com ambientalistas que estiveram na COP, alguns empresários e políticos americanos participaram e, independente da determinação de Donald Trump em sair do Acordo de Paris, disseram que vão manter os projetos para redução de emissões, as tentativas de preservação do meio-ambiente e as metas para combater o aquecimento global.
“No começo, estavam todos muito apreensivos com a questão dos Estados Unidos. Que poderia atrapalhar demais, ou contaminar outros países. Isso acabou não acontecendo, pelo contrário. Teve uma reação muito forte de governadores, de empresas americanas, que apesar do anúncio do presidente querem continuar no Acordo”, disse Astrini.
Por outro lado, o ato de estreia do governo do presidente dos Estados Unidos foi alvo de manifestação de centenas de jovens. O único evento oficial da delegação americana pretendia promover o “acesso universal aos combustíveis fosseis e á energia nuclear, tendo como oradores os executivos da Peabody Energy, uma multinacional do carvão, da NuScale Power, de engenharia nuclear, e da Tellurian, uma grande exportador de gás natural.
O Brasil
O Brasil recebeu um reforço de R$ 420 milhões da Alemanha e do Reino Unido para financiar projetos de manejo sustentável de florestas no Acre e no Mato Grosso. Da Noruega, maior doadora do Fundo Amazônia, nenhum centavo a mais.
Vidar Hegelsen, ministro norueguês do Meio Ambiente, classificou de “positiva” a queda de 16% na taxa de desmatamento da Floresta Amazônica entre agosto de 2016 e julho deste ano.Em junho último, ele havia crido a política ambiental do Brasil que, logo na sequência, viu o repasse de verbas norueguesas cair.
Ao mesmo tempo que os brasileiros receberam investimento financeiro, também ganharam o “prêmio Fóssil do Dia”, uma crítica irônica à medida provisória que propõe reduzir impostos de exploração e produção de petróleo e gás.
A MP 795 foi aprovada em comissão mista em outubro e encaminhada para a votação na Câmara dos Deputados e no Senado.
“O ganhador do Fóssil de hoje é o Brasil, por propor dar às companhias de petróleo US$ 300 bilhões em subsídios”, diz o perfil da organização do prêmio no Twitter (veja abaixo). Segundo um estudo da consultoria legislativa da Câmara dos Deputados, a perda na arrecadação de impostos seria de R$ 1 trilhão em 25 anos.,
Aumento da ambição
Mesmo se os quase 200 países que assinaram o Acordo de Paris cumprirem 100% dos seus compromissos, será feito apenas um terço do que é necessário para combater as mudanças climáticas. O dado alarmante foi divulgado no último dia 31 de outubro, na 8ª edição do relatório sobre as emissões da ONU Meio Ambiente.
A meta se mantém: manter o aquecimento global abaixo de 2ºC, buscando limitá-lo a 1,5ºC. No entanto, desde o início da conferência, os representantes entendem que é necessário “aumentar a ambição” para conseguir atingir esse objetivo.
No ano que vem, de 3 a 14 de dezembro, acontecerá a 24ª sessão da Conferência das Partes (COP 24) da UNFCCC em Katowice, na Polônia. A presidência polonesa deve complementar e tentar reforçar os esforços de Fiji para acelerar o progresso na finalização do “Livro de Regras” – o documento orientará a implementação do Acordo de Paris e assegurará financiamentos ampliados e previsíveis para os países em desenvolvimento.
Fonte: G1