Parcerias e visão estratégica da ciência são eixos fundamentais para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. A opinião é de pesquisadores que participaram da Mesa O Laboratório da Amazônia do Seminário O Futuro da Amazônia, promovido pela Folha, na segunda-feira (27), no Teatro Manauara. Entre os cientistas está o coordenador de pesquisas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), Paulo Maurício de Alencastro Graça.
A mesa foi composta ainda pelo reitor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Sylvio Puga, e pelo professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rodrigo Leão de Moura, biólogo que liderou pesquisa que descobriu de forma detalhada os recifes coralíneos “escondidos” debaixo da pluma de água do Rio Amazonas.
O diretor do Inpa, Luiz Renato de França, participou do evento, que contou com a presença do pesquisador Reinaldo Corrêa Costa, na Mesa Desenvolvimento Sustentável na Amazônia Urbana. “Este é um evento muito importante e uma ótima oportunidade para o Inpa mostrar o seu protagonismo”, disse França.
Em cenário de restrição orçamentária, fazer ciência é um grande desafio, segundo Alencastro Graça. “Um deles é o recurso financeiro para operar a pesquisa, muitas vezes escassos. É importante que se busque parcerias nacionais e internacionais, e na livre iniciativa como nas indústrias. No Brasil a pesquisa é feita com muito financiamento do governo, e isso tem de mudar um pouco”, declarou.
No Inpa, uma parceria importante é a que se tem é com o Exército Brasileiro, via o programa Pro-Amazônia, que permite pesquisadores acessarem regiões remotas do bioma. No início de 2016, pela primeira vez pesquisadores fizeram uma expedição para a Serra da Mocidade, considerada um marco na pesquisa nas áreas montanhosas da Amazônia. Com o apoio do Comando Militar da Amazônia (CMA), os cientistas descobriram quase uma centena de novas espécies de plantas e animais.
“O recurso no Inpa destinado à pesquisa é muito limitado. O que nos permite sobreviver é que pesquisadores pela sua formação e produtividade são capazes de pegar recursos de fonte de financiamento externo”, destaca o coordenador do Inpa. “Outro problema é que as instituições ligadas ao MCTIC estão reduzindo. Os servidores estão se aposentado, muitos são pesquisadores de ponta, e não está havendo reposição, e é importante que haja essa renovação”, alertou.
A falta de doutores na região e baixa taxa de permanência de profissionais qualificados também prejudicam o desenvolvimento da Amazônia. A região Norte tem apenas 11% do número de doutores do Sudeste brasileiro. “É preciso ter uma política de fixação de doutores e profissionais na região”, destaca Puga.
Rodrigo Leão Moura reforça a necessidade de parcerias para superar as dificuldades de logística e de custo para fazer ciência na Amazônia. O grupo liderado por ele tem recebido o apoio da Marinha do Brasil, especialmente do navio oceanográfico Cruzeiro do Sul, mesmo enfrentando problemas sérios para abastecer e manter regularidade.
“Temos uma infraestrutura limitada em terra, quem dirá no oceano. Os meios navais são muito escassos. Para a oceanografia, a Marinha do Brasil, por exemplo, é essencial, e tem apoiado bastante nossas ações na costa Norte”, contou. “Mas as parcerias também devem ir além, buscando recursos também no exterior. Temos trabalhado bastante para viabilizar esses cruzeiros de descobertas com as universidades norte-americanas, e evidentemente tomar todos os cuidados para que a repartição dos benefícios da geração do conhecimento seja equitativa”, completou.
Para Moura, falta uma visão estratégica da sociedade e de setores econômicos sobre ciência. “É preciso que a sociedade e os entes econômicos enxerguem na academia uma fonte provedora de soluções para os desafios de toda sorte, tecnológicos e inclusive de sustentabilidade”.
Fonte: Inpa