Em artigo publicado na revista Science, nesta sexta-feira (26/01), cientistas de vários países que participaram de uma campanha científica internacional nas proximidades de Manaus, em 2014, afirmam que partículas ultrafinas de aerossóis, de até 50 nanômetros, têm um papel mais importante do que até então se considerava na formação de nuvens de tempestades e no clima da Amazônia. Entre os 21 autores do artigo, estão os pesquisadores brasileiros Luiz Augusto Machado e Ramon Braga, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Paulo Artaxo e Henrique Barbosa, do Instituto de Física, da USP, Rodrigo Souza, da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e Helber Gomes, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Durante a campanha científica GoAmazon, com medições in situ e a partir de sobrevoos de aviões dos Estados Unidos e da Alemanha, o principal objetivo foi verificar o papel das partículas de aerossóis – provenientes de poluição atmosférica urbana e industrial, incêndios florestais, entre outras fontes – na formação de nuvens de tempestade.
Segundo Luiz Augusto Machado, pesquisador do CPTEC/INPE, a influência dos aerossóis no clima já era conhecida. No entanto, “o novo estudo mostra que partículas menores também têm forte relação com o crescimento de nuvens, a intensidade das tempestades e o volume das chuvas”, comenta Machado.
O pesquisador do CPTEC/INPE explica que o vapor d’água na atmosfera condensa ao atingir a superfície das partículas de aerossóis, formando gotas de chuva. Em geral, esse processo não ocorre tão facilmente, precisando de partículas de pelo menos 100 nanômetros. Machado afirma que para ocorrer a condensação com partículas extrafinas, que contribuam com a formação de nuvens de tempestade, o ar deve conter mais vapor d’água do que o habitual, alcançando um estado de supersaturação.
Tais condições, segundo Paulo Artaxo, da USP, são encontradas no clima quente e úmido da Amazônia em associação com aerossóis formados a partir de emissões de poluentes, provenientes de áreas urbanas, e plumas de queimadas. As mesmas condições também podem ser encontradas em outras regiões do planeta e sobre oceanos, afirma o pesquisador da USP.
Luiz Augusto Machado destaca que o resultado da pesquisa amplia as perspectivas sobre os impactos dos aerossóis no clima mundial e de imediato deverá trazer melhorias aos modelos de previsão de tempo e clima, ao incorporar tais processos à modelagem de formação de nuvens de tempestades.
Novas pesquisas deverão surgir a partir dos resultados alcançados nesse trabalho, afirma Henrique Barbosa, da USP. Segundo o pesquisador, há a necessidade de se compreender com maior profundidade o papel das partículas de aerossóis ultrafinas no desenvolvimento das nuvens, bem como no impacto sobre o clima.
O artigo na Science pode ser conferido em:
http://science.sciencemag.org/content/359/6374/411
Fonte: Inpe