Pesquisadores alemães e brasileiros estão trabalhando juntos para desenvolver a tecnologia necessária para explorar de forma mais eficiente as terras-raras, elementos químicos essenciais na fabricação de eletrônicos como tablets e smartphones.
Com 22 milhões de toneladas, o Brasil só fica atrás da China em reservas de terras-raras. Falta ao país, porém, tecnologia que possibilite a sua exploração e a elaboração de um produto final de forma competitiva para o mercado internacional.
Reunidos no projeto Regina (Rare Earth Global Industry and New Application – Indústria Global de Terras-Raras e Novas Aplicações), os pesquisadores de sete instituições brasileiras e mais sete alemãs trabalham para desenvolver essa tecnologia.
“Nosso grande desafio é desenvolver tecnologias sustentáveis e com um custo competitivo em relação ao praticado pelos chineses. O projeto é tão interessante por combinar qualidade do produto, custo baixo e cuidado de preservação ambiental”, diz Fernando Landgraf, diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), uma das instituições que integram o Regina.
Concorrência para a China
O mercado internacional de terras raras é dominado pela China, que controla cerca de 90% da oferta. A dependência preocupa a indústria de alta tecnologia, que, desde 2011, já enfrentou duas explosões de preços. Isso gerou insegurança no mercado, que movimenta cerca de 5 bilhões de dólares por ano.
O Brasil contribui com apenas cerca de 1% da produção global, mas pode se tornar um concorrente de peso da China caso consiga oferecer um produto final a preços atraentes. A parceira de pesquisa com a Alemanha abre caminho para impulsionar o desenvolvimento tecnológico necessário para isso.
Segundo Landgraf, o mercado de terras-raras é um nicho, mas de grande potencial. Além da instabilidade no mercado global, o pesquisador prevê que haverá um aumento no preço praticado pela China, que está se esforçando para produzir de maneira que prejudique menos o meio ambiente.
Bom para os dois lados
Para os alemães, o sucesso do projeto é fundamental para reduzir a dependência da Alemanha da China como fornecedor desse tipo de matéria-prima.
“Ambos os lados sairão ganhando. A Alemanha terá uma nova fonte desses recursos e um novo parceiro estratégico. Já o Brasil poderá comercializar e agregar valor a essa matéria-prima, que praticamente não está sendo usada”, afirma a engenheira Eva Brouwer, do departamento de pesquisa sobre ímãs do Instituto Fraunhofer IWKS.
Brouwer destaca que o objetivo final do projeto é a produção de um “superímã verde de terras raras”, ou seja, de menor impacto ambiental e feito a partir das terras-raras que sobram na exploração do nióbio. Esses ímãs são usados, por exemplo, em turbinas geradoras de energia eólica.
Recurso estratégico
As terras-raras, compostas por um grupo de 17 elementos químicos e presentes em mais de 250 espécies minerais conhecidas, são utilizadas em quase todos os produtos eletrônicos modernos, desde smartphones e escovas de dente elétricas até carros elétricos.
Com países buscando alternativas para reduzir as emissões de gases causadores do aquecimento global, carros elétricos e geração de energia limpa ganham mais espaço, o que deve aumentar a demanda por terras-raras.
A Alemanha, por exemplo, anunciou o fechamento de todas as suas usinas nucleares até 2022. A geração de energia será substituída por fontes renováveis, e o sucesso dessa transição depende dos ímãs de terras raras.
Para a futura tecnologia teuto-brasileira, os pesquisadores pretendem usar a monazita, considerada um resíduo da mineração de nióbio no complexo de Araxá, em Minas Gerais.
A pesquisa conjunta, coordenada pela Universidade Federal de Santa Catarina (USFC) e pelo Instituto Fraunhofer IWKS, irá abordar todas as etapas do processo de produção desses ímãs, desde a separação da monazita, que contém terras raras, passando pelo desenvolvimento da liga de neodímio-ferro-boro até a fabricação do superímã. Em todas as etapas, a questão ambiental é um fator central.
Aprimorar o processo existente
Segundo Landgraf, já existe um caminho básico da tecnologia para a exploração de terras raras e produção dos ímãs. O que a pesquisa busca é aprimorar esse processo para melhorar a produtividade e a sustentabilidade e, assim, reduzir os custos do produto final. O trabalho em comum parte ainda de estudos em estágio avançado realizados há alguns anos, tanto na Alemanha como no Brasil.
Sobre os riscos de acidente, devido ao fato de alguns minerais possuírem também elementos radioativos, como a própria monazita, Landgraf afirma que os riscos são mínimos e lembra que há décadas a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que explora as minas em Araxá, já lida com essa situação e segue normas rígidas de preservação ambiental.
Fonte: Deutsche Welle