Na Europa, as temperaturas atingiram mínimas históricas neste final de fevereiro. O cenário congelado contrasta com o inverno Ártico, que passa por um período excepcionalmente quente para a estação.
Entre esta sexta-feira (23) e esta quarta-feira (28), a onda de frio siberiano matou pelo menos 41 pessoas no continente europeu, principalmente moradores de rua, de acordo com a agência alemã Deutsche Welle (DW).
Enquanto isso, no Ártico, as temperaturas estão acima do ponto de congelamento. A Organização Mundial de Meteorologia (OMM) explicou à BBC que o fenômeno está relacionado a padrões de circulação atmosférica em grande escala, chamados de “evento de aquecimento estratosférico repentino” e registrados na estratosfera, a uns 30 quilômetros acima do Polo Norte.
“O evento de aquecimento estratosférico provocou uma divisão no vértice polar, que é uma área de baixa pressão na atmosfera superior, com redemoinhos de vento do oeste que circulam ao seu redor”, esclareceu a OMM.
Mortes e transtornos
Na Alemanha, ainda segundo a DW, a madrugada de segunda para terça-feira foi a mais fria de todo o inverno. O Serviço Meteorológico da Alemanha (DWD) informou que o frio rigoroso registrado nos últimos dias é incomum para o final de fevereiro.
Várias cidades da Europa, incluindo Berlim e Roma, forneceram camas adicionais em abrigos de emergência e ampliaram o período de funcionamento desses lugares, que abrem normalmente só no período noturno, também para o dia. A Cruz Vermelha enviou ajudantes e pediu que as pessoas cuidem de seus vizinhos e parentes idosos. Algumas cidades belgas pediram à polícia que detenha as pessoas sem-teto que se recusam a aceitar refúgio.
Escolas foram fechadas no Kosovo, no oeste da Bósnia, na Albânia, assim como em regiões do Reino Unido, da Itália e de Portugal.
Desde sexta-feira, 18 pessoas morreram na Polônia, cinco só na madrugada de segunda para terça-feira, quando, em Varsóvia, a temperatura caiu para -16 ºC. Quatro pessoas congelaram até a morte na França, quatro na Eslováquia, seis na República Tcheca, cinco na Lituânia, duas na Romênia e uma na Itália.
Neve e gelo também levaram a obstruções no tráfego aéreo. Devido a uma nevasca na Inglaterra, a empresa aérea British Airways cancelou 60 voos no aeroporto londrino de Heathrow. Na Croácia, o serviço de trens entre Zagreb e Split foi interrompido. Na Romênia, três portos foram fechados no Mar Negro. O frio também causou o fechamento do aeroporto de Varna, na Bulgária.
Calor “maluco”
E o Ártico chama a atenção dos ambientalistas pelo contrário da Europa – mas as duas coisas estão relacionadas.
Especialistas entrevistados pelo jornal “The Guardian” chamaram as temperaturas altas no Ártico de “malucas”, “estranhas” e “simplemente chocantes”. Esses redemoinhos de vento citados pela OMM influenciam as tempestades de neve na Europa, mas não mantém o frio no Ártico.
O Polo Norte normalmente não tem luz solar até março, mas um fluxo de ar quente está elevando as temperaturas na Sibéria, sempre acima das médias históricas. Na Groenlândia foram 61 horas com termômetros acima do congelamento neste ano – três vezes mais que em qualquer ano anterios, segundo o jornal britânico.
Pesquisadores apontam que picos de calor na região podem ocorrer no Ártico, mas estão cada vez mais frequentes e com maior duração. Há diversos cientistas buscando os motivos para essas mudanças climáticas.
“O tempo estranho continua com força e persistência assustadoras”, disse o professor Lars Kaleschke, da Universidade de Hamburgo, à Reuters.
“A questão é se esse tempo ocorrerá com mais frequência. Esse é apenas um evento, por isso é difícil fazer uma relação causal”, completou.
Segundo os especialistas, o encolhimento do gelo na região ártica a longo prazo expõe uma água mais quente em camadas abaixo e que libera mais calor para atmosfera.
“O fluxo de ventos se torna mais pesado, o que significa um ar mais frio ao sul e um ar mais quente no norte”, explicou Nalan Kroc, diretor de pesquisa do Norsk Polarinstitutt.
Além disso, o gelo marinho do Oceano Ártico está em uma baixa recorde para o final de fevereiro: 14,1 milhões de quilômetros quadrados, segundo o Centro Nacional de Dados de Gelo e Neve dos Estados Unidos. Isso equivale a 1 milhão de quilômetros quadrados a menos, segundo a Reuters.
“O que já consideramos uma anomalia está se tornando uma coisa normal. Nosso clima está mudando na frente dos nossos olhos, e nós temos um curto período de tempo para impedir”, disse Erik Solheim, chefe da ONU Meio Ambiente.
Fonte: G1