Um grupo de pesquisadores brasileiros constataram que diversas espécies de tubarão estão sendo comercializadas em vários pontos do litoral do Litoral Amazônico brasileiro, do Maranhão até o Amapá.
Na terça (13), um estudo publicado na revista americana Plos One apontou que a caça aos tubarões ocorrem no Maranhão há pelo menos 60 anos. As capturas aumentaram nas últimas quatro décadas, quando pescadores de outros estados do Brasil, encorajadas por comerciantes asiáticos, se mudaram para a região para iniciar o comércio.
Tubarões são encontrados com sinais de mutilação nos portos (Foto: Arquivo/Jorge Nunes)
No final de fevereiro, uma outra publicação na revista Scientific Reports, da Nature – uma das principais vitrines dos artigos científicos no mundo -, apontou várias espécies em extinção que estão sendo mortas durante pescarias no litoral norte do país. O estudo foi realizado no período de dois anos com a contribuição 15 pesquisadores em 11 centros de pesquisas localizados nos estados do Pará, Maranhão, Pernambuco e na Austrália.
Dentre o grupo de espécies ameaçadas identificadas no estudo estão o tubarão-martelo, tubarão-tigre e o tubarão-quati – este último existe apenas na parte norte da América do Sul, segundo os pesquisadores. O tubarão-martelo (Sphyrna mokarran) é, inclusive, alvo do governo brasileiro para conservação de espécies em perigo em nível global.
Pesquisadores realizam análise das barbatanas de tubarões encontrados em portos e mercados no litoral norte do Brasil (Foto: Arquivo/Jorge Nunes)
No ano passado, o Ministério do Meio Ambiente chegou a assinar um Memorando de Entendimento sobre a Conservação dos Tubarões Migratórios na 12ª sessão da Conferência das Partes da Convenção sobre Espécies Migratórias, nas Filipinas.
Das espécies identificadas na pesquisa, doze foram encontradas na cidade de Bragança-PA, onze em Tutóia-MA, nove em Belém-PA, nove em Raposa-MA, seis na costa do estado do Amapá, três em Carutapera-MA e dois na cidade de Vigia-PA.
Pesca de tubarões em extinção foram identificados em sete regiões no litoral norte do Brasil, incluindo o Maranhão (Foto: Reprodução/Nature)
Em entrevista ao G1, Jorge Luiz Silva Nunes, que foi um dos líderes da pesquisa, informou que as espécies de tubarões têm entrado em declínio em decorrência da pesca artesanal incidental, que ocorre quando o alvo da pescaria são outras espécies de peixes, como as pescadas ou os peixes-serra. Nos portos, os animais chegam tão mutilados que os pesquisadores precisaram utilizar técnicas com DNA para identificar as espécies.
“O animal chega todo cortado no porto, então a identificação é muito difícil. A forma que a gente utilizou para identificar essas espécies foi pelo DNA. Sabe quando você pega uma mercadoria em um mercado, leva no caixa e vê o preço? É mais ou menos assim. A gente compara as sequências de DNAs da nossa amostra com as sequências disponíveis em um banco de dados e dessa forma definimos qual é a espécie”, disse o pesquisador.
Professor Jorge Luiz contou que a identificação dos tubarões só foi possível com a ajuda de análise de DNA (Foto: Arquivo Pessoal)
Ele também contou que os tubarões desembarcados nos portos têm a carne e as nadadeiras comercializadas, o que move uma grande cadeia produtiva que termina na venda de iguarias na cozinha asiática. A carne de tubarão é consumida no Brasil e as barbatanas dos tubarões são vendidas para compradores que as utilizam como principal ingrediente da sopa de barbatana.
“Os produtos dos tubarões são transportados para outros estados, sendo que o destino nacional normalmente é o litoral do estado de São Paulo. No comércio da barbatana, há pessoas que vem para o Brasil para comprar e levar para países asiáticos. Eles fazem a sopa de barbatana, que é consumida por pessoas com alto poder aquisitivo nesses países”, contou Jorge Luiz, que é professor da Universidade Federal do Maranhão e doutor em oceanografia.
Barbatanas dos tubarões são retiradas para comercialização com compradores asiáticos (Foto: Arquivo/Jorge Nunes)
Além do desequilíbrio ecológico que pode acontecer pelo desaparecimento dos tubarões, o pesquisador também apontou que a principal consequência da morte desses animais será uma grande perda de informações históricas.
“Quando falamos em uma espécie entrar em extinção, muitas pessoas não sabem o que se perde com isso. Uma espécie é uma biblioteca de informações que deram certo ao longo de milhares de anos. É como se você tivesse uma biblioteca, como a de Alexandria, e elas fossem simplesmente destruídas”, afirmou Jorge Nunes.
Rota da pesca e venda dos tubarões que saem no norte do Brasil . Vermelho (Rota antes de 2010) e Azul (Rota depois de 2010) (Foto: Divulgação/Plos One)
Para os pesquisadores, além de frear a morte dos tubarões, resta ainda instrução aos pescadores, que ainda não compreendem a importância de manter as espécies vivas na natureza.
“O que falta mesmo é instruir. Não adianta pensar em conservação e trabalhar só nas universidades e não aplicar. Na verdade quem são os protagonistas de tudo são os pescadores (…) Sabia que eles não têm a menor noção sobre as espécies que estão ameaçadas. E aí quando ficam sabendo disso, eles não conseguem imaginar o que isso pode acarretar”, explicou o oceanógrafo.
Fonte: Rafael Cardoso, G1