Trecho da Grande Barreira de Corais, na Austrália (Foto: Sarah Lai/AFP)
A Grande Barreira de Corais da Austrália, sob estresse severo com um oceano mais quente e ácido, se recuperou de situações de quase extinção cinco vezes no passado nos últimos 30 mil anos, revelaram pesquisadores nesta segunda-feira (28).
Embora a pesquisa sugira que os corais possam ser mais resilientes do que se pensava antes, provavelmente estes seres vivos nunca enfrentaram uma agressão tão severa quanto hoje, acrescenta.
“Tenho sérias preocupações sobre a capacidade de sobrevivência dos corais em sua forma atual ao ritmo de mudanças provocadas pelos muitos estresses atuais e àqueles projetados para o futuro próximo”, afirmou Jody Webster, da Universidade de Sydney, coautor do artigo, publicado na revista científica “Nature Geoscience”.
No passado, o coral moveu-se ao longo do leito marinho para enfrentar mudanças em seu ambiente – em direção ao mar ou para a terra, dependendo de se o nível dos oceanos se elevava ou diminuía, descobriram os pesquisadores.
Com base em dados fósseis de amostras coletadas em 16 locais do leito marinho, os cientistas concluíram que a Grande Barreira de Corais conseguiu migrar entre 20 centímetros e 1,5 metro ao ano.
A taxa pode não ser suficiente para suportar a torrente atual de desafios ambientais.
O coral “provavelmente não enfrentou mudanças na TSM (temperatura da superfície do mar) e na acidificação nesta proporção”, disse Webster à AFP. As taxas de mudança “provavelmente são muito mais rápidas agora e nas projeções futuras”, alertou.
A Grande Barreira de Corais, que integra o Patrimônio Mundial da Humanidade e atrai milhões de turistas, sofre os efeitos sucessivos de branqueamento coralino devido à elevação das temperaturas do mar, relacionada com as mudanças climáticas.
Tartaruga nada sobre corais descoloridos na ilha Heron, englobada pela Grande Barreira de Coral na Austrália. A Grande Barreira passa pelo mais grave processo de branqueamento já registrado, com 93% dos recifes afetados (Foto: AFP/XL Catlin Seaview Survey)
Webster e uma equipe internacional de pesquisadores quiseram entender o suplício atual da Barreira de Corais em um contexto de longo prazo.
Durante dez anos, eles estudaram como a estrutura respondeu a mudanças provocadas pela expansão de plataformas de gelo continentais e o aquecimento ao longo de 30 mil anos.
Berçário de peixes
Seu estudo abrange um período de antes do “Último Máximo Glacial”, ou UMG – o auge do congelamento cerca de 21 mil anos atrás durante a última Era Glacial.
O nível médio do mar na época era 120 metros mais baixo do que hoje.
À medida que os níveis do mar caíram perto do UGM, houve dois “eventos mortais” maciços, cerca de 30 mil e 22 mil anos atrás, descobriu a equipe.
Eles foram causados pela exposição do coral ao ar. O que restou dele avançou para o mar para se recuperar depois.
Quando as plataformas de gelo derreteram depois do UMG, duas extinções – 17 mil e 13 mil anos atrás – foram atribuídas à elevação do nível do mar, descobriram. Nestes casos, o coral se moveu em direção à terra.
O quinto evento mortal ocorreu cerca de dez mil anos atrás, aparentemente devido a uma deposição maciça de sedimentos devido a um nível do mar mais elevado.
Webster disse que a Grande Barreira de Corais “provavelmente vai morrer de novo nos próximos milhares de anos de qualquer forma, se seguir seu padrão geológico”, assim como se acredita que a Terra vai passar por outra Era Glacial.
“Mas é preciso verificar se a mudança climática provocada pelo homem vai acelerar essa morte”, afirmou.
As mudanças nas temperaturas e na acidez do mar fazem os corais sofrerem um “branqueamento” – ejetando as algas que vivem em seu tecido e que lhe fornecem alimento.
Corais que sofrem branqueamento são mais suscetíveis a doenças e sem tempo suficiente para se recuperar, podem desaparecer para sempre.
Os recifes de coral são o lar de cerca de um quarto da vida marinha e servem de berçário para muitas espécies de peixes.
Fonte: AFP