A passagem do furacão Maria no ano passado em Porto Rico deixou mais de 4,6 mil mortos, segundo um estudo divulgado nesta terça-feira (29/05). O número é 72 vezes maior do que o divulgado pelas autoridades.
“Nossos resultados indicam que o número oficial de 64 é uma subavaliação substancial da verdadeira mortalidade causada pelo furacão Maria”, diz o estudo elaborado pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, em colaboração com as universidades Carlos Albizu e Ponce, em Porto Rico.
O estudo se baseou em uma pesquisa aleatória de 3.299 famílias em Porto Rico, cujos membros foram perguntados sobre as mortes e as causas desses falecimentos entre a chegada da tempestade e o fim do ano. A partir deste trabalho de campo, os pesquisadores constataram que, nos três meses seguintes ao furacão, a taxa de mortalidade na região aumentou 62% em comparação com os níveis registrados no mesmo período em 2016.
Diante destas estatísticas, os pesquisadores estimam que mais de 4,6 mil mortes são resultados direitos e indiretos do pior desastre natural de Porto Rico dos últimos 90 anos. Essas mortes ocorreram entre o dia 20 de setembro, data em que a tempestade tocou terra na ilha caribenha, e dezembro de 2017. Um terço das vítimas morreu devido a atrasos ou interrupções em tratamentos médicos.
A destruição causada pelo furacão Maria, um dos maiores a passar por Porto Rico em um século
Com rajadas de ventos de quase 250 km/h e fortes chuvas que causaram inundações catastróficas, a passagem do furacão, que oscilou entre as categorias 4 e 5 (a mais elevada) quando atingiu a ilha, deixou um rasto de destruição e dezenas de milhares de pessoas desabrigadas. Muitos habitantes ficaram sem acesso à eletricidade, água, telefone ou transporte.
“A nossa estimativa é coerente com os artigos publicados na imprensa que avaliaram o número de mortes no primeiro mês após o furacão”, afirmam os pesquisadores no estudo que foi publicado na revista científica The New England Journal of Medicine (NEJM).
As autoridades locais contabilizaram oficialmente 64 mortes relacionadas com o furacão, mas este número foi rapidamente contestado. Em dezembro passado, o jornal americano The New York Timesanalisou as certidões de óbito registadas em Porto Rico e constatou que os dados indicavam que mais de 1.000 mortes tinham ocorrido nos 40 dias seguintes à tempestade.
Segundo o estudo, para integrar o balanço oficial do desastre natural, a morte tinha de ser confirmada pelo Instituto de Medicina Legal de Porto Rico, algo que se tornou difícil por causa da destruição das estradas e da escassez de transportes. Assim, as certidões de óbitos registradas nos meses seguintes não mencionavam necessariamente se as mortes estavam relacionadas com o furacão.
Os pesquisadores afirmaram que “esses números servirão como um importante comparativo independente em relação às estatísticas oficiais de mortes registradas, que estão atualmente sendo revisadas, e evidenciam a falta de atenção do governo dos EUA às infraestruturas frágeis de Porto Rico”.
Nesse sentido, o estudo destacou que 83% das famílias entrevistadas ficaram sem acesso à energia elétrica durante os últimos três meses do ano passado.
Se esses dados forem confirmados, Maria teria provocado mais mortes que o Katrina, que arrasou Nova Orleans em 2005 e deixou um saldo de mais de 1.880 mortos.
Fonte: Deutsche Welle