Em 1993, o filme Jurassic Park: Parque dos Dinossauros, de Steven Spielberg, definiu a ideia que uma geração inteira tinha sobre os dinossauros.
Há até quem diga que o longa inspirou uma nova era de pesquisas em paleontologia.
Mas quantos dos conceitos usados no filme são científicos de fato? E o que sabemos hoje sobre os dinossauros que não sabíamos há 25 anos?
Com o lançamento, neste mês, do quinto filme da franquia – Jurassic World: Reino Ameaçado – e o aniversário de um quarto de século do original, o especialista em efeitos visuais Phil Tippett e o paleontologista Steve Brusatte analisaram a produção original e o que a ciência descobriu desde então.
Quais são os erros mais básicos de Jurassic Park?
Para começar, ele herdou alguns problemas do livro de Michael Crichton no qual foi inspirado – como o nome.
“A maioria dos dinossauros (retratados no filme) viveram no período Cretáceo, não no Jurássico”, diz Brusatte. “Mas acho que ‘Cretaceous Park’ não soa tão bem.”
Foi no período Cretáceo – entre 145 e 65 milhões de anos atrás – que os dinossauros se tornaram predominantes no planeta. Muitas das espécies retratadas no filme viveram nesse período, que foi posterior ao Jurássico: o tiranossauro (Tyrannosaurus Rex), o velociraptor e o triceratops.
A ideia de recriar os bichos a partir de DNA preservado também é problemática.
“Para clonar um dinossauro você precisaria do genoma completo, e ninguém nunca encontrou nem um trechinho de DNA de dinossauro”, diz Brusatte. “Então, estamos falando de algo que é muito difícil, senão impossível.”
Como construir um dinossauro
O desafio do longa não era simples: criar um animal que nenhum humano jamais havia visto, e torná-lo o mais realista possível. Na época, Jurassic Park foi inovador no uso misto de robôs e de animação gerada por computador.
A produção contratou o paleontologista Jack Horner e o especialista em stop motion (tipo de técnica de animação) Phil Tippett, que havia participado dos primeiros filmes da saga Star Wars.
Tippett foi convidado para ser o “supervisor de dinossauros”.
Tippett também tinha um conhecimento extenso sobre dinossauros. “Eu comprava todos os livros que eram lançados sobre o tema. Estão estava bem alinhado com o conhecimento científico que existia na época”, diz ele à BBC.
Direito de imagemEMILY WILLOUGHBY
Mesmo menor e com penas, o velociraptor continua assustador
Tippett se lembra de ter precisado modificar algumas das cenas descritas no livro.
“(O autor Michael) Crichton fazia o T. Rex pegar o jipe como se fosse o Godzilla. Precisou de uma ‘dose de realismo’ para dizer: não, ele não faria isso, porque fisicamente não seria possível”, recorda Tippett.
“O resultado final foi ótimo”, diz Brusatte. “Foi a representação de um T. rex mais exata feita até então.”
“Agora sabemos que o T. rex tinha uma ótima visão (ao contrário do que é sugerido no filme), então, se você ficasse parado ele poderia vê-lo. Você não seria capaz de se esconder dele. A espécie também tinha ótimos olfato e audição”, explica o paleontólogo. “Mas tudo isso só descobrimos depois do ano 2000, com uso de tomografias (para analisar os fósseis)”, explica ele.
Direito de imagemTIPPETT STUDIO
As cenas de animação do filme foram cuidadosamente pensadas
Modelos computacionais também mostram que o T. rex provavelmente não conseguia correr em uma velocidade maior do que 20 km/h. Eram mais rápidos que humanos, mas os animais provavelmente não costumavam perseguir presas por longas distâncias, então, fugir correndo poderia valer a tentativa…
Criaturas com penas
Entender como uma criatura viva se move a partir de restos mortais fossilizados é bem difícil, por isso, a equipe de Tippett também saiu para observar animais que se parecem com os dinossauros que estavam “criando”.
Eles observaram elefantes para entender melhor e retratar corretamente o braquiossauro e avestruzes para fazer o mesmo com o Gallimimus.
Os velociraptors, no entanto, eram definitivamente bem diferentes dos mostrados no filme.
“Os velociraptors de verdade, da Mongólia, tinham o tamanho aproximado de um poodle. E não um daqueles poodles gigantes, mas daqueles pequenos”, explica Brusatte.
Direito de imagemTIPPETT STUDIO
Para suas animações, a equipe criou uma técnica primária de ‘captura de movimentos’ (o processo de registro de movimentos para depois usá-lo em modelos digitais) usando um boneco mecânico de aço
Eles eram parentes próximos dos chamados Deinonychus, que também eram bem menores do que os bichos do filme.
Os Deinonychus tinham penas e eram ancestrais dos pássaros modernos, porém mais intimidadores – seu nome significa “garras terríveis”.
Direito de imagemEMILY WILLOUGHBY
Estudos recentes mostram que dinossauros como o Deinonychus tinham penas
Os primeiros dinossauros com penas preservadas foram encontrados no final dos anos 1990 e, em 2004, foi descoberto um parente do T. rex com penas.
Nosso conhecimento sobre a aparência visual desses bichos mudou bastante em relação ao que se sabia em 1993.
Direito de imagemTIPPETT STUDIO
Tippett já havia dirigido um curta-metragem de stop motion chamado ‘Feras Pré-históricas’
Em 2015, o quarto filme da franquia, Jurassic World, recebeu muitas críticas por continuar usando o estilo “sem penas” estabelecido pelos primeiros filmes, duas décadas antes.
É um dos pontos que o paleontólogo Brusatte considera mais irritantes.
“Sabemos hoje que dinossauros, talvez até todos os dinossauros, tinham algum tipo de pena… Na verdade, para mim, é um pouco esquisito ver dinossauros retratados sem penas. Não parece natural”, diz ele.
Jurassic Park em 2018
“Hoje, tenho uma ideia completamente diferente de como deveria ser um dinossauro”, diz Tippett. “Se estivéssemos fazendo um outro filme de dinossauros, faria as coisas completamente diferentes… O que a ciência descobriu sobre as penas é muito significativo e há muitas coisas interessante que você poderia fazer (visualmente) com isso.”
Direito de imagemUNIVERSAL PICTURES/DIVULGAÇÃO
O mais recente filme da franquia, ‘Jurassic World: Reino Ameaçado’, também combina animação gráfica com uso de robôs animados
Brusatte concorda. “O T. rex mais parecido a um pássaro do tamanho de um ônibus vindo do inferno é algo muito mais assustador que um T. rex verde e escamoso.”
Mas analisando o filme Jurassic Park como um todo, Brusatte encontra pouca coisa para criticar.
“Acho que, no fim das contas, o Jurassic Park foi algo extremamente positivo para a paleontologia. Claro que eu poderia implicar com pequenas imperfeições, mas elas são compensadas um milhão de vezes pelo que o filme trouxe de positivo”, afirma.
“Não sei se teria um emprego hoje se Jurassic Park não tivesse existido.”
Fonte: BBC