Até a tarde desta segunda-feira (23/07), tudo parecia em ordem na localidade de férias de Rafina, a noroeste de Atenas: grandes famílias se bronzeavam na praia, casais jovens tomavam tranquilamente o seu café, agricultores trabalhavam nos campos.
De repente, irrompeu o fogo, que, devido ao vento forte alastrou-se com rapidez nunca vista na região, saindo de controle. Milhares de pessoas se viram presas na praia ou a caminho dela, cercadas pelo incêndio florestal. Nem todas conseguiram encontrar salvação a tempo na água ou escapar em direção à capital grega.
A essa altura, o corpo de bombeiros estava também combatendo as chamas num outro front, na localidade de Kineta, a oeste de Atenas, não tendo como mobilizar todas as forças necessárias para a região de Rafina.
Na manhã desta terça-feira, o porta-voz do governo Dimitris Tzannakopoulos informou que pelo menos 50 pessoas haviam morrido. Desde então, os bombeiros já registraram 74 vítimas. Outras 150, entre as quais muitas crianças, ficaram feridas, algumas tendo sofrido queimaduras graves. O número de desaparecidos ainda não é conhecido.
Grécia luta contra maior incêndio em uma década
“Desde a terça-feira, 150 engenheiros dos ministérios competentes estão na nossa cidade, examinando as casas danificadas. Devemos temer que vamos encontrar novas vítimas nelas, como idosos que não conseguiram escapar a tempo”, comenta Myron Tsakirakis, funcionário da municipalidade de Rafina. Além disso, havia na região trabalhadores rurais asiáticos que possivelmente nem estavam registrados junto às autoridades.
“Um apocalipse”, é a manchete do jornal Ta Nea, um dos mais lidos de Atenas. Um jovem relatou à emissora de TV Alpha não conseguir acreditar na sorte que teve em meio à desgraça: “As chamas quase me pegaram de surpresa perto do porto. Eu não tinha a menor ideia do que fazer, simplesmente pulei na água. Por sorte, a certa altura passou um barco de salvamento.”
Três dias de luto
Por decreto do primeiro-ministro Alexis Tsipras, transcorrem três dias de luto nacional na Grécia a partir desta terça-feira. “Não vamos esquecer nada, nem ninguém. Vai chegar o momento da análise abrangente, mas nestas horas não haverá confrontações [políticas]. A questão é mobilizar e lutar”, declarou em comunicado na televisão.
Isso significa que, por enquanto, não se deve reclamar sobre as falhas ou falta de competência das autoridades, o que só dificultaria ainda mais o já difícil trabalho de bombeiros e socorristas. A maioria dos gregos respeita o apelo, até por ainda não ter noção da dimensão total da catástrofe, e críticas neste momento seriam percebidas como desrespeito às vítimas.
Mesmo o líder oposicionista conservador Kyriakos Mitsotakis, atualmente o adversário mais ferrenho do premiê esquerdista Tsipras, declarou numa visita a Rafina que agora é hora de solidariedade e unidade.
Apesar disso, escuta-se uma ou outra voz crítica. “É claro que não esperamos milagres, mas certamente esperamos preparação e plano adequados, até mesmo para o pior dos casos. E esse plano não existe, como demonstra o grande número de mortos”, acusou o portal de notícias In.Gr.
Onde o Estado não vai adiante, entra em ação a iniciativa privada. Muitos da região Rafina oferecem sua ajuda pelo Facebook, desejando socorrer os concidadãos que perderam todos os seus bens no incêndio e procuram alojamento provisório.
Outros tentam especificamente dar assistência aos animais domésticos. Autoridades locais e ONGs solicitam doações ou ajudantes voluntários. Também políticos estrangeiros contataram o premiê Tsipras para oferecer apoio, entre os quais o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.
Crítica a motoristas inconsequentes
Ao fugir da localidade de Kineta na segunda-feira, muitos motoristas engarrafaram a pista de emergência da autoestrada para Atenas, dificultando seriamente o acesso do corpo de bombeiros.
“Isso é um crime, não se pode fazer uma coisa dessas! Talvez neste momento os bombeiros estejam indo justamente para a sua casa, e mesmo assim você os bloqueia”, indignou-se na TV Skai o ciclista Iaveris, muito famoso na Grécia.
Fonte: Deutsche Welle
Segundo a mídia, a polícia teve que intervir repetidamente para liberar a pista de emergência da estrada para a capital. Não consta que algum motorista inconsequente tenha recebido uma multa elevada ou sido punido de alguma outra forma.