Uma gota de esperança em meio a um mar de poluentes. A busca por sustentabilidade é um longo caminho no Distrito Federal quando se olha para o trânsito. Dos 1,7 milhão de veículos que circulam com placa do DF, uma minoria não emite poluentes, ou ao menos o faz em menor quantidade. Até abril, eram apenas 426 veículos registrados na frota da capital como elétricos ou híbridos – ou seja, combinam energia elétrica ao combustível usual.
No Brasil, os carros elétricos e híbridos começaram a ser vendidos em 2006. Naquele ano, foram apenas três. Dez anos depois, o número de vendas subiu para 1.091 e, em 2017, a quantidade passou para 3.296. Já neste ano até abril, foram comercializados 1.260 veículos elétricos e híbridos. Os dados são da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
A procura ainda é pequena se comparada aos carros convencionais, mas o setor está otimista. Gerente comercial de concessionária, Charles Torres conta que a busca cresceu neste ano. “Ano passado a procura média era de oito pessoas por mês. Neste ano subiu para dez”, calcula o profissional da Toyota Kyoto, localizada no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA).
Para Torres, a tecnologia ainda é tímida em Brasília, mas bem difundida em outras cidades. “Inclusive, há países que oferecem incentivos fiscais. No Brasil há previsão de redução do IPI (imposto sobre produtos industrializados)”, lembra. A medida do governo deve começar em novembro.
Popular, mas nem tanto
Entre os poucos modelos híbridos à venda no País, o Toyota Prius é o mais popular. “Uma vantagem deste veículo é o fato de o próprio sistema recarregar as baterias elétricas. É um carro que faz uma gestão inteligente do combustível de acordo com a necessidade”, afirma o gerente Charles Torres.
O carro possui dois motores: um elétrico e outro a combustão. O que recarrega a parte elétrica é a inércia do veículo: “Quando o motorista está no trânsito e tira o pé do acelerador, o veículo gera uma energia que é rearmazenada e convertida para um sistema elétrico. Quando se freia, a energia também é armazenada e convertida, recarregando as baterias”. Por esse motivo, o carro tem maior eficiência e economia na cidade do que na estrada.
Apesar da economia no abastecimento, o carro híbrido sai em desvantagem no preço. O Prius na versão sedã (médio) custa R$ 125 mil, cerca de 15% mais caro que um concorrente convencional.
Diferença de tecnologias
Para o professor dos cursos de engenharia da Universidade de Brasília Rudi Van Els, o carro elétrico é mais viável e vantajoso que os modelos híbridos e convencionais a combustão. “Motor híbrido é uma solução intermediária”, aponta.
Em contrapartida existe o custo alto do investimento: “Um carro elétrico é mais caro que outros com motor a gasolina ou álcool. A maioria dos carros que estão hoje no mercado é importada, sofisticada e com preços salgados”, analisa o docente.
Para recarregar os carros elétricos, basta apenas ter um ponto de eletricidade para plugá-lo. Por isso, o professor ressalta que isso torna o abastecimento muito mais prático. Porém, na visão de Van Els, falta incentivo para que os carros elétricos rodem nas ruas.
“É preciso haver políticas públicas para definir o modelo de transporte e incentivos para direcionar a indústria a investir neste ramo”, pondera.
O professor acrescenta que o metrô, transporte elétrico de massa e mais eficiente que os ônibus, ainda não atende a toda a população do Distrito Federal.
Dono compara
Para o representante comercial Tiago Baldez Soares Felizardo, 31 anos, pagar a mais pelo carro híbrido compensa. Há mais de um ano a bordo de um veículo com essa tecnologia, ele aponta o bom custo-benefício.
“Meu último carro rodava em torno de 12 km com um litro de gasolina. O Prius faz uma média de 30 km”, calcula. Apesar disso, ele não tem a intenção de trocar seu carro por outro 100% elétrico, pois considera que ter de recarregá-lo não é um fator viável.
Também da Toyota, o Corolla será lançado com motor híbrido a partir do ano que vem. “É uma evolução do sistema e uma confiança de que esse nicho dos carros híbridos vai se consolidar”, aponta o gerente comercial Charles Torres. Ele observa que a maior parte dos clientes interessados nesse tipo de carro já obteve a experiência no exterior, ou demonstra preocupação com o meio ambiente.
Ponto de vista
Arcélio Junior, vice-presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Distrito Federal (Sincodiv-DF), afirma que as vendas dos carros elétricos e híbridos são baixas, já que possuem elevado custo de aquisição. Por esse motivo existe uma quantidade ínfima de carros que dispõem desta tecnologia na capital federal. “A venda ainda é muito baixa. Há inclusive carros usados, mas em quantidade bastante reduzida”, define.
Engenheiro do DF converte motor de Gol
Em 2007, o engenheiro militar Elifas Gurgel observava o mercado internacional dos veículos quando também se convenceu de que os modelos elétricos seriam a melhor solução para rodar nas ruas. Em vez de comprar um exemplar, ele mesmo colocou a mão na massa.
“Eu tinha duas opções para construir um veículo elétrico. Ou partiria do zero, ou utilizaria uma estrutura existente e faria a conversão de um veículo a combustão para um elétrico, aproveitando toda a engenharia já desenvolvida”
Foi aí que, no ano seguinte, após muita pesquisa, Gurgel começou a desenvolver a conversão de seu carro, um VW Gol G4. “Ao mesmo tempo em que fiz a transformação, eu pensava na questão regulatória. Porque não adiantava transformar um carro sem documentação para rodar em via pública”, ressalta.
O militar foi ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e pediu para apresentar o projeto à Câmara Temática de Assuntos Veiculares. Mas apenas em 2010 o colegiado aprovou uma legislação específica que permite a transformação de veículos a combustão para elétricos.
Economia
O veículo de Elifas já rodou mais de 93 mil quilômetros e é o carro do dia a dia do engenheiro. Segundo ele, a economia é bastante significativa.
“Para cada R$ 100 que eu colocaria de gasolina, eu gasto apenas R$ 30 de energia elétrica para percorrer a mesma distância. A autonomia do carro é de 150 km, o que atende a maioria das pessoas para um deslocamento urbano”, analisa.
O carro é 100% elétrico. Elifas lembra que, com o carro movido a energia elétrica, “o meio ambiente se livra da poluição do ar, que provoca gases de efeito estufa. Além disso, a poluição sonora é inexistente”.
Ônibus elétrico
Em março deste ano, foi entregue o primeiro ônibus 100% elétrico do Distrito Federal. De acordo com a Secretaria de Mobilidade (Semob), o veículo opera na linha 110, da Universidade de Brasília (UnB). A previsão é de que mais um veículo elétrico faça parte da frota até o fim do ano. O ônibus elétrico poupa 46,8 toneladas de Co2, o que representa o plantio de 343 árvores/ano.
Além disso, no ano passado, nove coletivos movidos a biodiesel B20 passaram a circular pela capital federal. Com a implementação deste, é possível evitar a emissão de 18 toneladas de CO2 anualmente, por ônibus. Isso representa o plantio de 132 árvores/ano por ônibus.
Os veículos elétricos possuem emissão zero poluentes, de acordo com a Semob. Os ônibus são equipados com ar- condicionado, piso baixo e acessibilidade, trazendo mais conforto para os usuários do sistema de transporte público do DF.
Fonte: Jornal de Brasilia