Parece apropriado para os invasivos hipopótamos de reputação violenta serem o que sobrou do legado de um dos mais conhecidos traficantes de drogas do mundo. O colombiano Pablo Escobar construiu um império com o tráfico da cocaína, que o transformou em uma das pessoas mais ricas e temidas do mundo.
Sua organização foi responsável por um total estimado de sete mil mortes, além de quase derrubar o governo democrático da Colômbia por meio de assassinatos, subornos e intimidação. Mas, além de toda a violência e das drogas, Escobar era como um autodenominado Robin Hood, patrocinando equipes de futebol e oferecendo dinheiro para comunidades pobres.
Uma de suas “oferendas” foi o convite para moradores locais visitarem seu zoológico particular, construído por Escobar no início da década de 1980 em sua exuberante Hacienda Napoles, entre Medellín e Bogotá.
Escobar foi morto em 1993 e, agora, sua Hacienda Napoles é gerenciada pelo próprio governo que ele tentou derrubar, usada como parque e atração turística. A maioria dos animais exóticos que habitavam o local foram transferidos para outras instalações ao redor do mundo, menos os hipopótamos.
Nativos da África, as três fêmeas e o único macho da espécie foram deixados à sua própria sorte no lago da fazenda. Com o clima ameno e sem concorrência, os hipopótamos prosperaram. Com o tempo, alguns animais começaram a se aventurar para longe do lago, alcançando rios próximos e as regiões adjacentes. Vilarejos começaram a se preocupar com os grandes animais, que têm a reputação de serem perigosos.
Um documentário foi feito sobre os hipopótamos do Pablo em 2010. Com o aumento da pressão pública, o governo começou a castrar alguns dos animais na tentativa de impedir sua propagação.
Jonathan Shurin, biólogo da Universidade da Califórnia em San Diego, nos EUA, diz que já ouviu “muitas histórias conflitantes sobre os hipopótamos e sua propagação”.
São necessários mais estudos, diz Shurin, que estuda a vida selvagem na Colômbia e está em busca de financiamento para estudar os hipopótamos.
Para saber mais sobre os hipopótamos de Pablo, conversamos com David Echeverri, pesquisador da agência ambiental do governo colombiano Cornare, que supervisiona o controle dos animais.
Quantos hipopótamos vivem hoje na Colômbia? Até onde eles se dispersaram?
No lago da Hacienda Napoles há entre 26 e 28 hipopótamos. No local, eles encontram comida, água e tranquilidade.
Também há evidências de que pequenos grupos de hipopótamos ou indivíduos solitários tenham migrado pelo Rio Magdalena para outras áreas, incluindo Puerto Berrío e Boyacá. É possível que haja até 40 hipopótamos na região. Em 10 anos, este número pode chegar a quase 100 se não forem administrados.
Qual foi o impacto causado pelos hipopótamos no ecossistema?
Ainda não conseguimos quantificar seu impacto, mas foi levantada a hipótese de que seus excrementos possam acelerar o processo de eutrofização dos lagos [uma grande abundância de nutrientes que pode levar à proliferação de algas ou outros micro-organismos nocivos].
Observamos possíveis evidências que comprovariam isso na forma de peixes mortos, principalmente quando a temperatura sobe. Isso pode ser resultado da falta de oxigênio na água [a proliferação das algas resulta em níveis mais baixos de oxigênio].
Os hipopótamos são uma ameaça para outras formas de vida selvagem?
Não temos evidências que corroborem essa hipótese, mas há a preocupação de que os hipopótamos possam deslocar espécies nativas, como lontras e peixes-boi. Mas os hipopótamos costumam ser animais extremamente territoriais.
Os hipopótamos são um risco para as pessoas?
Eu já participei pessoalmente do processo de captura e presenciei em primeira mão o perigo que estes animais poderosos podem representar. Embora não tenhamos conhecimento de nenhum ferido, é uma possibilidade. Eles já causaram estragos em fazendas e foram vistos em cidades. Hipopótamos matam mais pessoas na África do que qualquer outro animal.
O que os habitantes locais acham dos hipopótamos em seus “quintais”?
Os hipopótamos são animais carismáticos e se tornaram uma atração turística na região. Mas as pessoas também os reconhecem como animais perigosos. Estamos preocupados com o crescimento descontrolado de sua população.
Por que as autoridades não removem os hipopótamos, ou autorizam os moradores a matá-los para consumo?
Os hipopótamos são animais muito carismáticos e as pessoas os adoram. Tentamos a caça controlada, mas causou um escândalo.
Consumir sua carne pode ser perigoso, já que podem ser portadores de doenças.