Em 2016, o lêmure de frente vermelha (Eulemur rufifrons) foi filmado pela primeira vez esfregando diplópodes tóxicos nos genitais e ânus. A especialista em primatas Louise Peckre, pesquisadora do Instituto Leibniz de Pesquisas Primatas (Alemanha), foi a responsável pela descoberta quando visitava a região central de Madagascar.
Isso aconteceu logo depois que chuvas pesadas atingiram a área, e Peckre e seus colegas notaram que vários lêmures estavam recolhendo os artrópodes do chão da floresta. Os diplópodes saíam do solo por causa da mudança de tempo, e os lêmures não perderam a chance de esfregá-los no traseiro.
Os pesquisadores observaram fascinados enquanto os lêmures esfregavam os artrópodes nos rabos, região anal e genial, e depois começaram a mastigar os piolhos-de-cobra. Apenas de vez em quando eles engoliam o animal.
Esfregar coisas no corpo não é um ato incomum entre primatas. Você mesmo já deve ter passado algumas coisas no seu corpo hoje – desodorante, protetor solar, talvez repelente. Pois os lêmures estavam fazendo exatamente isso. Passando repelente.
Esses diplópodes pertencem ao gênero Sechellptus, que tende a secretar fluidos tóxicos como um mecanismo de defesa. Neste caso, os fluidos são compostos de benzoquinona, que é um composto químico parente do quinino, um repelente de mosquitos natural. Tudo indica que ao mastigar o artrópode e passar a substância tóxica no corpo, os lêmures estão usando a benzoquinona para se livrar de parasitas que são frequentemente encontrados no sistema digestivo.
Os pesquisadores apontam para o grupo de parasitas Oxyuridae, que é conhecido por viver perto do ânus. Os pobres lêmures que estão sujeitos a esta infestação específica podem ter coceiras bem desagradáveis.
“Durante as observações em que a pelagem foi esfregada, notamos a presença de áreas carecas na parte baixa das costas. Essas áreas peladas indicam a presença de infecções do Oxyuridae na população”, diz Peckre.
O próximo passo dos pesquisadores é comparar este comportamento com o de outros primatas, como macaco-aranha, que também usa os diplópodes de forma semelhante. Se esta hipótese se mostrar correta, os cientistas esperam encontrar outros exemplos deste comportamento entre outros primatas que estão expostos aos parasitas digestivos.
Este estudo foi publicado na revista Primates.
Fonte: Hypescience