“O teto do aviário havia sido cortado e estava voando com o vento”, explica. “Minha pequena coruja macho, Scamp, não estava ali. Alguém havia invadido. Ou eles o roubaram ou ele conseguiu escapar enquanto eles tentaram”.
MacLeod, um treinador de aves, usava sua coruja para entreter crianças que ficavam hospedadas na pousada que administra com sua esposa em Lewis, na Escócia. “Scamp era um membro da família”, diz MacLeod. “Eu estou devastado por ele não estar mais aqui”.
A invasão no aviário de MacLeod é atípica por uma série de questões. Sua pousada fica em uma parte pitoresca e remota do litoral de ventos fortes de Lewis – não é um local onde crimes geralmente acontecem. Ladrões de pássaros caçadores, especialmente corujas, não são comuns.
Mas é um crime que tem aumentado, segundo os membros da comunidade de falcoaria, que treina aves de rapina. Há a crescente suspeita de que eles têm sido alvejados por um motivo surpreendente – como substituição de dinheiro vivo.
Globalmente, estima-se que, até o final da década, terão sido feitas quase 726 bilhões de transações sem dinheiro vivo, um aumento de 10,9% desde 2015. Alguns países, estão se adiantando bastante na mudança para pagamentos eletrônicos. No Reino Unido, por exemplo, o número de transações em dinheiro em 2017 caiu 15% em relação ao ano anterior – para 13,1 bilhões -, enquanto os pagamentos por cartão aumentaram.
Especialistas estimam que cerca de 200 espécimes — alguns provenientes da natureza, outros nascidos de animais capturados na natureza — foram comercializados entre 2013 e 2016, principalmente no Japão, Europa e Estados Unidos.
Em estudo na revista Science, pesquisadores defendem que a devastação de florestas como a Amazônia pode levar a novas pandemias, mas os custos para conter a devastação ambiental são bem menores que os valores para lidar com a doença.
Na China, os pagamentos por celular aumentaram cinco vezes em apenas um trimestre de 2016. No Japão, os pagamentos em cash caíram 8,7% em 2017.
Mas conforme cresce o uso de cartões de crédito sem contato, pagamentos por celular e transações online, a quantidade de dinheiro carregada pelas pessoas ou guardada em estabelecimentos comerciais diminui. Para criminosos, isso cria um problema. Dinheiro vivo é o melhor amigo dos ladrões – tem valor instantâneo, pode ser carregado facilmente, é relativamente difícil de rastrear e fácil de descartar.
Por isso, com pessoas no mundo inteiro usando cada vez menos dinheiro vivo, ladrões estão precisando encontrar alternativas para ajudá-los nas empreitadas por lucro rápido e ilegal. Veja abaixo algumas dessas alternativas que estão ganhando terreno entre criminosos.
Aves de rapina
Na Suécia, onde 2% de todas as transações são feitas usando dinheiro vivo e um quinto das pessoas sequer chegaram a sacar dinheiro de um caixa eletrônico no ano passado, há os sinais mais fortes de que alguma coisa está mudando entre grupos criminosos do país.
Quatro anos atrás, houve 30 roubos a banco no país, enquanto em 1990 havia cerca de 100 por ano. Em 2017 foram apenas 11. Há declínios parecidos no número de roubos de carro.
Enquanto isso, crimes contra espécies animais protegidas têm aumentado na Suécia, chegando a 156 em 2016 – o maior nível em uma década. Policiais suecos dizem que o roubo de ovos de corujas raras e orquídeas estão entre os crimes mais comuns contra espécies protegidas.
Esses animais são então vendidos no mercado negro e levados escondidos a países como Arábia Saudita, Emirados Árabes e Catar, onde ter uma ave de rapina é vista como símbolo de status. De acordo com Filippo Bassini, chefe da unidade de polícia para espécies em proteção na Suécia, uma coruja-cinzenta adulta pode custar mais de US$ 112 mil (R$ 434 mil) e são frequentemente vendidas pela internet.
Outros países também tiveram um aumento nos crimes envolvendo espécies em extinção ou protegidas. No Reino Unido, onde apenas 40% de todos os pagamentos são feitos com dinheiro vivo, houve um aumento em crimes envolvendo aves de rapina.
E por mais que uma coruja relativamente comum como Scamp possa render apenas 100 libras no mercado negro (R$ 527), animais raros como um falcão-peregrino fêmea pode custar no mínimo 4 mil libras (R$ 21 mil).
Um falcão-sacre, comumente encontrado na Sibéria, pode render até U$ 75 mil (R$ 291 mil) no mercado ilegal. A procura por essas aves de rapina no Oriente Médio elevou os preços nos últimos anos, tornando-os altamente lucrativos. Pássaros criados em cativeiro podem ser exportados – muitas vezes em voos especialmente fretados – se o criador puder comprovar que eles não foram tirados da natureza. Mas o comércio ilegal desses pássaros parece estar aumentando.
Segundo o superintendente interino do Ibama Guilherme Almeida, é importante que as pessoas voltem das férias sem levar para a cidade onde moram animais da fauna brasileira ou plantas nativas.