Brasileiro narra pânico em terremoto no Japão: ‘Parecia que o chão tinha subido e despencado de repente’

Imagem mostra uma das ruas afetadas pelo terremoto na província de Hokkaido, no Japão, onde dois homens carregam placa de político
Extensão dos estragos provocados pelo terremoto em Hokkaido ainda é desconhecida, mas 5,3 milhões de pessoas foram afetadas

“Os tremores geralmente vêm gradativos. Desta vez, foi um golpe só. Parecia que o chão tinha subido e despencado de repente”, relata. Objetos da casa caíram, criando um cenário de caos no apartamento.

“Só não me machuquei porque estava dormindo debaixo do batente. As colunas chegaram a entortar.”

O terremoto de magnitude 6,7 na escala Richter atingiu toda a ilha ocupada pela província de Hokkaido, no extremo norte do Japão. Houve vários deslizamentos e a interrupção do fornecimento de energia tornou tudo mais difícil.

O apagão afetou 5,3 milhões de habitantes em quase 3 milhões de domicílios. “Muita gente foi procurar comida em lojas de conveniência e supermercados, mas encontrou tudo fechado porque não tinha luz”, conta o brasileiro.

Serviços de transporte, empresas e até a Bolsa de Valores de Hokkaido suspenderam suas operações por falta de energia elétrica.

O serviço hospitalar funcionou com a energia de geradores, mas metade dos doze principais hospitais ficaram sem condições de atender emergências.

O primeiro tremor na pequena cidade de Atsuma foi tão forte, que a Agência de Meteorologia do Japão resolveu elevar de Shindo 6 para 7, o nível máximo na medição sísmica japonesa.

Diferente da escala Richter que mede a quantidade de energia liberada (magnitude), o sistema usado pelos japoneses descreve o grau de vibração num ponto da superfície.

No nível Shindo 7, fica impossível caminhar e mesmo as casas mais resistentes podem apresentar danos.

Até o início da noite, o saldo era de sete mortos, 300 feridos e 30 pessoas desaparecidas em consequência do fortíssimo terremoto. De acordo com o setor de assistência do Consulado-geral do Brasil em Tóquio, não há brasileiros entre as vítimas.

Negócios prejudicados

Sandro Pereira, brasileiro que vive na província de Hokkaido, onde foi registrado um forte terremoto no Japão, posa para foto segurando carne e uma faca, com uma bandeira do Brasil ao fundo. Ele trabalha em uma churrascaria na província
Sandro Pereira, que trabalha em uma churrascaria na província onde houve o terremoto: “As carnes coloquei no freezer, desligado, para elas não estragarem. Pelo menos é mais fresco, mas não sei por quanto tempo vão aguentar”

Na província de Hokkaido residem 150 brasileiros, a maioria na capital Sapporo. Sandro é um deles. Há um ano, ele trocou a província de Nagano por Hokkaido, onde é chefe de cozinha em uma churrascaria no centro da cidade.

Com o terremoto, o estabelecimento ficou sem condições de atendimento e precisou cancelar todas as reservas. “Quebrou muita coisa e não tem energia elétrica. As carnes coloquei no freezer, desligado, para elas não estragarem. Pelo menos é mais fresco, mas não sei por quanto tempo vão aguentar”.

Mesmo sem água nem luz, Sandro decidiu passar a noite na churrascaria por confiar na estrutura do prédio, e também por estar totalmente abastecido. Enquanto isso, calcula os prejuízos.

“Quando teve aquele grande terremoto em 2011, minha loja em Nagano sofreu um baque porque a economia local enfraqueceu com o fechamento das pequenas fábricas da região. Os clientes sumiram”.

Esse episódio levou o brasileiro à seguinte conclusão: o terremoto é a maior ameaça de qualquer empreendimento no país.

Estragos

Imagem mostra rua em centro comercial da província de Hokkaido, no Japão, em meio a apagão provocado por terremoto
Estima-se que o restabelecimento total da enegia na província vá demorar ao menos uma semana

Ainda é desconhecida a extensão dos estragos em toda a Província, famosa pela criação de gado e pela indústria florestal. A situação que já estava difícil ficou pior ainda com o apagão histórico.

Pelas previsões do ministro de Comércio e Indústria do Japão, Hiroshige Seko, vai levar pelo menos uma semana para o restabelecimento do fornecimento de energia em toda a região. De acordo com o Ministério, até o final desta sexta-feira será possível restaurar 2,9 gigawatts, volume insuficiente para cobrir toda a demanda que chega 3,8 gigawatts.

Hokkaido tinha acabado de passar pela forte tempestade tropical em que se transformou o tufão Jebi. Perto do epicentro, deslizamentos de terra simultâneos ocorridos com os tremores destruíram moradias em Atsuma, cidade onde residem todos os desaparecidos registrados até agora.

Especialistas alertam que a parte afetada da colina poderá ceder com novos tremores.

Fonte: BBC