Por meio de edição genética e sofisticadas técnicas envolvendo células-tronco, cientistas chineses conseguiram produzir crias a partir de dois camundongos fêmeas. Os filhotes resultaram saudáveis e capazes de procriar por conta própria. Os camundongos de dois pais, por outro lado, sobreviveram apenas cerca de 48 horas.
Certos répteis, anfíbios e peixes são capazes de se reproduzir sem necessidade de um parceiro do sexo oposto, mas o mesmo não se aplica à maioria dos mamíferos, mesmo se recorrendo à fertilização artificial.
Os pesquisadores, baseados na Academia Chinesa de Ciências, explicam que isso se deve ao fato de, durante o desenvolvimento da linha germinal, certos genes maternos e paternos serem bloqueados pelo mecanismo chamado de impressão genômica. Crias que não recebem material genético da mãe e do pai podem ter desenvolvimento anormal ou serem inviáveis.
Para criar os camundongos bimaternais, a equipe liderada pelo cientista Qi Zhou empregou células-tronco embrionárias (ESC, na sigla em inglês) haploides, as quais só contêm a metade do número de cromossomos e DNA de apenas um dos genitores.
Empregando edição genética, os cientistas eliminaram três regiões de impressão genômica das ESCs haploides que continham o DNA de uma das mães, e as injetaram em óvulos da outra fêmea. De 210 embriões, 29 camundongos atingiram a idade adulta e tiveram filhotes normais.
O processo bipaternal é mais complicado, envolvendo, entre outros fatores, a eliminação de sete regiões de impressão do genoma. Embora as crias só tenham sobrevivido dois dias, “esta pesquisa nos mostra o que é possível”, comentou um dos coordenadores do projeto, Wei Li.
Segundo o estudo, publicado nesta quinta-feira (11/10) na revista Cell Stem Cell, não há ainda qualquer perspectiva de o processo ser aplicado em breve em humanos para criar bebês de casais do mesmo sexo.
Consultado pela agência de notícias Reuters para comentar os resultados do estudo, o especialista em células-tronco Dusko Ilic, do King’s College de Londres, observou que “o risco de anomalias severas é elevado demais, e levaria anos de pesquisas em vários modelos animais para compreender plenamente como fazê-lo de modo seguro”.
Para Azim Surani, especialista em linhas germinais e epigenoma da Universidade de Cambridge, trata-se de um trabalho notável, mas a “extensa manipulação genética” envolvida indica não ser um método plausível para criar bebês humanos de pais do mesmo sexo.
Fonte: Deutsche Welle