Faz tempo que esta cidade, que abriga o Walt Disney World, é um dos destinos mais procurados pelos turistas. Agora, o lugar quer ser conhecido por outra distinção: cidade pioneira na substituição da energia gerada a partir do carbono.
Suas aspirações podem ser observadas nas milhares de poças espalhadas pela cidade, que coletam a água das frequentes chuvas. Painéis solares flutuantes boiam nessa água, alimentando a rede elétrica.
As evidências também são observadas nas ruas da cidade, com painéis solares equilibrados sobre os postes de iluminação para alimentá-los com energia em vez de recorrerem à rede elétrica. Cerca de 18 mil dos 25 mil postes da cidade já foram convertidos em LEDs de alta eficiência.
Até as poças para algas desempenham um papel. É nelas que as autoridades estão testando um sistema para capturar o carbono emitido pela cidade a partir das usinas de energia e do transporte público, em vez de liberá-lo na atmosfera.
Orlando está criando seu próprio caminho para ajudar a limitar os efeitos da mudança climática. Em parte, a cidade está agindo num espaço abandonado pelo governo federal. Está entre as quase 300 cidades e condados americanos que reafirmaram as metas do acordo climático de Paris depois que o presidente Donald J. Trump anunciou no ano passado que pretendia tirar os Estados Unidos do pacto.
“As cidades precisaram assumir a dianteira”, disse Chris Castro, diretor de sustentabilidade de Orlando. “Seria de esperar que o governo federal assumisse a liderança, mas o governo parece recuar dia a dia dos compromissos estabelecidos”.
Orlando definiu uma nova meta de gerar toda a sua energia a partir de fontes renováveis já em 2050. O prefeito Buddy Dyer reconhece que as metas da cidade exigirão mais do que determinação. “Enquanto comunidade, tivemos sucesso na criação de visões”, disse ele. “Acho que todos reconhecemos que precisamos de avanços tecnológicos para alcançar a marca de 100%”.
Conhecida como Estado onde Brilha o Sol, o potencial da Flórida para a geração de energia solar é significativo. Já em 2020, a energia solar deve solar deve responder por 8% da eletricidade gerada pela companhia elétrica de Orlando.
A companhia elétrica municipal instalou equipamentos para gerar 20 megawatts de energia solar – o suficiente para alimentar cerca de 3.200 lares. Os 280 mil moradores da cidade contribuem com mais 10 megawatts de energia solar gerada a partir de painéis nos telhados.
Como incentivo, os moradores recebem de volta todo o valor da energia que produzem para a rede elétrica. E a cidade quer trazer um grande painel solar flutuante para as poças d’água de uma usina de tratamento de esgoto.
Mas, sozinha, a energia solar não fará com que Orlando alcance a marca de energia 100% limpa, dizem os especialistas. Como outras cidades, Orlando luta contra a dependência em relação ao carvão. Los Angeles propôs substituir suas usinas de carvão remanescentes por usinas à base de gás natural, que produzem cerca de metade do carbono das usinas à base de carvão. Em Orlando, cerca de 47% da composição energética têm origem no carvão.
Conforme Orlando tenta aumentar o uso de fontes intermitentes, como a energia solar e eólica, o armazenamento em baterias será importante, mas essa tecnologia ainda é cara. Além disso, os críticos argumentam que o foco nas usinas de energia resolve apenas uma parte do problema das emissões de gases estufa. Em 2017, pouco mais de um terço das emissões de gases-estufa dos EUA vinha da indústria elétrica, enquanto os transportes e o setor industrial respondiam por cerca de metade, de acordo com a Agência de Informações Energéticas dos EUA.
O gás natural alimenta o sistema de ônibus, e os caminhões de lixo usam motores híbridos, reduzindo o uso da gasolina (a força policial deu um passo além, usando motocicletas elétricas). Em suas oficinas de veículos, Orlando mantém uma estação de gás natural que mistura o combustível e abastece a frota de caminhões. A instalação recebe 60% de sua energia dos painéis solares. Outros edifícios da cidade adotaram modelos de alta eficiência energética.
Orlando se juntou a Boston, Chicago e Los Angeles na esperança de reduzir o custo dos produtos livres de carbono – incluindo veículos elétricos e baterias para o armazenamento de energia – por meio de compras em grande quantidade.
Os preservacionistas estão acompanhando. “Os moradores de comunidades que se comprometem com o objetivo de usar energia 100% esperam e merecem receber uma energia 100% limpa, e não a continuidade da dependência em relação a usinas de carvão nem a proliferação de usinas à base de gás, mais sujas”, disse Michael Brune, diretor-executivo do Sierra Club. “É por isso que vemos líderes em comunidades de todo o país valendo-se desses compromissos para pressionar as companhias elétricas e os políticos a honrarem o que dizem”.
E quanto maior o progresso para alcançar a meta, mais esforço é necessário.
“O desafio é cada vez maior conforme nos aproximamos da marca de 100%”, disse Ed Smeloff, da Vote Solar, organização sem fins lucrativos da Califórnia que promove a energia limpa. “O futuro que vai nos permitir alcançar a marca de 100% é provavelmente mais diversificado do que aquilo que estamos vendo agora”.
Fonte: The New York Times