Há 66 milhões de anos, um meteoro com algo entre 10 e 15 quilômetros de diâmetro atingiu o local que o hoje corresponde à península de Yucatán – aquele “rabinho” virado para cima no sul do mapa do México. Nenhum outro evento catastrófico da história da Terra mexe mais com o imaginário popular: o pedregulho cósmico foi o último prego no caixão dos dinossauros, o grupo de répteis que dominou o planeta por mil vezes mais tempo que a existência do Homo sapiens.
Não foram só eles que saíram da vida pra entrar para a história. Algo entre 64% a 85% de todas as espécies existentes na época (inclua aí vegetais e fungos, e não só animais) foram extintas.
Ninguém, naturalmente, estava lá para filmar a cacetada homérica. Mas sabemos com razoável precisão o passo a passo da tragédia. Por exemplo: um bocado de irídio, um elemento obscuro da tabela periódica, se acumulou no solo de vários locais do planeta.
O irídio é raro na Terra – mas abundante em certos corpos extraterrestres. Sinal de que foi mesmo importado via meteoro, e que pancada foi forte o suficiente para espalhá-lo por outros continentes, muito além do epicentro no México.
O calor transformou areia em vidro; partículas transparentes choveram como granizo microscópio. Tsunamis monumentais – na costa nordestina, atingiram 20 metros de altura – arrastaram muitas e muitas toneladas de sedimentos para a terra firme, onde se misturaram a árvores, conchas, dentes de tubarão e uma gororoba de outros detritos. Conforme a água escoava, os sedimentos mais gordinhos iam parar no fundo, os de grãos mais finos ficavam em cima.
Todos esses resquícios ficaram ao relento. E, com o passar dos anos, foram soterrados e compactados por novas camadas de sedimento. A vida terrestre esqueceu o trauma e se recuperou. O que um dia esteve na superfície virou rocha.
E nesta rocha, temos uma espécie de foto do momento do impacto do asteroide. Ou seja: uma camada de rocha extremamente bem-delimitada, que, quando estudada, revela indícios do que era (e quem vivia) na Terra naquele exato momento.
Esse “retrato” geológico característico aparece no planeta todo – mais especificamente, em 350 lugares conhecidos. O conjunto é conhecido pelos geólogos como limite K-Pg (sigla para Cretáceo-Paleógeno, que são, respectivamente, o último período em que houve dinossauros e o primeiro sem eles).