Frankfurter Allgemeine Zeitung – O “Trump tropical” ameaça a selva amazônica, 04/12/2018
O Brasil estabeleceu metas climáticas elevadas para si. Até 2025, o sexto maior produtor de gases-estufa do mundo precisa reduzir suas emissões em 37% abaixo do nível de 2005. E poderia ser um dos países que alcançam de fato suas metas: o Brasil foi um dois poucos emergentes que conseguiram diminuir as emissões no ano passado. A redução foi de 2,3%, em 2017 produziu 2,071 bilhões de toneladas de CO2.
Esse recuo se deve quase exclusivamente ao recuo do desmatamento na Amazônia. A destruição de áreas florestais na selva amazônica caiu cerca de 12% em 2017, o que é bem demonstrativo do significado da floresta.
O desflorestamento é impulsionado pelo setor agrário, que se reserva novas áreas para plantação de soja e bovinocultura – dois dos principais produtos de exportação do país. Contudo também são altas as emissões diretas pela agropecuária, devido à utilização de fertilizantes e a criação de gado. Acrescentado o desmatamento, com 1,5 bilhão de toneladas de CO2 o setor é responsável por mais de 70% das emissões de gases-estufa do Brasil.
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Os interesses do setor do agronegócio que se beneficia do desmatamento são representados por um poderoso lobby político no Congresso brasileiro, o qual praticamente nenhum governo pode ignorar. Isso também explica por que se estagnou o retrocesso do desmatamento dos últimos anos.
O presidente recém-eleito, Jair Bolsonaro, que em janeiro assumirá o cargo, é conhecido como amigo desse lobby ruralista. Durante a campanha eleitoral, ele ameaçou até mesmo abandonar o Acordo do Clima de Paris e acabar com o Ministério do Meio Ambiente. No meio tempo, foi dissuadido de ambas as ideias.
Nos círculos do presidente eleito há gente que afirma que por trás da mudança climática está uma conspiração marxista. Assim como o governo em Washington, também Bolsonaro tem pouca simpatia por organizações multilaterais.
Mas há igualmente pessoas mais bem informadas. Por exemplo, ele tem amizade com a família de três climatologistas conhecidos. Além disso, seu retrocesso em relação ao Ministério do Meio Ambiente teria sido decisivamente influenciado por militares e representantes do setor agropecuário. Muito vai depender de quem Bolsonaro nomeará ministro do Meio Ambiente.
Na cúpula do clima na Polônia, o Brasil seguirá sendo o parceiro confiável e ambicioso que se conhece das negociações sobre o clima. Em 2019, está claro, será diferente. Em princípio, a cúpula deveria se realizar no Brasil, mas o futuro governo comunicou agora às Nações Unidas que não está mais disponível como anfitrião.
Tagesschau – Brasil não quer mesmo a cúpula do clima, 29/11/2018
O Brasil retirou sua candidatura como anfitrião da Conferência do Clima da Nações Unidas em 2019. “A politica ambiental não pode atrapalhar o desenvolvimento do Brasil”, disse o presidente eleito, Jair Bolsonaro. “Hoje, a economia está quase de volta nos trilhos, graças ao agronegócio, e é sufocada por questões ambientais.”
Bolsonaro só assume o cargo em 1º de janeiro, portanto o cancelamento ainda partiu da atual presidência. Primeiro alegaram-se, como justificativas para o recuo, dificuldades financeiras e a mudança de governo no início do ano. No entanto Bolsonaro afirmou que teria pressionado o governo a esse passo e participado da decisão.
A soberania do Brasil sobre a Região Amazônica estaria em perigo, disse Bolsonaro. Situam-se no país 60% da selva amazônica, cuja preservação, segundo especialistas, é importante na luta contra o aquecimento do planeta. Na semana passada, o governo brasileiro divulgou que a destruição recente da mata tropical foi a mais violenta dos últimos dez anos. Nos 12 meses até o fim de 2018, desmatou-se uma superfície correspondente à metade de Jamaica.
TAZ – Bolsonaro ensina medo, 30/11/2018
Tempos duros esperam os indígenas do Brasil. Desde a eleição do extremista de direita Jair Bolsonaro como presidente, eles temem por seus direitos e sua terra. O ex-militar é amigo declarado de latifundiários e barões da soja, cujos interesses se chocam com o meio ambiente e a proteção do clima.
Sobretudo partindo da Bacia Amazônica, acumulam-se os relatos sobre choques envolvendo posse de terra. Embora Bolsonaro só assuma o cargo em 1º de janeiro, sua eleição acirra os conflitos. Na defensiva estão os pequenos agricultores que praticam agricultura ecológica, e os indígenas, cujos interesses em geral só são representados por ONGs, ativistas dos direitos humanos e o minoritário Partido dos Trabalhadores (PT).
A suprapartidária bancada parlamentar ruralista, por sua vez, parte para a ofensiva. A até então presidente da frente formada por mais de 200 deputados, Tereza Cristina, será ministra da Agricultura. Ainda não está decidido se o Ministério do Meio Ambiente, malquisto pelos direitistas, ficará subordinado a sua pasta. Contudo, logo após a nomeação, ela anunciou que relaxará as já frouxas diretrizes para pesticidas e utilização da terra.
Fonte: Deutsche Welle