Algoritmo indica os melhores lugares para restaurar a Mata Atlântica

Mata Atlântica (Foto: Creative Commons / Ricardoseefeldt)
MATA ATLÂNTICA (FOTO: CREATIVE COMMONS / RICARDOSEEFELDT)

Instituído em 2017, o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa determina a necessidade do Brasil restaurar 12 milhões de hectares de floresta em 20 anos, sendo 5 milhões na Mata Atlântica — o equivalente a 4% desse bioma.

Mas não basta só plantar árvores. O local escolhido pode maximizar em muito os benefícios ecossistêmicos da restauração do bioma. “Onde promover essa restauração faz uma grande diferença”, afirma o economista e cientista ambiental Bernardo Strassburg,

Com um time internacional de pesquisadores, o pesquisador desenvolveu um algoritmo que, cruzando diversos dados sobre as regiões, determina em quais áreas a recuperação traria um melhor custo-benefício. “Essa ferramenta deveria ter uma abordagem flexível que integrasse múltiplos critérios – não apenas a conservação da biodiversidade, a mitigação das mudanças climáticas ou a redução de custos. Queríamos um algoritmo que fizesse os três ao mesmo tempo.”

Por exemplo, uma restauração concentrada no litoral Sudeste, por exemplo, é boa para a conservação da biodiversidade, enquanto que, se feita apenas em terras mais áridas do Nordeste, que são mais baratas, os custos são reduzidos, mas os benefícios para biodiversidade e clima são muito baixos.

Com o uso do software, foram mapeadas 362 soluções para recuperação florestal com um custo-benefício oito vezes maior do que aquelas obtidas por métodos usuais. “A diferença que isso faz para a Mata Atlântica é enorme: são 450 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) a menos na atmosfera, 308 espécies que não serão extintas e US$ 4 bilhões de redução de custos”, afirma Strassburg, que é diretor do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS).

A tarefa de encontrar a melhor solução é complexa. Se essa restauração é feita em áreas com o maior benefício para a mitigação das mudanças climáticas por sequestro de carbono, as vantagens para a biodiversidade serão medianas e o custo será alto. Se ela se dá nas áreas mais benéficas para biodiversidade, a redução de CO2 na atmosfera será menos eficiente.

Em um dos melhores cenários, cada um dos três fatores – conservação da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e custos – têm um desempenho de cerca de 94%, 90% e 80%, respectivamente.

“Mas definir se é melhor ter um desempenho de 94% para conservação e 90% para redução de CO2 na atmosfera ou o contrário, isso se trata de uma escolha da sociedade”, destaca Strassburg. “Soluções extremas são boas para um fator e ruim para os outros. No entanto, há aquelas que não são excelentes individualmente, mas muito boas para tudo.”

Pela legislação, cada propriedade deve ter, no mínimo, 20% de vegetação de Mata Atlântica, e as que estiverem abaixo da meta devem fazer a restauração – não necessariamente na sua própria terra, pois a lei permite que o produtor pague por essa recuperação em outros locais.

“O pior cenário encontrado na análise é cada proprietário restaurar a vegetação em seu terreno, em pequenos projetos pulverizados”, revela Strassburg. “Sai mais caro e é pior para a biodiversidade e para o clima. Por isso, é importante considerar a inteligência espacial trazida pelas soluções do algoritmo.”

Fonte: Revista Galileu