O relatório mais recente da ONU sobre o meio ambiente é devastador para o planeta. O texto aponta que até um milhão de espécies estão ameaçadas – e a culpa é nossa. Talvez não exatamente minha ou sua, mas do ser humano como um grupo. E este é só o último relatório a fazer um alerta grave como este – não é o primeiro e, infelizmente, não será o último. De acordo com outro relatório, feito em 2017 pelo Carbon Disclosure Project (CDP), organização focada em divulgar o impacto de grandes corporações e suas práticas no meio ambiente, 100 empresas são responsáveis por mais de 70% das emissões de gases que causam o efeito estufa desde 1988.
Baseado neste relatório do CDP, o site Decolonial Atlas resolveu fazer um mapa mostrando o tamanho do impacto destas empresas e até mesmo o nome de seus CEOs (clique na imagem acima para ver todos os nomes) – para eles, é importante dar um rosto a estas pessoas para que saibamos quem culpar. “Os caras que dirigem essas empresas – e são na maioria caras – ficaram ricos nas costas de literalmente toda a vida na Terra. Seu modelo de negócios depende da destruição do único lar que a humanidade já conheceu. Enquanto isso, desviamos nossa indignação com nossos vizinhos, amigos e familiares por usar canudos de plástico ou não reciclar. Se há alguém que merece a indignação de todos os 7,5 bilhões de nós, são essas 100 pessoas aqui”, acusa o texto.
O tamanho dos países representa sua participação nas emissões de CO2 desde o início da industrialização. A cidade com mais membros na lista é Houston, nos EUA, com sete, seguida por Jacarta, na Indonésia, Calgary, no Canadá, Moscou, na Rússia, e Pequim, na China. A pessoa mais rica da lista é a magnata do petróleo russo Vagit Alekperov, que atualmente vale 20,7 bilhões de dólares.
No Brasil, o único nome que aparece é o de Roberto Castello Branco, atual presidente da Petrobras.
Fora do anonimato
Segundo o texto do Decolonial Atlas, a ideia por trás do mapa é deixar claro que, por mais nobres que sejam, atitudes individuais de reciclagem ou uso de menos plástico, por exemplo, não terão um impacto significativo se não prestarmos atenção no estrago que grandes corporações estão fazendo no planeta.
“Este mapa é uma resposta ao mito difundido de que podemos parar a mudança climática se apenas modificarmos nosso comportamento pessoal e comprarmos mais produtos verdes. Separando ou não nossa reciclagem, essas corporações continuarão destruindo o planeta, a menos que as detenhamos. Os principais tomadores de decisão dessas empresas têm o privilégio de um relativo anonimato e, com esse mapa, estamos tentando retirar o véu e mostrá-los. Esses caras devem sentir a mesma responsabilidade pessoal por salvar o planeta que todos nós sentimos”.
Se quisermos reduzir seriamente a quantidade de CO2 e outros gases de efeito estufa que estamos emitindo são essas empresas – e mais especificamente, esses CEOs – que precisam ser levados em conta em primeiro lugar. Mais de 50% de todas as emissões de gases do efeito estufa desde 1988 podem ser rastreadas apenas para as 25 principais entidades nessa lista.
São elas, em ordem decrescente: China (produção de carvão estatal), Aramco, Gazprom, Petróleo Nacional Iraniano, ExxonMobil, Coal India, Pemex, Rússia (produção estatal de carvão), Shell, China National Petroleum, BP, Chevron, PDVSA, Abu Dhabi Petróleo Nacional, Polônia Carvão, Energia Peabody, Sonatrach, Kuwait Petróleo, Total, BHP Billiton, ConocoPhilips, Petrobras, Lukoil, RioTinto, Petróleo Nacional da Nigéria.
Planeta em risco
Se a extração de combustível fóssil no próximo quarto de século continuar na mesma taxa dos últimos 25 anos, o relatório Carbon Majors afirma que estamos no caminho para um aumento de 4°C nas temperaturas médias até o final deste século – acelerando a perda da biodiversidade, o aumento da insegurança alimentar, aumento no nível dos oceanos, e todas as catástrofes associadas à crise climática que já vivemos.
Até mesmo companhias de petróleo estão cientes destes problemas (ou foram muito pressionadas) e iniciaram programas para produzir energia de maneira mais sustentável. Mas, em muitos casos, há uma discrepância entre o tamanho desses programas e a publicidade feita em cima deles.
Esta visão mais geral concentra a atenção na questão principal, a emissão de CO2 e outros gases de efeito estufa. Dar nome aos CEOs de cada empresa torna as coisas mais pessoais. Essa personalização, entretanto, deve vir com uma advertência: os verdadeiros donos da indústria não são os CEOs, mas os acionistas majoritários. São as prioridades desses acionistas – apenas o lucro ou o planeta também – que impulsionam a tomada de decisões corporativas.
Esses acionistas incluem grandes investidores institucionais, mas também governos nacionais. Até 20% do investimento em extração de hidrocarbonetos é feito por financiamento público – ou seja, por nós, através de nossos governos.
Grandes instituições não possuem rosto. Esses CEOs são escolhidos para administrar e representar suas empresas, portanto devem se acostumar a responder pelos atos de suas corporações. O Atlas Decolonial, que publicou este mapa, cita o artista folk americano e organizador do trabalho Utah Phillips para justificar o mapa: “A terra não está morrendo, está sendo morta e aqueles que a matam têm nomes e endereços.” [Big Think, Decolonial Atlas]
Fonte: Hypescience