Graças à voracidade chinesa, a colheita da soja no Brasil, que deveria cair levemente este ano, pode aumentar no ciclo 2019/20 até superar a dos Estados Unidos, atualmente os maiores produtores mundiais.
O departamento americano de Agricultura avaliou na quarta-feira que a produção do grão no Brasil chegará a 123 milhões de toneladas em 2020, em comparação com as 117 milhões deste ano. Já os Estados Unidos vão registrar uma queda de 123,6 milhões de toneladas para 112 milhões devido a péssimas condições climáticas.
Atual maior exportador mundial de soja, logo à frente dos EUA, o Brasil registou em 2018 um recorde na comercialização do produto para o exterior, com 83,6 milhões de toneladas negociadas, o que significa um crescimento de 22% em relação ao ano anterior.
Esse resultado se explica fundamentalmente pelo apetite dos chineses que, em plena guerra tarifária com os Estados Unidos, aumentaram suas compras do Brasil.
As exportações de soja brasileira para a China subiram 30%, movimentando 68,8 milhões de toneladas.
Já a União Europeia compra do Brasil um terço da soja de que necessita.
Apesar disso, a Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais estima que as exportações de grãos de soja devem cair 18,5% este ano devido à peste suína africana que está fazendo estragos na Ásia.
Frenético aumento
Principal grão do Brasil, a soja foi introduzida no país em 1914 e sua produção passou de 25 mil toneladas em 1949 para um milhão em 1969.
A partir da década de 1970, o setor registrou febril crescimento graças à migração de produtores do sul para o centro-oeste, com o desenvolvimento de novas técnicas de cultivo e o uso de pesticidas. Assim, em 1979 a produção chegou a 15 milhões de toneladas.
“Os preços aumentavam e os produtores do sul não tinham tinham terra suficiente para desenvolver. Muitos se instalaram no Cerrado, onde transformaram terras baratas mas inóspitas para plantar a oleaginosa”, disse Amélio Dall’Agnol, da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa).
Essa migração coincidiu com o desenvolvimento do sistema de semeadura direta para grandes cultivos, que permitiu ao Brasil ser parte de uma revolução agrícola.
A semeadura direta consiste no plantio de diversas sementes para assim limitar a erosão do solo. Essa técnica, da qual o Brasil é hoje líder mundial, está associada a um uso em massa de herbicidas para limpar o solo antes da semeadura.
Soja geneticamente modificada
As variedades de soja geneticamente modificadas “foram necessárias para adaptar o cultivo à latitude do Cerrado”, disse Dall’Agnol. “Esse foi um fator-chave para o aumento da nossa produtividade”, acrescentou.
Plantada ilegalmente nos anos 1990, a soja transgênica teve sua comercialização temporariamente autorizada em 2003, e dois anos mais tarde o Congresso a confirmou.
Em 2017, as variedades de soja transgênica ocupavam 96,55% da superfície cultivada contra 22% em 2004, segundo a assessoria Céleres.
Apesar das críticas de ambientalistas, que apontam o avanço dos cultivos às custas do desmatamento, o Brasil crê que tem capacidade para reforçar sua posição de domínio mundial.
“Nosso país é um dos poucos que ainda podem aumentar suas terras cultivadas em 70 e 80 milhões de hectares a mais, o que lhe permitiria mais que duplicar a produção de cereais e oleaginosas”, disse Leonardo Sologuren, presidente do Comitê Estratégico Soja Brasil.
Fonte: AFP