Se houvesse uma ponte entre as Ilhas Ábaco e a ilha Grand Bahama, uma pessoa poderia percorrê-la mais rápido do que o furacão Dorian.
O furacão, agora categoria 4 na escala Saffir-Simpson (de um máximo de 5), descarrega vento e fúria no noroeste do arquipélago das Bahamas há mais de 24 horas.
Desde que pousou em Elbow Cay ao meio-dia de domingo, ele se desloca muito lentamente: mal ultrapassou 7 km/h e, desde segunda-feira de manhã, sua velocidade caiu para 2 km/h. Para se ter uma ideia, um ser humano caminha normalmente a comum é de 6 km/h.
Isso, por si só, é um problema grave. Quanto menor a velocidade, maior o dano potencial, uma vez que ventos e chuvas fortes permanecerão nos mesmos locais por mais tempo.
Segundo o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC, na sigla em inglês), essa situação pode levar a “destruição extrema” nas Bahamas. De fato, de acordo com relatórios preliminares, pelo menos 13 mil casas foram destruídas nas ilhas afetadas.
Às 12h do horário de Brasília desta segunda-feira, 2 de setembro, a tempestade continuava a se deslocar a nordeste de Grand Bahama, com ventos máximos sustentados de 250 km/h, segundo o NHC.
A costa leste dos Estados Unidos está agora no caminho de Dorian. No entanto, não há um consenso entre os meteorologistas sobre qual parte sofrerá os maiores impactos.
Segundo o NHC, a previsão é de que o furacão seguirá rumo ao oeste-noroeste na terça-feira e, em seguida, fará uma mudança gradual para noroeste. No entanto, a lentidão de Dorian também torna as previsões incertas.
Mas como se explica que o furacão se desloque mais devagar do que uma pessoa?
O movimento do furacão
Para explicar a lentidão de Dorian, é necessário entender como furacões se movem. De fato, um aspecto que muitas pessoas desconhecem é que furacões não se movem de fato. Ou, pelo menos, não se movem por conta própria.
Eles são deslocados pelas correntes de vento globais, que são influenciadas pela pressão atmosférica. Ou seja, sem ventos e sistemas de pressão, os furacões ficariam parados.
Para se ter uma ideia de como isso funciona, imagine que um furacão é como um barco de papel em um rio volumoso: correntes o levarão de um lado para o outro e, se houver uma barreira em seu caminho, ele irá parar até que correntes o levem em outra direção. A única diferença é que não há canais na atmosfera, e as correntes podem empurrá-lo em qualquer direção.
Mas, embora os furacões não se movam sozinhos, eles giram sobre um centro de baixa pressão e tendem a ir para o norte, devido à rotação da Terra.
Para a rotação da Terra?
Há um fenômeno da natureza que talvez você tenha aprendido em alguma aula de física: a Força Inercial de Coriolis.
Descoberta no século 19, é responsável por fazer com que a água, quando desce pelo ralo do chuveiro ou da pia, sempre gire no sentido anti-horário no hemisfério norte e a favor no sul.
Essa força torna o lado direito dos furacões mais forte, mas também faz com eles tendam a ir para o norte.
Essa tendência também possibilita uma das principais funções dos furacões no ciclo da Terra, que é a transferência de energia da Linha do Equador para os polos.
Mas, nessa tarefa, o furacão também deve atravessar sistemas climáticos de latitude média que podem influenciar seu desenvolvimento e movimento, que são responsáveis por Dorian ter praticamente parado.
E o que torna Dorian tão lento?
Desde que começou a se afastar de Porto Rico na semana passada, Dorian se deparou em sua trajetória com dois eventos atmosféricos.
Por um lado, um cavado, ou região alongada de pressão atmosférica baixa, sobre Cuba e que, segundo o NHC, se desloca para o oeste e forma uma forte crista subtropical sobre o Atlântico ocidental.
De acordo com as previsões, isso forçaria o furacão a virar para o noroeste rumo à Flórida. Mas, para que isso aconteça, precisa que um sistema de alta pressão que atualmente está sobre o Atlântico Norte abra caminho para ele.
Isso é chamado de anticiclone das Bermudas, e, como o nome indica, suas forças repelem as baixas pressões dos ciclones tropicais. Este fator mantém Dorian quase estático nas Bahamas, e sua potencial movimentação para o leste do Atlântico é o que os meteorologistas esperam como condição para o furacão gire mais para o norte.
A boa notícia para a Flórida é que os furacões são como carros: eles precisam frear para virar. O fato de Dorian passar tão lentamente sobre as Bahamas – e mesmo parar por algum tempo – é um sinal de que ele está prestes a começar a virar para o norte.
No entanto, isso implicará que o noroeste das Bahamas não terá trégua nesta segunda e terça-feira.
É comum furacões reduzirem tanto de velocidade?
Conforme explicado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), a velocidade dos furacões depende muito da latitude em que estão.
E, tipicamente, à medida que se viram para o norte em sua trajetória a partir do oeste, geralmente reduzem sua velocidade. No entanto, praticamente parar não é um fenômeno tão comum.
No ano passado, o furacão Florence também reduziu significativamente sua velocidade, e Mitch, em 1998, registrou uma velocidade de 0 km/h por um período de seis horas.
O furacão mais rápido foi Emily, em 1987: atingiu 110,5 km/h ao atravessar o Atlântico Norte.
Fonte: BBC