O explorador americano Victor Vescovo se tornou a primeira pessoa no mundo a visitar os pontos mais profundos em todos os oceanos.
Seu quinto e último mergulho foi à Fossa de Molloy, no Oceano Ártico, a 5.500 metros de profundidade.
Nos últimos dez meses, o milionário havia feito mergulhos profundos nos oceanos Pacífico, Índico, Atlântico e Antártico. O time dele também visitou o naufrágio do Titanic.
A última parte da Expedição Five Deeps (Cinco Profundezas, em inglês) foi concluída em 24 de agosto, quando o explorador alcançou o ponto conhecido como Buraco Molloy, que fica a 275 km do arquipélago Svalbard, na Noruega.
A profundeza recorde da exploração foi de cerca de 5.500 metros – a primeira vez que um humano esteve nesse local.
Embarcação especial
Todas as explorações de Vescovo foram feitas usando um submarino do tipo DSV (Deep Sea Vehicle), um tipo de embarcação tripulada especial para grandes profundezas. O veículo da expedição ganhou o nome de Limiting Factor (Fator Limitante, em tradução livre) e pode carregar dois tripulantes.
Ele tem 12 toneladas e pode suportar a pressão esmagadora no fundo do oceano, operar no escuro e em temperaturas congelantes. É lançado e recuperado a partir de um “nave-mãe”, um navio de apoio, que ganhou o nome de Pressure Drop (Queda de Pressão, em tradução livre).
Vescovo disse que tinha muito a agradecer às pessoas que trabalharam com ele.
“São coisas que precisam ser feitas” disse ele à BBC News. “Tenho a filosofia de que não estamos aqui apenas para sobreviver ou apenas para estarmos confortáveis, mas para contribuir de alguma forma. E o caminho que eu escolhi foi o de viver uma aventura enquanto faço algo que possa nos levar para frente enquanto espécie.”
O explorador é investidor e reservista da Marinha americana. Sua riqueza já o permitiu esquiar em ambos os polos e escalar as maiores montanhas em cada continente.
Experimentos científicos
Suas explorações também permitiram diversos avanços científicos, já que ele financia as pesquisas necessárias para as empreitadas. No curso da sua última expedição mundial, pesquisadores usaram mais de 100 aterrissadores – estruturas que são afundadas para o fundo do mar e que gravam o que veem e o que sentem ao longo do caminho e quando chegam no fundo.
O time científico da expedição diz que descobriu quase 40 novas espécies no processo. Um grande catálogo de amostras biológicas e aquáticas aguarda análise no laboratório, incluindo um grupo único de amostras de águas profundas obtido em cada um dos cinco locais visitados.
O cientista-chefe da expedição, Alan Jamieson, ressaltou a importância das medidas de salinidade, temperatura e profundidade feitas pelo submarino e pelos aterrissadores.
“Você mede na descida e na subida, e se você somar os metros medidos, são 1,5 milhão de metros de água”, diz ele. Isso vai ajudar os pesquisadores a entenderem melhor a circulação do oceano, o que é necessário para melhorar os modelos computacionais que projetam futuros cenários climáticos.
“Temos muito poucas medidas das partes mais profundas dos oceanos, abaixo de 6 mil metros de profundidade”, diz o cientista, que é biólogo marinho da universidade de Newcastle, no Reino Unido.
O navio DSSV Pressure Drop mapeou o fundo do mar conforme atravessou os cinco oceanos. Os dados de profundidade cobrem cerca de 300 mil quilômetros quadrados – uma área equivalente à da Itália.
Os dados estão sendo compartilhados com um projeto internacional que procura mapear todo o chão do oceano até 2030. Atualmente, menos de 20% foi mapeado com uma boa resolução.
A expedição também demonstrou a alta capacidade da tecnologia de mar profundo mais recente.
A expectativa é que o submarino Limiting Factor seja o primeiro de muitos do tipo.
“Eu acho que o que Victor fez é notável e outros vão continuar o que ele começou, voltando a esses lugares e passando mais tempo lá”, diz Patrick Lahey, co-criador da Triton Submarines, que construiu a embarcação.
“Você está começando a ver mais pesquisa marinha financiada e conduzida por pessoas ricas que compraram submarinos. Eles acharam que iriam usá-los para recreação mas agora estão usando para completar expedições científicas, para dar a pessoas como Al Jamieson uma plataforma para trabalhar.”
Vescovo agora está pensando no espaço e conversando com pessoas que podem ajudá-lo a chegar lá.
No entanto, ele está longe de querer abandonar a pesquisa marinha e espera fazer novos mergulhos no ano que vem em fossas que não foram exploradas no círculo do Pacífico.
Vescovo foi parabenizado pelo oceanógrafo americano Don Walsh, que fez história em 1960 quando se juntou a Jacques Piccard na primeira expedição tripulada ao ponto mais profundo da Terra – a depressão Challenger, na Fossa das Marianas.
Walsh também elogiou a nova tecnologia utilizada.
“O que você vê aqui é um sistema – o navio, o submarino e os aterrissadores. Eles interagem e cooperam, e quando você os vê trabalhando junto é como um balê”, disse Walsh à BBC News.
“O que é impressionante é a capacidade de repetir o feito – ser capaz de mergulhar de novo e de novo.”
A Atlantic Productions está fazendo um documentário sobre a Expedição Five Deeps para o Discovery Channel que deve estrear no ano que vem.
Fonte: BBC