A placa pendurada no portão promete “Batatas – saudáveis e deliciosas”. O slogan, ao qual caberia adicionar a palavra “rara”, está alinhado à filosofia de Cornel Lindemann-Berk de qualidade na frente da quantidade. “Não temos chuva suficiente no verão. E como não queremos regá-las, transformamos essa fraqueza numa força.”
Os rendimentos são 50% inferiores ao que poderiam ter sido, mas mesmo as variedades raras como Bergerac ou Bamberg não são compostas por muita água. Clientes de toda a região vão à loja da fazenda para comprar essas batatas conhecidas por seu sabor rico e alto conteúdo mineral.
Quem veio no verão passado também viu as faixas de flores coloridas à beira dos campos de Lindemann-Berk. Suas misturas de brilhantes papoulas vermelhas, escovinhas e margaridas selvagens atraíram ao local uma abundância de insetos. “O número de espécies de plantas aumentou, e as de insetos quadruplicaram”, afirmou o agrônomo.
Os cientistas começaram a documentar o crescimento das flores após realizar plantios direcionados para insetos e pássaros. Aqui os animais podem encontrar comida e néctar, como também um local seguro para se reproduzir.
Essa empresa familiar na região da Renânia, na Alemanha, é uma das dez fazendas do país que participam de um projeto para testar e implementar medidas de conservação práticas e economicamente viáveis, paralelamente à agricultura tradicional.
Ao participar do projeto conhecido como Future Resources, Agriculture & Nature Conservation (F.R.A.N.Z. – Recursos Futuros, Agricultura e Conservação da Natureza), que se estende de 2017 a 2027, Lindemann-Berk está a caminho de se tornar um agricultor orgânico.
“Como parte deste projeto, não usamos adubo líquido nem produtos fitossanitários. Às vezes a produção é zero, porque ervas daninhas como cardos e bardanas são avassaladoras aqui.” Para cada planta cultivada, cerca de 30 ervas e gramíneas indesejadas também despontam da terra.
Opção pela diversidade
Deste modo, há anos Lindemann-Berk vem sofrendo perdas de cereais e de colza. Mas ao assumir a fazenda Gut Neu-Hemmerich, três décadas atrás, ele converteu vários prédios abandonados em apartamentos e escritórios, e assim não depende apenas da agricultura para viver.
Ainda assim, para ele ainda é importante plantar uma diversidade de grãos, e não pratica monocultura, mas sim a rotação de culturas, como os fazendeiros faziam séculos atrás. Variar o que se cultiva a cada ano ajuda a regenerar o solo, ao mesmo tempo em que reduz doenças e pragas.
Como parte de outras experiências para o projeto F.R.A.N.Z., Lindemann-Berk plantou juntos milho e feijão verde. O feijão cresce sobre pés de milho e impede que a luz chegue ao solo, reduzindo assim significativamente o crescimento de ervas daninhas. Como o feijão é rico em proteínas e o milho contém amido, a mistura também pode ser usada para alimentar o gado.
Também foram introduzidas nos campos as chamadas “janelas de cotovias” – faixas retangulares em forma de janelas nas plantações, permitindo que a população de aves, fortemente dizimada, procrie tranquilamente no solo entre a densa plantação de cereais.
Ele só utiliza fertilizantes e pesticidas em caso de emergência, e mesmo assim em doses homeopáticas. “Fertilizante demais pode até causar a multiplicação de ervas daninhas indesejáveis. Nós calculamos as necessidades há mais de 40 anos. Usando amostras do solo, examinamos a quantidade de nutrientes no local e calculamos exatamente quanto fertilizante precisamos usar para obter um bom rendimento. Só então compramos o que precisamos.”
Lindemann-Berk também prefere usar fertilizante orgânico feito com esterco. “É importado da Holanda, pois quase não há gado aqui nas proximidades”, explica. Sua fazenda fornece grãos para o gado holandês, “então, por que não pegar de volta o estrume do animal?”, pergunta, matreiro.
Os organismos do solo digerem o valioso fertilizante líquido e excretam minerais como nitrogênio, que as plantas absorvem pelas raízes. Essa mistura líquida para proteção de culturas pode ser aplicada a plantas problemáticas usando uma seringa com navegação por satélite e controle digital, uma medida particularmente eficaz após o pôr do sol.
Com a ajuda de sua própria estação meteorológica, dos dados coletados do solo e do serviço meteorológico, Lindemann-Berk pode fazer previsões para calcular o risco de ataque de fungos. Usando bactérias lácticas, ele conseguiu reduzir drasticamente o uso de fungicidas químicos. Mesmo assim, os pesticidas só devem ser usados se a planta não for capaz de se autoajudar.
Depois que a colheita é concluída, ele coleta novamente amostras do solo. “Até agora, as medições não mostraram resíduos de glifosato e seus produtos de decomposição dentro do grão”, frisa.
Ele aponta para uma prateleira atrás dele, cheia de pastas, e explica que deve manter seus registros guardados por cinco anos. Embora os regulamentos sobre fertilizantes estejam sendo endurecidos há muitos anos – fazendo muitos fazendeiros desistirem da agricultura –, os impactos positivos não aparecerão nas águas subterrâneas antes de 30 anos.
Sabor e saúde ou beleza
As fazendas orgânicas só podem tratar suas plantas com preparados de cobre, que estimulam o crescimento e previnem contra fungos. Embora seja um metal pesado, os seres humanos precisam de cobre em pequenas doses, para ajudar na formação do sangue e apoiar o funcionamento do sistema nervoso.
“Fazemos tudo o que podemos para ser ecologicamente corretos, e fazemos o que as fazendas orgânicas fazem tão bem”, afirma Lindemann-Berk. “Porque ninguém quer prejudicar o meio ambiente. Os agronegócios estão trabalhando nos mesmos lugares há séculos.”
A prática sustentável é uma prioridade aqui. Mas para ser certificado como uma fazenda orgânica, ele precisaria arrancar as ervas daninhas à mão – como séculos atrás – e revolver regularmente o solo ao redor das plantas, para arrancar as raízes de ervas e gramíneas indesejadas.
“Ninguém quer fazer esse trabalho, nem mesmo os jovens estagiários”, comenta. E, assim, o trabalho é deixado às máquinas, em tempos de agricultura industrial na Alemanha.
Lindemann-Berk dá a suas plantas muito espaço para crescer, o que lhes permite absorver nutrientes suficientes do solo e, por sua vez, resulta em terra bem arejada, menos suscetível a doenças fungais. Ele também pede aos clientes que prestam atenção excessiva à aparência de suas frutas e legumes para reconsiderarem suas prioridades.
“Se forneço a meus clientes maçãs dos pomares, saborosas e não tratadas, sempre haverá reclamações sobre algumas marcas nas frutas.”. A quem quer produtos que sejam ao mesmo tempo orgânicos e impecáveis, o agricultar alerta: “São duas coisas que não combinam.”
Fonte: Deutsche Welle