Cofco exigirá rastreabilidade de 100% da soja brasileira para evitar áreas desmatadas. Após bloqueio à Cargill, agronegócio acende sinal amarelo
O aumento do desmatamento na Amazônia e no Cerrado começa a gerar impactos ao agronegócio nacional. Duas grandes compradoras da soja brasileira anunciaram medidas para barrar produtos de áreas devastadas, ações que podem provocar uma rejeição aos produtos agrícolas brasileiros em grandes mercados, especialmente na Europa.
A Cofco International, maior processadora de alimentos da China e uma das maiores compradoras de commodities agrícolas do mundo, passará a exigir rastreabilidade de toda a soja proveniente do Brasil, até 2023. A empresa já possui rastreabilidade de toda soja produzida no Cerrado, região que abrange os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que são os principais produtores da commodity. O objetivo da Cofco é evitar a compra de soja proveniente de áreas desmatadas.
O anúncio da gigante chinesa se dá em um cenário de maior pressão sobre o agronegócio brasileiro, em função do aumento da devastação. Dados divulgados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), mostram que o desmatamento na Amazônia cresceu 171% em abril. Foram destruídos 529 km² de florestas, a maior área em 10 anos. O cenário levou a norueguesa Crieg Seafood, uma das maiores produtoras de salmão do mundo, a suspender a compra de rações da Cargill por conta do uso de soja de procedência nacional.
Na semana passada, um fundos de investimento que gerenciam mais de 20 trilhões de reais em ativos divulgaram uma carta aberta pedindo ao Brasil a suspensão do desmatamento. Para o grupo, a perda da biodiversidade e as emissões de carbono representam um “risco sistêmico” aos seus portfólios.
Os casos geram preocupação ao agronegócio brasileiro. “Todos os anos temos esses atos isolados, até aí sem preocupação. Mas, este ano, pelo aumento do desmatamento e com um alinhamento de grandes players do setor financeiro à agenda ambiental, o alerta amarelo foi ligado”. afirma Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). “A prática do desmatamento ilegal impacta todos os produtos brasileiros, independente do local de origem ou do setor. A Amazônia coloca o Brasil no mundo, mas também pode tirá-lo”.
Outros grandes compradores e comerciantes de soja brasileira também anunciaram medidas recentes para melhorar a rastreabilidade do produto. A suíça Louis Dreyfus se comprometeu a rastrear metade da soja proveniente do País. Já a Cargill diz ter mapeado 100% de sua base de fornecedores. Segundo a companhia, a meta é tornar suas compras livres de desmatamento.
Fonte: Exame