Todos os anos, nesta mesma época, meteorologistas começam a estimar como será a temporada de furacões e tempestades tropicais que afetarão principalmente a América do Norte e o Caribe.
E como se não faltasse mais nada em 2020, pela segunda vez na história, cinco ciclones tropicais simultaneamente ativos foram detectados no oceano Atlântico.
A última vez que um fenômeno semelhante ocorreu foi em 1971, quando o mesmo número de tempestades tropicais foi registrado no Atlântico ao mesmo tempo.
De acordo com o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC, por sua sigla em inglês), as formações são o furacão Paulette, o furacão Sally, as tempestades tropicais Teddy e Vicky e a depressão tropical René (que desaparecerá nas próximas horas).
Enquanto o furacão Paulette passa pelas Bahamas, o Sally está prestes a entrar nos EUA, entre os Estados de Louisiana e Mississippi.
Mas por que esse fenômeno tão incomum está ocorrendo? Isso é um anúncio do que acontecerá na temporada de furacões deste ano?
“Temos que ter algo claro: não há uma resposta única para esse fenômeno. O que vemos aqui é a soma de muitos fatores que coincidem para produzir essas cinco tempestades tropicais ao mesmo tempo”, disse o meteorologista Jim Dale, da British Weather Services, à BBC News Mundo.
Dale, autor do livro Weather or Not, ressalta que a causa desse incidente não é apenas o aquecimento global.
“Esse fenômeno também apareceu em 1971, quando o aquecimento global mal era percebido. Por isso devemos sempre levar em consideração os outros elementos que fazem parte da formação dos furacões”, acrescenta.
“Este ano tem sido tão incomum, com tantas tempestades tropicais, que os nomes na lista para nomear essas formações já estão se esgotando. Resta apenas um: Wilfred.”
A temporada
Segundo os cientistas, diversos fatores atuam na formação dos ciclones tropicais — que, de acordo com seu avanço, se transformam em furacões ou tempestades tropicais.
Isso vai depender “do aquecimento da água, das áreas de baixa pressão em águas quentes, da direção dos ventos, da absorção dos ventos quentes e frios que lhe dão velocidade, entre outros (fatores)”, diz Dale.
Para o meteorologista, neste ano há dois fenômenos que podem ter influenciado o elevado número de ciclones tropicais.
“A influência da ‘La Niña’, a corrente no Pacífico e, claro, o aumento das temperaturas oceânicas que afetou algumas áreas do Atlântico, especialmente na costa oeste da África, onde a maioria desses ciclones se originou, foram capazes de influenciar esse fenômeno histórico”, afirma.
Dale também destaca que o aquecimento global certamente influenciará o número de furacões e tempestades tropicais que afetarão essa região do planeta no futuro.
“Por exemplo, agora estamos vendo como os incêndios florestais devastam milhares de hectares. Embora incêndios desse tipo sejam conhecidos há mais de 100 anos, a verdade é que agora eles estão muito mais agressivos com a seca e o aumento das temperaturas”, prossegue Dale.
“Com os furacões acontece algo semelhante: nós os conhecemos desde sempre, mas os efeitos climáticos que a Terra sofreu nos últimos anos vão fazer com que ocorram com mais frequência e em situações inusitadas como a que estamos vendo”.
Três direções
No momento, os cinco ciclones podem seguir em direções diferentes, tanto nos Estados Unidos quanto em algumas ilhas do Caribe.
Segundo o NHC, a passagem do furacão Paulette pelas Bahamas “pode colocar a vida das pessoas em perigo”.
“As marés produzidas pelo Paulette estão afetando parte das Ilhas Leeward, Grandes Antilhas, Bahamas e Estados Unidos. Essas maré podem causar ondas que colocam em risco a vida de quem habita essas áreas”, explicou o NHC em nota.
Esse alerta se soma ao do furacão Sally, que entraria nos Estados Unidos ao longo da costa sul e que o NHC pediu uma observação cuidadosa não só em sua rota, mas principalmente no efeito dos ventos nas áreas por onde ele passará.
No entanto, o NHC observou que as tempestades tropicais Teddy e Vicky e a depressão tropical René, em seu estado atual, não representam um perigo para essa região do planeta.
Ao mesmo tempo, “é preciso ter em mente que tradicionalmente as temporadas de furacões trazem três grandes furacões. Ainda estamos em setembro e já temos pelo menos oito (em 2020)”, diz Dale.
“É uma situação para monitorar e investigar, para prevenir com mais rigor os danos causados por esses fenômenos”.
Fonte: BBC