Como é o desenvolvimento dos pandas-gigantes, que nascem cegos, rosados e indefesos

Bebês pandas começam a vida quase irreconhecíveis e dependem das mães para obter calor, proteção e amamentação. Mas logo esse cenário muda.

Os pandas nascem sem suas marcas características em preto e branco, que logo aparecem, como observado neste filhote de seis semanas nascido em 21 de agosto de 2020 no Zoológico Nacional do Instituto Smithsoniano em Washington, D.C. Testes genéticos revelaram que o filhote ainda sem nome é macho.
FOTO DE ROSHAN PATEL, SMITHSONIAN’S NATIONAL ZOO

Seis semanas após o parto da panda-gigante Mei Xiang em Washington, D.C., o Zoológico Nacional do Instituto Smithsoniano fez a revelação do sexo do filhote recém-nascido — mas não teve bolo colorido nem fogos de artifício, e sim uma foto fofa com os resultados de um teste genético. É menino!

O teste genético foi realizado no primeiro exame veterinário do recém-nascido ainda sem nome em setembro, um mês inteiro após seu nascimento em 21 de agosto. Os testes genéticos são a única maneira de descobrir o sexo de um filhote de panda nas primeiras semanas de vida. Não só as mães são incrivelmente protetoras em relação aos filhotes nessa idade, como os pandas também nascem sem genitália.

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E não é apenas isso que lhes falta ao nascer. Os recém-nascidos de pandas-gigantes são quase completamente irreconhecíveis. Sem suas famosas pelagens em preto e branco, os pandas nascem rosados, enrugados, cegos, chorões e são quase do tamanho de um pote de manteiga. Então, como crescem e se transformam nas bolas de pelo  fofinhas irresistíveis para os humanos? Veja a seguir as etapas de desenvolvimento dos bebês pandas.

Trabalho de parto de Mei Xiang no Zoológico Nacional. Durante as primeiras semanas de vida de um filhote, ele é tão frágil que sua mãe se recusa a deixá-lo sozinho até mesmo para se alimentar ou tomar água.
FOTO DE SMITHSONIAN’S NATIONAL ZOO

Recém-nascidos indefesos

Os pandas nascem frágeis e subdesenvolvidos. Pesando entre 95 e 141 gramas, os recém-nascidos possuem uma fração de 1/900 do peso de sua mãe, figurando entre os menores recém-nascidos de mamíferos comparados a suas mães: mães humanas são apenas cerca de 20 vezes mais pesadas do que seus bebês e as orcas são 50 vezes mais pesadas. Somente marsupiais nascem menores porque seus filhotes ficam abrigados nas bolsas das mães até completar seu desenvolvimento. As mães de cangurus-vermelhos, por exemplo, possuem 100 mil vezes o peso de seus filhotes ao nascer.

Os pesquisadores não sabem ao certo por que os pandas nascem tão pequenos. Em dezembro 2019, um estudo publicado no periódico Journal of Anatomy analisou estruturas esqueléticas de pandas-gigantes e de seus primos ursos, que também costumam nascer pequenos em relação a suas mães. O estudo constatou que outras espécies de ursos possuem gestação de dois meses e nascem com esqueletos maduros, ao passo que a gestação de pandas tem duração de apenas um mês e os filhotes nascem com esqueletos comparativamente “subdesenvolvidos”, segundo os autores do estudo.

A breve gestação provavelmente se deve à dieta do urso, composta principalmente por bambu, afirma Laurie Thompson, curadora assistente de pandas-gigantes no Zoológico Nacional. O bambu não é muito rico em nutrientes. Em vez de despender enormes quantidades de energia no desenvolvimento do feto, as pandas fêmeas concentram sua energia na produção de leite com elevado teor de gordura para ajudar no crescimento dos filhotes fora do útero.

Os pandas recém-nascidos dependem da amamentação e proteção das mães porque não enxergam, não ouvem, nem engatinham. São tão indefesos que não conseguem regular a temperatura corporal nem eliminar excrementos por conta própria nas primeiras semanas de vida. Assim, as mães precisam assumir ambas as tarefas, embalando os filhotes para mantê-los aquecidos e esfregando as barrigas deles para estimular os músculos a excretar urina e fezes. Nessas primeiras semanas, as mamães pandas não saem de perto dos filhotes nem mesmo para se alimentar ou se hidratar.

A maternidade dos pandas é uma tarefa tão árdua que, quando nascem gêmeos, as mães muitas vezes só conseguem cuidar de um dos filhotes — e são obrigadas a abandonar o outro. Em cativeiro, os cientistas interferem e cuidam do filhote rejeitado, além disso, procuram revezar os filhotes para garantir que ambos partilhem da atenção e do leite da mãe.

Além de seu recém-nascido, Mei Xiang também teve outros três filhotes que sobreviveram: Tai Shan, Bao Bao e Bei Bei, mostrado nesta foto. Bei Bei nasceu em 22 de agosto de 2015 e se mudou para a China como parte do acordo de cooperação em reprodução do Zoológico Nacional em 2019.
FOTO DE REBECCA HALE, NATIONAL GEOGRAPHIC

Crescimento acelerado

Os pandas recém-nascidos compensam rapidamente o limitado desenvolvimento dentro do útero. No intervalo de 48 horas, a pelagem branca já começa a recobrir sua pele cor-de-rosa, seguida pelas manchas pretas em volta dos olhos e no corpo. Em cerca de três semanas, sua pelagem está completa.

Os pandas recém-nascidos também ganham peso em ritmo acelerado, mamando até 14 vezes por dia.

“Após o nascimento, ao receberem os cuidados das mães e constante amamentação, os filhotes começam a crescer bastante rápido”, afirma Thompson. O recém-nascido de Mei Xiang ganhou cerca de 50% de seu peso corporal entre as duas primeiras pesagens, as quais ocorreram com menos de uma semana de diferença.

Após segurar os bebês todos os dias por cerca de um mês, as mães começam a tentar colocá-los no chão e sair da toca brevemente para se alimentar e se hidratar.

“Quando a mãe começa a sair com maior frequência, sabemos que o filhote já consegue regular sua própria temperatura corporal e pode ficar sozinho por algum tempo”, afirma Thompson.

Com seis semanas, começam a abrir os olhos e, em dois meses, seus canais auditivos são abertos. Seus grunhidos agudos se tornam mais roucos. Enfim, entre três e quatro meses de vida, sua genitália externa começa a se desenvolver e os pandas podem finalmente defecar e urinar por conta própria. Começam a engatinhar, desenvolvem dentes e podem até começar a mordiscar bambu — um indicativo de que esses filhotes estão prontos para a próxima fase da vida.

Laurie Thompson, curadora assistente de pandas-gigantes no Zoológico Nacional do Instituto Smithsoniano em Washington, D.C., fotografada com Bei Bei em 2016.
FOTO DE REBECCA HALE, NATIONAL GEOGRAPHIC
Os cuidadores de animais do Zoológico Nacional começam a adestrar filhotes de pandas-gigantes com cerca de cinco meses de idade, uma de suas primeiras tarefas básicas é tocar objetos com o focinho.
FOTO DE REBECCA HALE, NATIONAL GEOGRAPHIC

Chegando à idade adulta

Os pandas começam a ficar independentes de suas mães por volta dos cinco meses de idade. Deixam as tocas pela primeira vez e aprendem a andar, escalar e ingerir alimentos sólidos. O ano seguinte de suas vidas é todo dedicado a chegar à idade adulta.

Aos cinco meses, segundo Thompson, o desenvolvimento cognitivo de um filhote de panda permite que os cuidadores iniciem o adestramento para que o filhote possa ser vacinado, passar por exames de saúde completos (incluindo coleta de sangue) e para que esteja finalmente preparado para a mudança à China aos quatro anos de idade. Como parte do acordo de cooperação em reprodução entre o zoológico e a China, todos os filhotes nascidos no Zoológico Nacional se mudam para a China onde ingressam em um programa de reprodução no Centro de Conservação e Pesquisa de Pandas-Gigantes da China. No início, os treinamentos são bastante simples, como oferecer batata-doce cozida para incentivar o filhote a tocar objetos com o nariz.

Depois de vacinado, o filhote de panda pode sair da toca com a mãe para conhecer esquilos e ver árvores e grama pela primeira vez. Logo estará escalando árvores sozinho — um comportamento importante na natureza para manter o filhote em segurança enquanto a mãe busca alimentos. “Eles aprendem o básico muito cedo”, conta Thompson.

Embora continue mamando aos seis meses, o filhote também inicia o consumo de bambu e outros alimentos. Contudo, ao completar um ano, um filhote de panda pode pesar até 34 quilos e estará praticamente desmamado — embora possa continuar mamando por mais seis meses apenas para seu conforto.

Finalmente, entre um ano e meio e dois anos de idade, o panda estará pronto para ser separado de sua mãe. Segundo Thompson, embora ainda esteja em crescimento — podendo alcançar até 135 quilos em média — não ocorrem muitas outras transformações no jovem panda até seu amadurecimento sexual, aos quatro anos em fêmeas e seis anos em machos. “Estão praticamente formados”, explica ela.

Embora o filhote recém-nascido de Mei Xiang, com cerca de 1,6 quilo, ainda tenha muito a crescer, o Zoológico Nacional está criando uma lista de possíveis nomes para o filhote, e os cuidadores dizem que estão ansiosos para vê-lo começar a se movimentar muito mais nas próximas semanas. “É um momento muito divertido para nós”, diz Thompson.

Fonte: National Geographic Brasil