Biólogos da Universidade de Victoria (UVic), no Canadá, descobriram como corais conseguiram sobreviver a uma onda de calor sem precedentes entre 2015 e 2016. O estudo inédito oferece uma nova esperança para a sobrevivência a longo prazo de recifes em face do aquecimento do planeta. O artigo foi publicado nesta terça-feira (8) na revista Nature Communications.
Esses cnidários são muito sensíveis à temperatura da água ao seu redor. Eles são considerados “termômetros marinhos”, por indicarem qualquer perturbação no ambiente — de aumento da temperatura a poluição. Um dos efeitos do calor excessivo é o processo de branqueamento, quando os corais expulsam as algas que habitam seu esqueleto e são responsáveis por funções importantes, como fornecer oxigênio e absorver compostos nitrogenados e fosfatados da digestão. O que fica visível é apenas a estrutura de carbonato de cálcio, que é branca.
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O branqueamento prolongado faz com que os corais morram de fome. Mas, se eles puderem recuperar sua fonte de alimento em algumas semanas, podem se recuperar. Para estudar como isso se dá na natureza, a equipe analisou centenas de colônias de corais em recifes ao redor da Ilha Christmas (Kiritimati), no Oceano Pacífico, durante o El Niño de 2015 e 2016.
Nesses anos, o fenômeno provocou um aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico tropical, influenciando a temperatura da água e o clima pelo mundo. O estresse térmico causado pelo El Niño desencadeou o terceiro evento global de branqueamento em massa de corais. Seu epicentro foi em Kiritimati, onde a onda de calor durou dez meses.
“Entender como alguns corais podem sobreviver a ondas de calor prolongadas pode fornecer uma oportunidade de mitigar o impacto das ondas de calor marinhas nos recifes de coral, permitindo-nos ganhar tempo enquanto trabalhamos para limitar as emissões de gases de efeito estufa”, diz, em nota, Danielle Claar, aluna de doutorado que liderou o estudo.
Até então, a recuperação do branqueamento só havia sido observada depois que o estresse térmico diminuiu. Com os modelos climáticos globais prevendo que as ondas de calor continuarão a aumentar em frequência e duração, a capacidade de um coral recuperar sua fonte de alimento durante uma onda de calor prolongada é importante para sua sobrevivência. “Observar corais se recuperando do branqueamento enquanto ainda assam em águas quentes é uma virada de jogo”, comenta a bióloga marinha Julia Baum, autora sênior da pesquisa.
Segundo a cientista, os corais só têm essa capacidade se não forem expostos a outros tipos de estressores de origem humana, como a poluição da água. Até agora, não estava claro se o manejo local dos recifes poderia ajudar a melhorar as chances dos corais sobreviverem às mudanças climáticas. “Encontramos um lampejo de esperança de que a proteção contra estressores locais possa ajudar os corais”, pontua Baum.
Fonte: Galileu