A missão de cientistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Wuhan disse que é extremamente improvável que o novo coronavírus tenha escapado de um laboratório chinês.
Os cientistas apresentaram duas hipóteses como as mais prováveis para a origem da covid-19: um hospedeiro animal intermediário ou transmissão por meio de alimentos congelados. Eles afirmaram, porém, não ter encontrado o animal que pode estar na origem do novo coronavírus.
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“As descobertas sugerem que a hipótese de se tratar de um incidente num laboratório é extremamente improvável”, disse o especialista em segurança alimentar e doenças animais da OMS Peter Ben Embarek, que lidera a missão.
“As nossas descobertas iniciais sugerem que a introdução, através de uma espécie hospedeira intermediária, é o caminho mais provável, o que exigirá mais estudos e pesquisas mais específicas”, acrescentou.
Embarek fez nesta terça-feira (09/02) um resumo da investigação levada a cabo, ao longo de quatro semanas, por uma equipe de cientistas chineses e da OMS sobre as possíveis origens do novo coronavírus em Wuhan. Ele disse que a investigação não mudou muito a visão geral que eles tinham antes de começar, mas que ela acrescentou detalhes importantes.
Em busca das origens da pandemia
Wuhan, uma cidade na província chinesa de Hubei, é o local onde o coronavírus Sars-Cov-2 foi pela primeira vez detectado, em dezembro de 2019.
A transmissão para um ser humano a partir de um animal é provável, mas ainda não foi identificada, disse também Liang Wannian, chefe da delegação de cientistas chineses que acompanhou os especialistas internacionais.
Embarek afirmou que as investigações para determinar a origem do Sars-Cov-2 apontam na direção de um “depósito natural” em morcegos, mas que é improvável que esses animais estivessem em Wuhan.
O cientista dinamarquês destacou duas hipóteses como as mais prováveis para a transmissão do vírus aos seres humanos: através de um hospedeiro animal intermediário ou por meio de alimentos congelados.
A hipótese dos alimentos congelados
Sobre essa segunda hipótese, que a China considera uma das mais prováveis vias de chegada do vírus ao país, Embarek disse haver duas teorias: a introdução do vírus nos seres humanos por meio de uma pessoa em particular ou por meio de um foco de contaminação, como o mercado de pescados e mariscos de Huanan, em Wuhan.
“Temos que insistir no estudo da cadeia de congelados como fonte de transmissão, sabemos que o vírus pode aguentar muito tempo, mas ainda não sabemos como pode se transmitir, isso requer ainda muito trabalho”, disse.
Sobre o mercado, afirmou que os cientistas não sabem como o vírus chegou até lá e como se propagou, mas disse que “foi provavelmente o lugar onde uma propagação massiva pôde acontecer de forma fácil”. Ele lembrou, porém, que houve outros casos simultâneos em Wuhan, não relacionados com o mercado de Huanan.
Os cientistas disseram não ter encontrado indícios da presença do vírus em Wuhan antes de os primeiros casos terem sido diagnosticados. “Nos dois meses anteriores a dezembro não há evidências de que o [vírus] estivesse circulando na cidade”, disse Liang.
O chefe dos cientistas chineses disse haver, porém, evidências de infecções por coronavírus que podem ter precedido em várias semanas os primeiros casos detectados. “Isso sugere que não podemos descartar que estava circulando em outras regiões e que essa circulação passou despercebida”, comentou.
Missão sensível para Pequim
A presença de dez especialistas internacionais é considerada sensível para o regime chinês, que quer evitar qualquer responsabilidade por uma pandemia que já matou mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo.
A imprensa estatal e as autoridades têm difundido informações que indicam que o vírus teve origem no exterior, possivelmente via importação de alimentos congelados. Por vezes apontam para a Itália, outras vezes para Estados Unidos ou até para Índia como locais de origem da doença.
“Não é uma questão de encontrar um país ou autoridades responsáveis. É uma questão de entender o que aconteceu para reduzir os riscos no futuro”, ressaltou o epidemiologista alemão Fabian Leendertz, que participou da missão. “É preciso entender o que aconteceu para evitar que volte a acontecer”, acrescentou, ainda antes da viagem.
A OMS já havia alertado que seria necessário ter paciência antes de encontrar a origem do vírus.
Fonte: Deutsche Welle