Comunidades ribeirinhas da região Amazônica moradoras de unidades de conservação desfrutam de melhor acesso à saúde, educação, eletricidade e saneamento básico. Apenas 5% dos adultos moradores destas áreas entrevistados por estudo preferem se mudar para a cidade, em comparação a 58% que vivem em áreas desprotegidas. Os dados são de pesquisa publicada na revista PNAS, na segunda (27), realizada por pesquisadores das universidades federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e de Alagoas (Ufal), do Instituto Juruá e das universidades norueguesas de East Anglia e de Life Sciences.
Os pesquisadores percorreram mais de dois mil quilômetros pelo rio Juruá, afluente do rio Amazonas, em 2016, a fim de entender os impactos sociais de se viver dentro ou fora de uma unidade de conservação. Eles aplicaram questionários e entrevistaram pessoas e famílias de comunidades externas e de unidades de conservação da região, incluindo a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), de Uacari, e as reservas extrativistas do Médio e Baixo Juruá. Ao todo, moradores e líderes comunitários de 100 comunidades da região foram ouvidos, incluindo 426 pessoas e 281 famílias.
Nas entrevistas coletadas, o pesquisador João Campos-Silva observou que as unidades de conservação bem geridas, que possuem forte organização social das comunidades e associações locais, trazem benefícios muito importantes para a qualidade de vida e subsistência local. “O melhor acesso à saúde, educação, eletricidade, saneamento básico e comunicação, observado em comunidades dentro das UCs, influencia na decisão das pessoas de não quererem sair de lá”, comenta o pesquisador do Instituto Juruá, um dos autores do artigo.
Um dos principais resultados da pesquisa é que as comunidades das unidades de conservação têm mais acesso à infraestrutura básica de serviços públicos. Da mesma forma, famílias que residem nessas comunidades têm mais bens duráveis como geladeira, fogão, eletrodomésticos e barco a motor, indicando que morar nas unidades de conservação confere uma maior riqueza material às famílias.
Para Priscila Lopes, coautora do estudo, os dados sugerem que diferentes níveis de gestão participaram da construção de soluções para as comunidades pesquisadas, desde ONGS, empresas, universidades e associações locais. “Elas estimularam o desenvolvimento social com a criação de empregos e cadeias produtivas socialmente mais justas, o que ajuda a consolidar resultados positivos do engajamento em sustentabilidade”, destaca a pesquisadora.
Os autores entendem que esse cenário otimista encontrado na região do rio Juruá pode indicar uma exceção à regra, uma vez que envolve um modelo de cogestão na unidade de conservação. Como a maioria das unidades de conservação na Amazônia não está implementada e enfrenta uma escassez de recursos humanos e financeiros, eles defendem também um aumento do investimento público na implementação dessas áreas protegidas como forma de gerar riqueza com a floresta ainda em pé.
Fonte: Galileu