O conjunto de montanhas mais altas do mundo é também o mais ameaçado pelos efeitos do aquecimento global. É o que indica uma pesquisa conduzida por pesquisadores da Universidade de Leeds, na Inglaterra. O estudo publicado nesta segunda-feira (20) na revista Scientific Reports aponta que a cordilheira do Himalaia, que abriga o Everest, tem perdido gelo em velocidade recorde.
Segundo os pesquisadores, as geleiras estão derretendo dez vezes mais rápido nas últimas décadas do que a média de derretimento desde a Pequena Era do Gelo, um período de resfriamento da Terra que acabou por volta de 1800. Na prática, isso significa que o Himalaia perdeu cerca de 40% da sua área desde então. Para chegar nessas estimativas, a equipe da Universidade de Leeds usou imagens de satélite e modelos digitais de elevação, simulando qual seria a superfície do gelo entre 400 e 700 anos atrás — e, portanto, concluindo quanto foi perdido.
O derretimento “excepcional” do Himalaia, nas palavras dos pesquisadores, também é recorde se comparado ao de outras geleiras do mundo. A título de comparação, a quantidade de gelo que a cordilheira perdeu desde a Pequena Era do Gelo, algo entre 390 km³ e 586 km³, é equivalente a todo o gelo contido hoje nos Alpes da Europa Central, no Cáucaso e na Escandinávia somados.
Para os pesquisadores, esse degelo acelerado e desenfreado do Himalaia não pode ser dissociado do aquecimento global. “Nossas descobertas mostram claramente que o gelo está sendo perdido nas geleiras do Himalaia a uma taxa pelo menos dez vezes maior do que a taxa média nos séculos passados. Essa aceleração na taxa de perda surgiu apenas nas últimas décadas e coincide com a mudança climática induzida pela humanidade”, afirma à imprensa Jonathan Carrivick, um dos autores do estudo e chefe adjunto da Escola de Geografia da Universidade de Leeds.
Esse gelo todo, é claro, acaba se convertendo em líquido. A estimativa é que esse derretimento das geleiras do Himalaia nos últimos séculos tenha elevado entre 0,92 milímetros (mm) e 1,38 mm o nível do mar em todo o mundo. Mas isso não significa abundância para quem depende da água que escoa do degelo da cordilheira.
O derretimento das geleiras, que deveria ser sazonal, abastece diversas regiões da Ásia com a água que é usada para irrigação, geração de energia e até para beber. Com a perda de gelo acelerada, o risco é que esse abastecimento acabe num futuro próximo. Além disso, o derretimento desenfreado também está resultando na formação de imensos lagos nessas regiões.
Estudos apontam que, se esses lagos entrarem em colapso, podem resultar em enchentes que afetarão milhões de pessoas. Segundo Simon Cook, coautor do estudo e professor de Geografia e Ciência Ambiental na Universidade de Dundee, trata-se de um impacto significativo em nações e regiões inteiras.
Fonte: Galileu