É comum que em janeiro as temperaturas na região de Magalhães, costa da Argentina, subam em relação ao restante do ano – elas podem aumentar até 25ºC. Em janeiro de 2019, no entanto, o calor que atingiu algumas praias foi inédito. Os termômetros marcavam até 44º C na sombra. O resultado foi a morte em massa dos pinguins que habitam uma das maiores colônias do mundo.
Pesquisadores da Universidade de Washington relataram o evento que ocorreu há três anos em artigo recém-publicado na revista Ornithological Applications. Eles estudam os pinguins da região desde a década de 1980 e já haviam registrado outros eventos de mortes em massa, como em tempestades. Dessa vez, no entanto, o que preocupa é a quantidade de adultos mortos.
“Qualquer morte em massa como essa é uma preocupação”, afirmou em nota à imprensa Katie Holt, doutoranda em biologia na Universidade de Washington. “Mas o que é mais preocupante sobre a mortalidade por calor é que ela tem o potencial de matar muitos adultos. A viabilidade populacional de aves marinhas longevas – como os pinguins-de-Magalhães – depende da longevidade.”
Segundo a pesquisadora, os pinguins-de-Magalhães podem viver mais de 30 anos, o que significa que eles geralmente têm muitas oportunidades de procriar com sucesso. “Se estamos perdendo um grande número de adultos em um único evento como este, isso é uma grande preocupação”, afirma Holt.
Depois do dia de temperaturas extremas, em 19 de janeiro de 2019, os cientistas que acompanham os pinguins caminharam pela península de Punta Tombo para medir os impactos sobre a colônia. No caminho, encontraram pelo menos 354 pinguins mortos – 264 deles adultos.
As aves foram encontradas de bruços, com pés e nadadeiras estendidas e bico aberto. A posição, segundo os cientistas, indica morte por desidratação. Algumas delas pareciam estar caminhando em direção ao mar para beber água – os pinguins possuem uma glândula que filtra a água salgada –, mas não chegaram a tempo.
Já os filhotes mortos não apresentavam sinal de desnutrição ou de desidratação. A hipótese é que, com o calor extremo, eles não tenham conseguido regular a temperatura para fazer a digestão dos alimentos.
A onda de calor de 2019 também afetou mais pinguins machos do que fêmeas – oito a cada 10 animais mortos eram machos. Ao todo, cerca de 5% de toda a população de pinguins da região central da colônia foi morta pelas altas temperaturas na ocasião.
Fonte: Galileu