Recorde mundial de poluição por mercúrio é registrado na Amazônia peruana

Região dominada pela mineração ilegal de ouro abriga aves com até doze vezes mais metal no organismo do que as de áreas mais afastadas; entenda o ciclo de poluição

Os garimpeiros artesanais da Amazônia peruana usam fogueiras para extrair ouro, enviando metilmercúrio para a atmosfera (Foto: Melissa Marchese )

Apesar de ser uma área intocada de floresta, um trecho da Amazônia peruana superou regiões industriais ao redor do mundo e tornou-se o lugar que apresenta os níveis mais altos de poluição atmosférica por mercúrio.  A situação crítica foi relatada nesta sexta-feira (28) em artigo científico publicado na revista Nature Communications.

A poluição em questão é gerada pela mineração ilegal de ouro, que está por trás de níveis excepcionalmente altos de mercúrio rastreados pela Estação Biológica Los Amigos, no sul do Peru. Aves na área têm até 12 vezes mais do metal do que as moradoras de locais menos poluídos.

Dando em árvore

Para avaliar esse cenário, os autores do estudo realizaram medições inéditas em depósitos terrestres de metilmercúrio atmosférico, a forma mais tóxica de mercúrio. A equipe coletou amostras de ar, solo e folhas das copas das árvores, derrubadas com a ajuda de um enorme estilingue.

O trabalho ocorreu em ambientes florestados, desmatados, próximos ou distantes da atividade de mineração. Os locais desmatados recebem mercúrio por meio das chuvas e apresentaram baixos níveis do metal, independentemente da distância dos mineradores. 

A quantidade da substância em áreas florestais variou bastante. Quatro locais com árvores desgrenhadas — dois perto de trechos de mineração e dois mais distantes — apresentaram níveis de mercúrio de acordo com as médias mundiais.

Os pesquisadores acreditam que isso ocorra pois a presença do metal está relacionada ao índice de área foliar, ou seja, à densidade das copas das árvores. Quanto mais densa a cobertura, mais mercúrio está presente, já que o “teto” das plantas coleta gases e partículas de mercúrio.

Esquema mostra como queima na mineração de ouro libera mercúrio atmosférico que se concentra nas copas das árvores (Foto: Jacqueline R. Gerson et. al)

Ciclo de poluição

Os mineradores ilegais separam as partículas de ouro dos sedimentos dos rios usando o mercúrio, que se liga ao metal valioso, formando pelotas grandes o suficiente para serem capturadas em uma peneira.

O mercúrio atmosférico é liberado quando há queima dessa mistura em fornos a céu aberto. A fumaça é levada ao solo pelas chuvas e depositada nas folhas ou tecidos das árvores. Assim, o metal polui não só o ar, mas a água, e afeta a cadeia alimentar.

O mercúrio foi encontrado acumulado em penas de três espécies de pássaros canoros. Altas concentrações do metal em locais como Los Amigos podem diminuir em até 30% o sucesso reprodutivo das aves, segundo o estudo. 

Subsistência versus meio ambiente

Apesar da poluição ambiental gerada, a mineração de ouro é um meio de subsistência importante para as comunidades locais.

Em comunicado, a especialista Emily Bernhardt, coautora do estudo, ressalta a importância de trabalhar com as comunidades locais na Amazônia para encontrar maneiras dos mineradores terem um meio de vida sustentável e, ao mesmo tempo, proteger comunidades indígenas de serem envenenadas pelo metal no ar ou na água.

Fonte: Galileu