Desmatamento na Amazônia cresceu 56,6% em 3 anos de governo Bolsonaro

Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) mostra que a derrubada de floresta em terras indígenas teve aumento de 153% entre 2018 e 2021

Desmatamento na Amazônia cresceu 56,6% sob o governo de Jair Bolsonaro, aponta estudo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) (Foto: Greenpeace)

O desmatamento na Amazônia cresceu 56,6% durante três anos de governo do presidente Jair Bolsonaro, segundo um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) na última quarta-feira (2).

A estimativa alarmante considera agosto de 2018 e julho de 2021 e compara ao mesmo período de 2015 a 2018. Foram usados dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Segundo a pesquisa, o avanço na derrubada de floresta no segundo semestre de 2018 foi consequência das eleições presidenciais naquele ano. A tendência é que isso se repita neste ano eleitoral de 2022, conforme alerta o estudo.

“Estamos subindo degraus rápido demais quanto à destruição da Amazônia e não podemos nos acostumar com isso”, considera Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM e principal autora do estudo, em comunicado. “Quando olhamos para os números dos últimos três anos, fica claro o retrocesso daquilo que o Brasil foi um dia.”

Áreas mais devastadas

Segundo o estudo, mais da metade (51%) do desmatamento nos três anos avaliados ocorreu em terras públicas, principalmente em áreas de domínio federal (83%). Terras indígenas enfrentaram alta proporcional de 153% em média na sua derrubada, em comparação ao último triênio (um aumento de 496 km² para 1.255 km²).

A derrubada de florestas na Amazônia aumentou de modo consecutivo desde 2018 (Foto: Christian Braga/Greenpeace)

Já o desmatamento em unidades de conservação (UCs) cresceu 63,7%, com 3.595 km² de área derrubada contra 2.195 km² nos três anos anteriores.

O problema foi pior ainda em Florestas Públicas Não Destinadas, trechos florestados que pertencem aos estados ou à União, mas que ainda não são voltados à utilização pela sociedade. A área desmatada nesses locais teve alta de 85%, passando de 1.743 km² destruídos para mais de 3.228 km².

Velha tendência pode afetar o futuro

Os aumentos consecutivos desde 2018 podem representar uma nova dinâmica que afetará a Amazônia, segundo o estudo. De acordo com o IPAM, o problema na atual gestão é regido pelo enfraquecimento de órgãos de fiscalização, falta de punição a crimes ambientais, retrocessos legislativos e redução de ações imediatas de combate e controle ao desmatamento.

Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Porto Velho, Rondônia. (Foto: Victor Moriyama / Amazônia em Chamas)

O levantamento também mostra as categorias fundiárias e os estados nos quais a derrubada de floresta tem se concentrado nos últimos seis anos, construindo um “antes e depois” da troca de gestão federal. 

Uma das regiões mais afetadas, segundo a pesquisa, é a divisa Amacro, entre Amazonas, Acre e Rondônia. Além disso, o estado do Amazonas passou da terceira para a segunda posição entre os que mais desmataram a Amazônia, ficando apenas atrás do Pará — que lidera a perda de floresta desde 2017.

Medidas para salvar a Amazônia

Diante do cenário preocupante, o estudo recomenda que haja combate à grilagem e às invasões de terras que resultam em desmatamento para benefícios privados. O artigo também ressalta a importância de salvaguardar terras indígenas e unidades de conservação com o apoio de economias de base florestal.

Outra necessidade é uma agenda de incentivo às boas práticas na agropecuária, que reduziria quase metade (49%) do desmatamento no Brasil. Uma delas é o pagamento por serviços ambientais (PAS), como o Conserv, mecanismo privado de adesão voluntária idealizado pelo IPAM para compensar produtores rurais por conservarem a vegetação nativa em suas propriedades.

“Políticas de valorização dos ativos ambientais, PAS e sistemas jurisdicionais de créditos de carbono em conjunto com o fomento às cadeias produtivas sustentáveis, têm grande potencial de estabelecer uma nova economia para a Amazônia”, defende Eugênio Pantoja, diretor sênior de Políticas Públicas e Desenvolvimento Territorial no IPAM.

Fonte: Galileu