Diversidade de plantas e localização afetam eficácia de telhados verdes

Cientistas climáticos da Nasa analisaram três locais de Chicago, nos EUA, para definir os fatores que influenciam a eficiência da vegetação na diminuição de temperatura das cidades

Diversidade de plantas e localização afetam eficácia de telhados verdes (Foto: CHUTTERSNAP/Unsplash)

Uma pesquisa feita por cientistas climáticos do Instituto Goddard de Estudos Espaciais
(GISS), da Nasa, utilizou dados de satélite para medir a eficácia de telhados verdes e folhagens urbanas na diminuição da temperatura nas cidades. Já se sabe que as cidades sofrem com ilhas de calor que acrescentam cerca de 12 graus Celsius às zonas urbanas, algo que não ocorre em zonas rurais e florestadas.

As ilhas de calor ocorrem nas cidades porque o asfalto, o concreto e outros materiais semelhantes absorvem e retêm significativamente mais calor do que a vegetação. Em locais com pouca vegetação, as pessoas que mais sofrem com esse fenômeno são os idosos e comunidades de baixa renda. “No contexto de ondas de calor mais frequentes e calor extremo, é importante que entendamos como essas intervenções de design urbano podem ser eficazes”, afirma, em nota, Christian Braneon, cientista climático e engenheiro civil da GISS.

Uma das soluções pregadas por anos para a diminuição dessas ilhas de calor é a inclusão de vegetação na parte superior de prédios (telhados verdes) ou no entorno de suas paredes. Essa vegetação pode ser extensiva, constituida por plantas que requerem pouca atenção e cuidado, ou intensiva, com plantas e árvores diversas que precisam de um solo profundo. 

Para conseguir quantificar a eficácia dos telhados verdes e folhagens, a equipe do GISS se juntou aos departamentos de Saúde Pública e Planejamento e Desenvolvimento da cidade de Chicago para estudar construções que tinham telhados verdes desde os anos 2000. Publicada no periódico Sustainable Cities and Society em 22 de março, a pesquisa analisou três locais de Chicago: o famoso Millennium Park, a prefeitura da cidade e um centro de compras.

Com os locais escolhidos, a única coisa que eles precisavam eram de dados sobre a temperatura de cada região ao longo dos anos. Para colher essas informações, o GISS utilizou imagens captadas entre os anos 1990 e 2011 pelo satélite Landsat 5, feito para monitorar a saúde das lavouras.

Imagem de um subúrbio em Atlanta capturada pelo Landsat 5 – mesmo satélite que foi usado no estudo de Chicago (Foto: NASA’s Scientific Visualization Studio / Greg Shirah)

Como parâmetro, os pesquisadores utilizaram as mudanças nas temperaturas da superfície da terra e as compararam com as mudanças dos locais de estudo que continham vegetação. Os locais próximos ao Millenium Park, à prefeitura de Chicago e ao shopping center que não aderiram vegetação em suas estruturas também foram comparados.

Os resultados foram diversificados e apenas dois dos três locais escolhidos apresentaram uma real baixa na temperatura. O Millennium Park teve temperaturas médias significativamente mais baixas após a instalação de vegetação, ocorrida em 2004. Os estudiosos atribuem isso à variedade de plantas no telhado verde intensivo do local e a proximidade do prédio com o lago Michigan.

A prefeitura apresentou temperaturas baixas após a instalação de telhados verdes intensivos, que aconteceu em 2002, mas, até o fim do estudo, foi observada uma tendência ao aumento de temperatura. Já no caso do shopping center, os telhados verdes não foram suficientes para compensar a perda de vegetação provocada pela construção do edifício.

Existem outras alternativas para resfriar as cidades, como usar tintas mais claras para pintar prédios, mas elas não têm as mesmas propriedades de resfriamento das vegetações. A eficiência dos telhados verdes estudados depende de vários fatores.  Alguns são a região geográfica do local, a diversidade das plantas — como no caso do Millenium Park — e, até mesmo, o sistema de resfriamento do próprio prédio.

Em nota à imprensa, a autora principal Kathryn McConnell comentou que o método simples de estudo com coleta de dados gratuitos do satélite foi feito para ser usado também em outras cidades em pesquisas adicionais. “Minha esperança é que os métodos que propomos mostrem uma maneira de baixo custo para pessoas que trabalham em cidades com menos recursos – que talvez não tenham acesso a uma universidade ou a pesquisas do governo – para estudar suas próprias comunidades”, disse McConnell. A maior disseminação de informação poderá ajudar os planejadores urbanos a avaliar o uso dos telhados verdes em suas próprias áreas.

Por conta da divergência de respostas dos três locais, será necessário um estudo com melhores detalhes. A pesquisa com os dados do satélite é promissora, já que ela ajuda a entender as variáveis que intensificam as ilhas de calor à medida que o clima da Terra aquece, além de abrir novos caminhos para estudos futuros.

Fonte: Galileu