O indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, correspondente do jornal The Guardian, estão desaparecidos desde domingo (5) no Vale do Javari, no Amazonas, segundo informa nota da União das Organizações Indígenas da região (Univaja).
Segundo a entidade, Pereira acompanhava Phillips em direção ao Lago do Jaburu para que o jornalista entrevistasse indígenas. Os dois chegaram no local em 3 de junho (sexta-feira). Dois dias depois, saíram logo cedo para a cidade de Atalaia do Norte, sendo vistos primeiro em uma parada na comunidade São Rafael, por volta das 6h da manhã. Porém, eles deveriam ter chegado em Atalaia do Norte entre 8h ou 9h do mesmo dia, o que não aconteceu.
A dupla viajava pelo rio Itaquaí com uma embarcação nova, abastecida com 70 litros de gasolina (suficiente para a viagem) e mais 7 tambores vazios de combustível. Há suspeita de que os dois colegas possam ter sido vítimas de um crime na área ameaçada por madeireiros e garimpeiros.
“Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, a equipe recebeu ameaças em campo. A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja”, relata o comunicado.
A região do desaparecimento
Segundo o Centro de Trabalho Indigenista (CTI), o Vale do Javari fica no extremo oeste do Estado do Amazonas e lá vivem povos como Mayuruna/Matsés, Matis, Marubo, Kulina Pano, Kanamari, além dos pequenos grupos Korubo e Tsohom Dyapá — ambos de recente contato. Dados de 2020 do site Terras Indígenas do Brasil, do Instituto Socioambiental, estimam que haja pelo menos 6,3 mil indígenas de 26 grupos vivendo no local.
A região tem sofrido ao longo da história com a exploração de seus recursos naturais, em especial borracha, madeira e peles de animais. Por causa de sua localização com a fronteira peruana, o vale tem sido alvo de caça e pesca ilegais, do narcotráfico e da exploração petroleira, de acordo com o CTI.
Demandas territoriais e ambientais
O Programa Javari do CTI realiza projetos em parceira com os indígenas Matis, Marubo, Mayuruna/Matsés, Kanamari e Kulina que habitam a terra. Uma série de ações são definidas por demandas identificadas em conjunto com os povos e suas associações.
Entre elas, estão estabelecer a autonomia dos indígenas no Vale do Javari em suas estratégias de controle territorial e reprodução sociocultural, além de valorizar a biodiversidade local, buscar alternativas econômicas auto-sustentáveis e influenciar políticas públicas de proteção do território e dos direitos dos grupos que lá vivem.
Outras reivindicações são o acompanhamento da equipe no debate e na consolidação dessas políticas relacionadas aos direitos indígenas e disponibilizar informações sobre as ameaças territoriais e demais assuntos de importância para os povos do vale.
Exigências culturais e étnicas
Além das questões ambientais, os povos indígenas querem ser atores em suas organizações para defenderem seus interesses. Entre as principais pautas culturais, eles desejam valorizar e incorporar a educação escolar indígena dos grupos do Vale do Javari, além dos próprios conhecimentos tradicionais de seus povos, como os Kanamari, Kulina, Marubo, Matis e Matsés/Mayuruna.
Nesse âmbito, a ideia é formar jovens e adultos em registros audiovisuais e coproduzir livros e materiais de divulgação sobre as práticas culturais e políticas locais. A atuação do CTI junto às populações tradicionais do vale começou em 2000, promovendo inclusive cursos de formação complementar para professores indígenas; oficinas temáticas nas aldeias; produção de pesquisas, materiais didáticos etc.
Fonte: Galileu