Cientistas descobriram uma população desconhecida de ursos polares vivendo isolada no sudeste da Groenlândia. Os animais, que sobrevivem apesar do derretimento de gelo marinho pelas mudanças climáticas, foram alvo de estudo publicado nesta quinta-feira (16) na revista Science.
De acordo com os autores da pesquisa, os ursos se adaptaram exclusivamente ao ambiente inóspito e são os mais geneticamente isolados do planeta. Isso os torna intrigantes para pesquisas sobre o futuro da espécie diante dos impactos do aquecimento global no Ártico.
Os pesquisadores combinaram sete anos de dados coletados ao longo da costa sudeste da Groenlândia com 30 anos de registros históricos de toda a costa leste da ilha. De acordo com a principal autora do estudo, Kristin Laidre, cientista polar da Universidade de Washington, a equipe já supunha haver alguns ursos polares na área.
Mas os cientistas não tinham conhecimento do quão especial era esse bando isolado de mamíferos. “Queríamos pesquisar essa região porque não sabíamos muito sobre os ursos polares no sudeste da Groenlândia, mas nunca esperávamos encontrar uma nova subpopulação vivendo lá”, diz Laidre, em comunicado.
A diferença genética entre o bando peculiar de animais e seu vizinho genético mais próximo é maior do que a observada para qualquer uma das 19 populações de ursos polares previamente conhecidas.
“Os ursos polares estão ameaçados pela perda de gelo marinho devido às mudanças climáticas. Essa nova população nos dá algumas dicas de como a espécie pode persistir no futuro”, conta a pesquisadora. “Mas precisamos ter cuidado ao extrapolar nossas descobertas, porque o gelo da geleira que possibilita a sobrevivência dos ursos do sudeste da Groenlândia não está disponível na maior parte do Ártico”, ela ressalva.
Segundo informa Beth Shapiro, geneticista que colaborou com o estudo, a população de ursos vive separada de outras há pelo menos várias centenas de anos — período no qual permaneceu sempre pequena em quantidade. O isolamento dos animais ocorreu, de acordo com os pesquisadores, porque eles vivem cercados por todos os lados: à oeste, ficam os picos das montanhas e a enorme camada de gelo da Groenlândia; à leste, estão as águas abertas do Estreito da Dinamarca e uma corrente costeira.
Além dos registros históricos, os pesquisadores coletaram dois anos de informações de caçadores de ursos e ainda usaram tecnologia de rastreamento por satélite. Ao localizarem fêmeas adultas, os equipamentos revelaram que o grupo isolado de animais era mais “caseiro” em comparação a outros que se arriscam viajando além do gelo marinho para caçar.
O gelo marinho em derretimento serve como palco onde a maioria dos 26 mil ursos polares do Ártico caça focas. Contudo, os que vivem no sudeste da Groenlândia têm acesso a esse gelo por apenas quatro meses, entre fevereiro e final de maio. Como alternativa, eles usam uma estratégia diferente: caçam as focas nos pedaços de gelo de água doce que se rompem no manto da ilha.
Os cientistas observaram que 50% dos 27 ursos rastreados flutuou acidentalmente a uma média de 190 km ao sul em pequenos blocos de gelo capturados na corrente costeira do leste da Groenlândia. Em seguida, os animais saltaram e caminharam de volta ao norte em terra até seu local de origem.
Os autores da pesquisa estimam que existam cerca de algumas centenas de ursos no sudeste da ilha, com fêmeas menores e com menos filhotes, o que pode acontecer por causa da dificuldade delas de encontrarem parceiros nessa complexa paisagem.
Laidre defende que seja feito um monitoramento de longo prazo para entender o que acontece com as populações isoladas de ursos. Embora considere as descobertas esperançosas, a cientista afirma não acreditar que as geleiras irão sustentar um grande número de animais. “Simplesmente não há o suficiente. Ainda esperamos ver grandes declínios nos ursos polares no Ártico sob as mudanças climáticas”, ela alerta.
Fonte: Galileu