Mais do que apenas ter paisagens exuberantes, a Floresta Amazônica também é capaz de “falar”. Os sons emitidos pelos animais – ou a falta deles – podem denunciar os danos no ambiente ao seu redor.
Cientistas do Centro de Voos Espaciais Goddard, da Nasa, e da Universidade de Maryland, ambos nos Estados Unidos, analisaram a acústica da Amazônia e descobriram que a paisagem sonora pode ser um ótimo indicador da saúde do bioma.
O estudo é liderado Danielle Rappaport, estudante de doutorado na Universidade de Maryland. Ela e sua equipe combinaram dados acústicos coletados a partir de diferentes métodos: sob o dossel da floresta, medições de altura das árvores por meio de voos de aeronaves, observações de exploração madeireira, focos de incêndios e dados de satélite.
Os resultados indicam que o ecossistema da Floresta Amazônica sofre com as atividades humanas. “Tenho trabalhado com florestas tropicais durante toda minha vida profissional. Eu nunca estive em uma floresta tão devastada. É algo que você pode cheirar, você pode ouvir, está em toda parte”, diz Rappaport, em comunicado.
De acordo com o estudo, em áreas que foram queimadas várias vezes, as gravações de ruídos de animais foram mais silenciosas do que em locais de floresta intacta. Com isso, a paisagem sonora ficou incompleta, indicando que as espécies que estavam presentes antes haviam desaparecido.
Analisando os sons
Para conseguirem chegar a esses achados, Rappaport e sua equipe instalaram gravadores áreas degradas para reunir um repertório de som mais completo e abrangente. Segundo os especialistas, o local estava extremamente castigado. A vegetação rasteira da floresta era espessa e difícil de navegar, e insetos os cercavam.
Quando analisadas em conjunto, essas gravações revelaram impressões digitais ecológicas únicas, ou “paisagens sonoras”. Espécies de sapos, insetos, pássaros e primatas ocupam um espaço de som de maneiras diferentes. “Você pode pensar na paisagem sonora animal como uma orquestra. As flautas ocupam um horário diferente do dia e uma faixa de frequência diferente dos oboés”, exemplifica a doutoranda.
Com isso, os pesquisadores puderam quantificar a saúde da floresta, analisando os sons com uma abordagem de teoria de rede. Através dos ruídos captados foi possível verificar e entender a relação entre o nível de impacto e a comunidade de espécies, sem exigir que elas fossem identificadas.
Além disso, eles também descobriram que as florestas queimadas repetidamente tinham menos biodiversidade do que aquelas foram derrubadas apenas uma vez. A cada incêndio florestal adicional, a paisagem sonora fica mais silenciosa. Mas, quando derrubada uma única vez, a paisagem sonora da floresta demonstra capacidade de recuperação da diversidade animal.
Conjunto de dados
Para saber onde colocar os gravadores e como interpretar a diversidade de paisagens sonoras, foram necessárias medições fornecidas pelo Light Detection and Ranging (Lidar) feitas entre 2013 e 2016, e os últimos 33 anos de registros de satélite Landsat.
Com isso, os cientistas criaram uma linha do tempo da cobertura florestal da Amazônia nas últimas três décadas e usaram o histórico de degradação florestal para determinar onde colocar os registradores.
Rappaport e sua equipe esperam que o trabalho abra uma nova compreensão sobre as ameaças à biodiversidade amazônica. “Estou fascinado com o que ainda temos que aprender”, afirma Doug Morton, cientista da Terra no Centro Goddard da Nasa e orientador de Rappaport no doutorado.
Fonte: Galileu