Já está aberta a chamada para a edição temática da revista Pesquisa Agropecuária Brasileira – PAB sobre “Agrominerais Regionais para a Produção Agropecuária”. O prazo para submissão de artigos científicos é o dia 30 de março de 2019. Os manuscritos deverão ser enviados em inglês, via sistema ScholarOne. A escolha do tema é uma demanda da Diretoria Executiva da Embrapa para fortalecer a discussão científica acerca da utilização dos agrominerais regionais – insumos de origem mineral (rochas) – no manejo do solo agrícola.
Segundo o editor da PAB, Edemar Corazza, o escopo da edição temática abrange informações relacionadas à prospecção e caracterização, mecanismos de liberação de nutrientes e transformações, rotas tecnológicas de produção e ainda, avaliação agronômica, o que inclui eficiência imediata e residual em comparação aos insumos (corretivos e fertilizantes) convencionais e viabilidade econômica. Mais detalhes sobre a preparação dos manuscritos, o escopo, critérios de análise e seleção podem ser obtidos aqui.
Os agrominerais regionais são insumos aplicados no manejo da fertilidade do solo, que se tornam economicamente viáveis quando consumidos na mesma região onde são produzidos. Como exemplos mais conhecidos da sociedade, podem ser citados o calcário e o gesso. A partir de 2013, com a promulgação da Lei 12.890/2013, os remineralizadores de solos passaram a ser definidos como uma nova categoria de insumo mineral. Esses recursos, que representam um tipo de agromineral regional, têm grande potencial para melhorar os solos de forma sustentável, já que são nativos do Brasil.
O pesquisador da Embrapa Cerrados Eder Martins explica que as maiores limitações dos solos nacionais são a acidez e a falta de macronutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio). Mais de 80% desses elementos são importados. No caso do potássio, essa quantidade chega a 95%. “A dependência desses insumos é um risco para a nossa agricultura”, constata Martins.
José Carlos Polidoro, chefe-geral da Embrapa Solos, concorda que uma das prioridades da pesquisa agropecuária brasileira, que deveria ser uma política pública no País, é diminuir a dependência em relação a insumos importados. Mas, destaca que é fundamental investir mais em estudos sobre os agrominerais. Até o momento vêm mostrando bom potencial como condicionadores de solo com capacidade de melhorar características químicas, físicas e biológicas, contudo ainda é muito cedo para falar deles como substitutos de fertilizantes.
Para Polidoro, a edição temática da PAB será muito importante, pois trará essa discussão à luz da ciência. O que se espera é que os dados científicos contidos nos artigos possam enriquecer o conhecimento técnico acerca dos agrominerais. “Esses recursos naturais têm grande potencial para a agropecuária brasileira como novos insumos ou matéria-prima para rotas industriais, mas carecem de comprovações científicas e a pesquisa demanda tempo. Hoje, eu classificaria esses ativos como 3 ou 4 na TRL (escala que mede o nível de maturidade da tecnologia) porque ainda estão em fase de pesquisa e desenvolvimento, mas acredito que possam chegar a escalas superiores (de 6 para cima) com grandes chances de validação e mercado”, afirma.
Solução alternativa de insumos para o manejo da fertilidade de solos agrícolas tropicais
Polidoro e Martins pontuam que os remineralizadores são insumos regionais capazes de melhorar os solos brasileiros em longo prazo, sobretudo em áreas com pastagens degradadas, com menos custos. Sem falar nas vantagens ambientais, entre as quais se destacam a capacidade de aumentar a retenção de água e a de fornecer nutrientes como potássio, cálcio e magnésio. O pesquisador da Embrapa Cerrados ressalta que os agrominerais regionais são capazes de aumentar a formação de minerais primários, mais ativos nas primeiras camadas de solos tropicais. “Para formar um centímetro de solo naturalmente, são necessários 1000 anos. Com esses insumos, esse tempo pode cair para 100 ou até 50 anos”, complementa.
Um estudo de conhecimento geológico aplicado, conduzido pela Embrapa em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) em 2018, constatou que os remineralizadores ocorrem em 20% do território brasileiro, o que potencializa seu uso em muitas regiões agrícolas do País.
MAPA cria normativa para agrominerais regionais
Esse estudo foi utilizado como base científica para a Instrução Normativa nº 5, publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em 10 de março de 2016, que estabelece regras para definição, classificação, especificação, registro, embalagem, rotulagem e propaganda dos remineralizadores destinados à agricultura. Outros órgãos, como a UnB, também participaram das pesquisas.
Todo o conhecimento acerca dos agrominerais é muito recente no País, como explicam Martins e Polidoro, mas tem crescido significativamente desde 2009, quando aconteceu o 1º Congresso de Rochagem (uso de rochas) na Agricultura, em Brasília. Esse evento é realizado a cada dois anos.
O próximo será em 2020, em Goiânia, e deverá coincidir com a finalização do número temático da PAB. “O compartilhamento de ideias e expertises é fundamental para alavancar as pesquisas nessa área no Brasil e contribuir para gerar novas tecnologias”, constatam.
Além da tendência e expectativa de maior sustentabilidade e viabilidade econômica desses insumos, vale destacar que podem ter impacto direto na geração de renda e emprego em diversos setores da economia das regiões brasileiras, como agricultura, geologia e mineração, entre outros.
Fonte: Fernanda Diniz