*Por Regina Magalhães
Em 2020, a adoção de critérios de Environmental, Social and Corporate Governance (ESG) tomou conta da agenda de investidores. Temos visto muitas discussões sobre o papel deles, mas ainda pouco sobre a visão de como as empresas devem atuar sobre esse tema. Neste artigo, vou abordar a relevância das questões ambientais, sociais e de governança para as companhias, independentemente da necessidade de acesso a capital ou crédito e mostrar que ESG deve ser uma estratégia de negócio a ser definida em cada organização.
Em primeiro lugar é importante lembrar que esse não é um tema novo para as empresas. Já nos anos 80 as companhias começaram a introduzir a gestão de riscos sociais e ambientais em sua agenda estratégica. Multas por não conformidade ambiental ou social e danos à reputação se tornaram riscos concretos para o desempenho financeiro e para a sobrevivência das empresas.
A partir do fim dos anos 90 e início dos anos 2000, as empresas começaram a responder para bancos a exigência de critérios sociais e ambientais como condição para a tomada de empréstimos, principalmente em projetos na modalidade project finance. Os Princípios do Equador (benchmark criado em 2003) instituíram uma forte massa crítica em bancos e grandes empresas para avaliação de riscos sociais e ambientais em grandes projetos.
Mas muita coisa mudou e a discussão sobre sustentabilidade ou ESG passou por uma grande evolução. Qual é a importância, atualmente, do uso de critérios ESG nas empresas? Se a gestão de riscos e reputação já foi o resultado mais importante, hoje, medir o retorno financeiro das ações sociais e ambientais é uma condição fundamental para a definição da estratégia a ser adotada.
O artigo publicado por Bob Eccles e Serafein em 2013 mostra que nem sempre a relação entre desempenho social e ambiental e desempenho financeiro é positiva. Ações de filantropia, responsabilidade social, mitigação de impactos negativos ou mesmo gestão de riscos podem ser estratégicas para as empresas, mas normalmente são ações que apresentam retornos financeiros nulos ou negativos, pelo menos no curto prazo. Elas geram retornos intangíveis, que dificilmente podem ser mensurados, e, por isso, é difícil justificá-los em momentos em que a redução de custos é necessária.
Com o aumento da percepção sobre a crise ambiental, a emergência climática, a escassez de água, a degradação dos solos e com o aumento da poluição, as empresas começaram a identificar ações que poderiam aumentar a eficiência ambiental, melhorar a produtividade dos negócios e reduzir custos. O desafio desses projetos era calcular o retorno sobre o investimento: quanto devo reduzir o impacto ambiental para gerar um retorno financeiro positivo.
Mas algumas empresas foram além disso. Há dez anos, quando Michael Porter e Mark Kramer publicaram na Harvard Business Review o artigo Creating Shared Value, várias empresas já estavam desenvolvendo negócios lucrativos que visavam solucionar problemas sociais, como produzir medicamentos, tratamentos de saúde ou alimentos nutritivos e acessíveis para populações de baixa renda. Além disso, alguns bancos começaram a identificar boas oportunidades de negócios com a criação de serviços financeiros mais acessíveis e adequados às necessidades de um público que, de maneira geral, não entrava em suas agências. A percepção quanto à urgência em reduzir a desigualdade tem chamado a atenção de grandes empresas e ampliado a criação de negócios orientados para esse fim.
A emergência climática é o outro grande tema desta década que se inicia agora. Várias empresas estão assumindo metas para neutralizar suas emissões. Com isso, as companhias de energias renováveis e de tecnologias de gestão de energia, de mobilidade elétrica, entre outras, estão ampliando seus negócios para atender a essa demanda e, assim, contribuir para a solução do maior desafio desta geração e também ter lucros. É uma nova visão de negócio.
A ideia antiga era criar um negócio lucrativo e gastar uma parte dos resultados para mitigar ou compensar os impactos negativos. O problema desse modelo é o conflito constante entre o lucro e o impacto.
A ideia que começou a surgir é criar um negócio lucrativo, cujo produto ou serviço em si gere impactos sociais ou ambientais positivos. O conflito desaparece na medida em que, se o negócio cresce e os lucros aumentam, automaticamente os impactos sociais ou ambientais se tornam mais positivos e com maior escala.
Portanto, a estratégia ESG ou de sustentabilidade de uma empresa não precisaria responder a pressões externas. As empresas têm a oportunidade de desenvolver negócios orientados para os próprios objetivos estratégicos e para a solução de problemas relevantes da sociedade. Essa é a tendência do empreendedorismo moderno.
*Regina Magalhães é diretora do Segmento de Mobilidade da Schneider Electric para América do Sul