Neide Campos / AmbienteBrasil
Preservar a biodiversidade brasileira, uma das mais ricas do mundo, transcende o respeito à vida, que deveria permear a trajetória de todos os cidadãos de bem. A cada dia, a Ciência descobre, na fauna e na flora, perspectivas de resolver – ou minimizar – males que assolam a saúde humana em todo o planeta.
Na última semana, a ONU (Organização das Nações Unidas) fez um alerta sobre a perda da biodiversidade. A extinção de milhares de animais e plantas pode acarretar o fim de medicamentos usados na farmacologia atual, que ajudam milhares de pessoas, além de impedir a descoberta de novas substâncias.
Um exemplo recente desse potencial da biodiversidade brasileira está nos estudos do professor Wagner Ferreira dos Santos, do Departamento de Biologia da USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto, a 319 km da capital paulista.
A pesquisa de uma molécula isolada do veneno da espécie Parawixia bistriata, aranha encontrada no cerrado brasileiro, se mostrou eficaz no controle do glutamato, aminoácido responsável pelas respostas rápidas aos estímulos.
O estudo, ainda em fase de testes em ratos, pode ser a chave para o tratamento de doenças do tecido nervoso, como alzheimer, epilepsia, acidente vascular cerebral, glaucoma e esquizofrenia.
“Esta substância, a parawixina 1, retira o L-glutamato que está fora dos neurônios do encéfalo, que em excesso é prejudicial e o coloca no interior destas células. Isto evita uma maior lesão do tecido nervoso”, explicou o professor Wagner a AmbienteBrasil.
Segundo ele, a parawixina 1 inibe convulsões induzidas experimentalmente em ratos e protege os neurônios da morte. Essa descoberta pode ser um avanço nos medicamentos atuais, que apenas diminuem a estimulação, mas não bloqueiam a morte celular dos neurônios.
Novos testes com a estrutura da molécula, ensaios de toxicidade, biodisponibilidade (velocidade e grau com que uma substância ativa é absorvida a partir de um medicamento), entre outros, ainda devem ser realizados. Após esses testes, os quais deverão ser validados no exterior, se houver interesse de alguma indústria farmacêutica, os ensaios devem ser feitos em humanos, que serão testados voluntariamente.
Infelizmente, ainda não há uma data para este futuro medicamento chegar ao mercado. Segundo o professor Wagner, o investimento público no laboratório que coordena é pequeno e, no Brasil, “nenhuma empresa se interessa realmente”.