As estruturas metálicas de armazenamento de grãos, conhecida como silos, são locais de depósito da colheita produzida, criado para permitir que o produtor tenha tempo de negociar o produto para venda e garantir um espaço que evite a ação de agentes físicos e biológicos sobre os grãos.
O trabalho em silos, devido às características de risco e periculosidade, está entre as atividades com maior número de acidentes fatais do país, ficando atrás dos trabalhos com risco de morte no trânsito.
Em um levantamento exclusivo da BBC News foram registrados ao menos 106 mortes desde 2009, causadas em sua grande maioria por soterramento em silos de grãos.
Os dados contabilizados utilizaram unicamente ocorrências registradas pela imprensa, o que pode indicar, segundo especialistas, uma ocorrência ainda maior do que o levantado.
Estas mortes são vistas como evitáveis, segundo o Sr. Idelberto Almeida, professor de Medicina do Trabalho da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu. Segundo ele, a maioria dos acidentes em silos ocorre quando medidas de prevenção não são adotadas ou não funcionam de forma adequada.
“As estratégias para evitar esses acidentes são amplamente conhecidas há pelo menos 15 anos”, declara Almeida.
Devido a atividade envolver um grande número de categorias de risco e Normas Regulamentadoras associadas a medidas de prevenção, a conscientização quanto ao cumprimento das normas, capacitações e treinamentos com foco em segurança do trabalho são essenciais.
No levantamento realizado, os três estados que tiveram maior número de mortes coincidem com os líderes do ranking de produção de grãos, sendo respectivamente os estados de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.
Das ocorrências já registradas, a principal causa verificada é o soterramento no silo, que mata o trabalhador asfixiado, após afundar nos grãos. Devido à pressão e pouca oxigenação, deixa o indivíduo incapacitado de subir à superfície, tal como o efeito “areia movediça”. Isto ocorre quando o trabalhador, sem estar com cordas de segurança fixas em pontos de ancoragem, é “engolido” durante atividades de limpeza e inspeções nos silos.
Em outra situação menos comum, o trabalhador é encoberto por avalanche de grãos. Isso ocorre quando as paredes do armazém se rompem, por falha estrutural, pondo em risco tanto os colaboradores dentro, quanto fora do silo. Além disso, pode ocorrer uma explosão no silo. Se o mesmo estiver com uma grande quantidade de pó de cereais, o calor, ou uma faísca, pode acionar a combustão dos gases acumulados no silo, fazendo com que o silo se rompa.
Em outros países com estudos realizados sobre o tema, como Estados Unidos, Argentina e China, foram analisadas como principais mortes o soterramento, avalanche de grãos e explosões.
As normas de segurança do trabalho exigem, dentre quase cem itens, o uso de equipamentos que impeçam o trabalhador de afundar – como cordas içadas – e o silo de explodir – como sistemas de ventilação e detectores de gases tóxicos. Em certas condições, o trabalhador somente deveria entrar no silo usando máscaras de oxigênio.
Infelizmente o país sofre com a falta de fiscalização e, na busca por maior produtividade, estes números tem se elevado ao longo dos últimos 10 anos.
Os registros demonstram que, além da falha no cumprimento das normas de segurança e a adequada fiscalização por parte do poder público, uma melhor classificação dos acidentes e fatalidades aos órgãos competentes deve ser realizada. Desta forma, será possível a criação de um maior conjunto de dados sobre os acidentes, a estruturação de normas específicas para a atividade e o aumento na divulgação de práticas preventivas de conscientização.
Com informações da BBC News e colaboração de Maria Beatriz Ayello Leite, Redação Ambientebrasil.
Para ler a publicação original da BBC News, acesse: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45213579